Tatiana Félix *
Adital - Dados divulgados pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC) revelaram que apenas nove mil vítimas do tráfico de seres humanos na Europa foram notificadas em 2006. Segundo a entidade, este número é trinta vezes menor do que o total de pessoas traficadas. De 2006 até agora, a realidade do tráfico parece estar ainda bem distante de ser alcançada.
Para fortalecer as ações de combate a este hediondo crime que acomete o mundo inteiro, o UNODC divulgou, no mês passado, um vídeo de treinamento direcionado aos profissionais da justiça criminal, como procuradores, juízes, agentes da lei e policiais, entre outros.
O vídeo ilustra as diferentes formas de tráfico humano e também será utilizado como uma ferramenta de sensibilização. O filme, por enquanto, está disponível apenas em Inglês. A previsão é de que versões em outras línguas oficiais das Nações Unidas estejam disponíveis no início de 2010.
De acordo com Adriana Maia, especialista em Tráfico de Seres Humanos do UNODC, a falta de dados reais sobre o tráfico de pessoas se dá pela ausência de denúncias sobre o crime. O motivo é o medo de represálias que tanto a vítima quanto a família podem sofrer. Ou ainda, por falta de informações concretas sobre os criminosos.
Ela explica que, no contexto do tráfico, as principais rotas estão na América Latina e na Europa. Segundo ela, as mulheres adultas são os maiores alvos para o tráfico internacional, já que têm mais facilidade na hora do trânsito do que as crianças.
A especialista informa que algumas regiões apresentam características mais acentuadas, como é o caso da América Latina, onde a exploração sexual é mais incidente tanto em casos de tráfico nos países do próprio continente, quanto em casos onde as vítimas latino-americanas são traficadas para a Europa, por exemplo.
Já dentro do continente europeu, o tráfico identifica-se também em situações de casamento e trabalho forçado. Em linhas gerais, a Europa é o destino de muitas estrangeiras traficadas para a exploração sexual comercial.
Adriana enfatiza que a mídia pode ser de valiosa ajuda no combate a este crime, divulgando informações a fim de conscientizar população em geral e vítimas em potencial. "É importante haver a divulgação sobre o que é o tráfico de pessoas, como acontece. É preciso ter ações de mobilização para a sociedade perceber situações estranhas", declara.
O alerta não é apenas para possíveis vítimas, aquelas pessoas que estão em busca de uma vida melhor, mas também para a sociedade. "A responsabilidade não é só do Estado, mas de todos", afirma. A prevenção e a denúncia podem vir de qualquer pessoa que suspeite de um caso estranho, mesmo que seja fora de sua família.
Para as potenciais vítimas, a especialista alerta que é preciso ter consciência e procurar saber se o empregador é idôneo ou se outras pessoas já trabalharam no local e como foi a experiência. Ela compara o caso a uma cirurgia onde o paciente procura saber o que irá acontecer com seu corpo e com sua vida.
"Todos temos a responsabilidade de passar a informação do que é tráfico. Devemos esclarecer nossas babás, empregadas e amigos, para que eles comentem e alertem cada vez mais pessoas", sugere Adriana.
Para Adriana, o governo brasileiro está avançando nos programas de combate ao tráfico. Porém ela ressalta que falta ainda ampliar a atuação nos núcleos estaduais e postos municipais, e também a divulgação sobre esse trabalho. "As pessoas precisam saber a quem recorrer para pedir ajuda, mesmo que esteja em situação ilegal em outro país", finaliza.
* Jornalista da Adital
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