Marsílea Gombata, Jornal do Brasil
A crise global tem se apresentado custosa não só aos Tesouros nacionais. Embates sociais e
xenofobia crescente marcam o momento da História em países da Ásia, América e Europa.
Como em um filme já visto, o desemprego entre nativos leva-os a disputar vagas antes de
imigrantes, alimenta rivalidades e nacionalismos exacerbados. Palco de intensos protestos nas últimas semanas, o Reino Unido assistiu a centenas de britânicos carregarem placas dizendo “empregos do Reino Unido para trabalhadores britânicos” e a entrarem em greve em uma refinaria cujos postos eram ocupados por italianos e portugueses. Sindicatos protestaram contra o governo, dizendo que nativos estavam sendo minados por estrangeiros com salários mais baixos.
imigrantes, alimenta rivalidades e nacionalismos exacerbados. Palco de intensos protestos nas últimas semanas, o Reino Unido assistiu a centenas de britânicos carregarem placas dizendo “empregos do Reino Unido para trabalhadores britânicos” e a entrarem em greve em uma refinaria cujos postos eram ocupados por italianos e portugueses. Sindicatos protestaram contra o governo, dizendo que nativos estavam sendo minados por estrangeiros com salários mais baixos.
As reações contra os trabalhadores estrangeiros ainda são pequenas, mas a tendência é aumentar – prevê Gabriela Boeing, da Organização para Migração Internacional, em Londres. – Com a crise e a decorrente diminuição de vagas, há pressão para que o governo proteja empregos dos nativos. No Reino Unido, que sempre defendeu o movimento de cidadãos europeus, as coisas estão mudando. Tem sido comum em pesquisas ver “imigrantes roubam nossos empregos”. É mais fácil culpar estrangeiros do que a política econômica. Secretário-geral da Solidarity Trade Union, do Reino Unido, Patrick Harrington explica que, apesar do conflito com trabalhadores estrangeiros, a “maior raiva é contra governo e empresários”: – É preciso escutar as demandas dos trabalhadores – explica. – Se não mudar, ações serão intensificadas.
Gabriela conta que o Reino Unido já está criando leis mais duras para controlar a imigração e,
segundo dados do Departamento do Trabalho e Pensão, nos últimos três anos houve um aumento
de 1,6 milhão para 2,32 milhões de trabalhadores estrangeiros no país. Na Espanha, onde o desemprego chega a quase 16%, os estrangeiros têm sofrido mais. – Por trabalharem com menos garantias, ficam no front do desemprego – explica Ivan Briscoe, do Centro de Pesquisa para a Paz, Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo Externo, na Espanha. – A tendência é a escalada de ressentimentos sociais entre os pobres: nativos e imigrantes.
Trabalhos que vinham sendo feitos por imigrantes – como serviços domésticos, de limpeza,
construção civil, agricultura – são cada vez mais disputados por espanhóis.
segundo dados do Departamento do Trabalho e Pensão, nos últimos três anos houve um aumento
de 1,6 milhão para 2,32 milhões de trabalhadores estrangeiros no país. Na Espanha, onde o desemprego chega a quase 16%, os estrangeiros têm sofrido mais. – Por trabalharem com menos garantias, ficam no front do desemprego – explica Ivan Briscoe, do Centro de Pesquisa para a Paz, Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo Externo, na Espanha. – A tendência é a escalada de ressentimentos sociais entre os pobres: nativos e imigrantes.
Trabalhos que vinham sendo feitos por imigrantes – como serviços domésticos, de limpeza,
construção civil, agricultura – são cada vez mais disputados por espanhóis.
O governo também está tomando medidas para diminuir o número de estrangeiros oferecendo
pacote de retorno voluntário, com adiantamento do seguro desemprego. Briscoe explica que, na Europa, há três situações distintas de países em crise. Pequenos como Lituânia, Letônia e Estônia encontram-se sob forte redução econômica e, ao lado de Islândia e Irlanda, têm tido tensão social. Em uma segunda categoria, Bulgária, Grécia e Itália, com falta de oportunidades. E, por fim, Espanha, França, Reino Unido – e Alemanha possivelmente – assistiram ao
crescimento de imigrantes e sofrem o que Briscoe chama de “crise de expectativa”, com
desestabilização. Na própria Alemanha, onde imigrantes representam importante parcela da mão-de-obra em vista do envelhecimento da população, “a crise aumentará a xenofobia se durar e terá repercussões”, crê Udo Ludwing, do Instituto de Pesquisa Econômica de Halle. – A crise reativa problemas deste tipo que têm sido uma constante histórica que certamente trarão mais manifestações sociais – prevê o peruano Danilo Martuccelli, da Universidade Lille 3, na França. – As situações não diferirão apenas por fatores econômicos, mas pela política, como a existência ou não de um partido populista.
pacote de retorno voluntário, com adiantamento do seguro desemprego. Briscoe explica que, na Europa, há três situações distintas de países em crise. Pequenos como Lituânia, Letônia e Estônia encontram-se sob forte redução econômica e, ao lado de Islândia e Irlanda, têm tido tensão social. Em uma segunda categoria, Bulgária, Grécia e Itália, com falta de oportunidades. E, por fim, Espanha, França, Reino Unido – e Alemanha possivelmente – assistiram ao
crescimento de imigrantes e sofrem o que Briscoe chama de “crise de expectativa”, com
desestabilização. Na própria Alemanha, onde imigrantes representam importante parcela da mão-de-obra em vista do envelhecimento da população, “a crise aumentará a xenofobia se durar e terá repercussões”, crê Udo Ludwing, do Instituto de Pesquisa Econômica de Halle. – A crise reativa problemas deste tipo que têm sido uma constante histórica que certamente trarão mais manifestações sociais – prevê o peruano Danilo Martuccelli, da Universidade Lille 3, na França. – As situações não diferirão apenas por fatores econômicos, mas pela política, como a existência ou não de um partido populista.
Nesse contexto, direitas radicais podem se fortalecer e ter maior autoridade, além de se
concentrar em bodes expiatórios sob a crise. Além Na China, trabalhadores imigrantes estão perdendo postos mais rapidamente que o esperado. Setores de construção, estaleiros e indústrias manufatureiras buscam manter o quadro de funcionários cada vez mais enxuto em Cingapura. No Japão, há três meses a crise fez renascer o preconceito contra grupos de imigrantes, em especial os brasileiros. Na Rússia, os 40% dos empregados no setor de
construção civil são, em sua maioria, provenientes de ex-países da União Soviética que temem ser demitidos. – Para a Rússia é ainda pior, pois o nível desse tipo de preconceito é alto, e leva ao crescimento de grupos violentos sem uma ação contrária do governo – explica Alexander Verkhovsky, do Sova, organização contra a xenofobia em Moscou. Nos EUA, a recessão se mostra um álibi para ativistas e parlamentares na luta contra a imigração.
concentrar em bodes expiatórios sob a crise. Além Na China, trabalhadores imigrantes estão perdendo postos mais rapidamente que o esperado. Setores de construção, estaleiros e indústrias manufatureiras buscam manter o quadro de funcionários cada vez mais enxuto em Cingapura. No Japão, há três meses a crise fez renascer o preconceito contra grupos de imigrantes, em especial os brasileiros. Na Rússia, os 40% dos empregados no setor de
construção civil são, em sua maioria, provenientes de ex-países da União Soviética que temem ser demitidos. – Para a Rússia é ainda pior, pois o nível desse tipo de preconceito é alto, e leva ao crescimento de grupos violentos sem uma ação contrária do governo – explica Alexander Verkhovsky, do Sova, organização contra a xenofobia em Moscou. Nos EUA, a recessão se mostra um álibi para ativistas e parlamentares na luta contra a imigração.
Fonte: http://jbonline.terra.com.br/nextra/2009/02/07/e07029790.asp - 07.02.2009
Resenha MIGRAÇÕES NA ATUALIDADE – nº 75, p. 12
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