sexta-feira, 15 de maio de 2009

Missão vai investigar trabalho escravo no Brasil

A ONU enviará em junho uma missão para investigar a questão do trabalho escravo no Brasil e o setor do etanol estará no centro da atenção da entidade. A relatora da ONU para o assunto, Gulnara Shahinian, avaliará a situação do País em uma visita de dez dias em várias cidades e regiões e fará um relatório com sugestões que o governo deve seguir. Nesta quinta-feira (07), o ministro de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, admitiu que o número de pessoas vítimas de trabalhos escravos é maior do que o próprio governo estimava. "Trabalhávamos com o número de 25 mil pessoas vítimas desse problema. Mas esse número estava errado, já que só as liberações realizadas pelos inspetores de trabalho foram superiores", disse.
Fontes na Organização Internacional do Trabalho (OIT) em Genebra estimam que o número é bem maior que os 25 mil, mas afirma não ter condições de divulgar suas avaliações. Além disso, admitem que o governo tenta impedir que um novo número - mais elevado - seja divulgado. Um dos pontos que será avaliado pela ONU é a situação do trabalho escravo no campo, principalmente na produção de cana-de-açúcar. Países ricos, em especial da Europa, vem pressionando para que selos sociais sejam estabelecidos no comércio do etanol, o que é rejeitado pelo Brasil.
Vannuchi acredita que, mesmo assim, os número de pessoas vivendo em uma situação análoga a escravidão está caindo. Ele, porém, não cita números. O governo brasileiro ainda tenta coordenar uma política com Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia para tentar lidar de forma coordenada com o problema. Dados da Comissão Pastoral da Terra apontam que o ano de 2008 registrou o maior número de denúncias sobre trabalho escravo, desde que a entidade iniciou o trabalho de registrar o problema, há 14 anos. No total, 280 denúncias foram registradas.
No mesmo ano, 5,2 mil pessoas foram liberados de condições de escravidão. A Comissão Pastoral da Terra informou que 48% deles estavam no setor sucroalcooleiro. Em 2007, 5,9 mil pessoas foram liberadas. Dados do próprio governo apontam que 2,4 milhões de crianças estão ainda trabalhando, o que representa 4% da população infantil. Por sua vez, o Ipea aponta que, mesmo mais de um século depois do fim da escravidão, a renda da população negra ainda é inferior à média nacional. Segundo cálculos do IPEA, levará ainda 32 anos para que os negros tenham o mesmo nível de renda que brancos no Brasil. Isso se o ritmo de avanço continuar nas mesmas taxas dos últimos cinco anos.
(Agência Estado - 09/05/09)

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