quinta-feira, 31 de março de 2011

Site do ACNUR lança página especial para celebrar aniversários das convenções sobre refúgio e apatridia

BRASÍLIA, 31 de março de 2011 - O site em português do Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) acaba de lançar uma página especial para celebrar os aniversários dos principais instrumentos legais internacionais de garantia dos direitos fundamentais de refugiados, solicitantes de refúgio e apátridas. Em 2011, estão sendo comemorados os 60 anos da Convenção Relativa ao Estatuto dos Refugiados de 1951e o 50º aniversário da Convenção para a Redução da Apatridia (1961). Além disso, também é celebrado os 150 anos de nascimento do norueguês Fridjof Nansen, o primeiro Alto Comissário para Refugiados da Liga das Nações.

A nova página, disponível no endereço http://acnur.org/t3/index.php?id=1019, traz documentos relativos à proteção de refugiados e apátridas no mundo (como a íntegra das Convenções), às lacunas legais de proteção e à participação da sociedade civil nas comemorações. Podem ser encontradas também informações sobre o Prêmio Nansen, reconhecimento concedido anualmente a indivíduos ou organizações por serviços dedicados aos refugiados, a campanha das Convenções sobre Apatridia e sobre o aniversário de 60 anos do ACNUR, comemorado em dezembro do ano passado.

Em termos globais, as comemorações deste ano se encerram com um encontro de nível ministerial em Genebra, nos dias 7 e 8 de dezembro de 2011. Este encontro será importante para que os Estados formalizem suas adesões às convenções de refúgio e apatridia, apresentando também compromissos para resolver, de forma objetiva, questões específicas sobre deslocados à força e apátridas.

Com essas comemorações o ACNUR pretende dar visibilidade ao tema do refúgio e fortalecer o sistema internacional de proteção às vítimas de deslocamento forçado.

ACNUR Brasil
Assessoria de Comunicação
Fone: (61) 3044.5744
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quarta-feira, 30 de março de 2011

Moradia e trabalho são principais desafios para refugiados e solicitantes de refúgio no Brasil

BRASÍLIA, 29 de março (ACNUR) - A falta de moradia e o acesso ao mercado de trabalho são os principais desafios enfrentados atualmente pelos refugiados e solicitantes de refúgio que vivem no Brasil. Esta avaliação foi feita pelo próprios refugiados por meio do Diagnóstico Participativo, um processo de consultas conduzido anualmente pelo Alto Comissariado da ONU para Refugiados (ACNUR) com a participação das populações sob seu mandato e das agências implementadoras dos projetos do ACNUR.

Neste ano, cerca de 200 refugiados e solicitantes de refúgio participaram do exerício, que aconteceu em diferentes pontos do país, como São Paulo, Porto Alegre, Manaus e Rio Branco - entre outras cidades. Por meio do Diagnóstico Participativo, os refugiados e solicitantes de refúgio apontam suas necessidades de proteção e soluções para seus problemas, além de boas práticas, ampliando a participação deles no planejamento das operações do ACNUR e dos seus parceiros.

Além de moradia e trabalho, temas como educação e documentação também foram discutidos. Os refugiados e solicitantes de refúgio também ressaltaram problemas de discriminação e saúde. Durante o exercício, os refugiados foram divididos em grupos com base em critérios de idade, gênero e origem.

Os resultados do Diagnóstico Participativo são usados pelo ACNUR e seus parceiros como insumos para o planejamento estratégico referente ao período 2012-2013. A reunião de planejamento estratégico reuniu a Associação Antônio Vieira (ASAV), a Cáritas Arquidiocesana do Rio de Janeiro, de São Paulo e de Manaus, o Centro de Defesa dos Direitos Humanos (CDDH) e o Instituto Migrações e Direitos Humanos (IMDH).

Segundo o Comitê Nacional para Refugiados (CONARE), o Brasil tem hoje 4.500 refugiados. Desses, 64,5% provém da África, 22,4% de países da América e 10,6% da Ásia.

Leia a íntegra desta notícia em http://www.acnur.org/t3/portugues/
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José Alencar

José Alencar
"A humildade não está na pobreza, não está na indigência, na penúria, na necessidade, na nudez e nem na fome".

Na semana passada, o vice-presidente da República, José Alencar, de 77 anos deu início a mais uma batalha contra o câncer.

É o 11º tratamento ao qual se submete.

*Desde quando o senhor sabe que, do ponto de vista médico, sua doença é incurável?
JA - Os médicos chegaram a essa conclusão há uns dois anos e logo me contaram. E não poderia ser diferente, pois sempre pedi para estar plenamente informado. A informação me tranquiliza. Ela me dá armas para lutar. Sinto a obrigação de ser absolutamente transparente quando me refiro à doença em público. Ninguém tem nada a ver com o câncer do José Alencar, mas com o câncer do vice-presidente, sim. Um homem público com cargo eletivo não se pertence.

*O senhor costuma usar o futebol como metáfora para explicar a sua luta contra a doença. Certa vez, disse que estava ganhando de 1 a 0. De outra, que estava empatado. E, agora, qual é o placar?
JA - Olha, depois de todas as cirurgias pelas quais passei nos últimos anos, agora me sinto debilitado para viver o momento mais prazeroso de uma partida: vibrar quando faço um gol. Não tenho mais forças para subir no alambrado e festejar.

*Como a doença alterou a sua rotina?
JA - Mineiro costuma avaliar uma determinada situação dizendo que "o trem está bom ou ruim". O trem está ficando feio para o meu lado. Minha vida começou a mudar nos últimos meses. Ando cansado. O tratamento que eu fiz nos Estados Unidos me deu essa canseira. Ando um pouco e já me canso. Outro fato que mudou drasticamente minha rotina foi a colostomia (desvio do intestino para uma saída aberta na lateral da barriga, onde são colocadas bolsas plásticas), herança da última cirurgia, em julho. Faço o máximo de esforço para trabalhar normalmente. O trabalho me dá a sensação de cumprir com meu dever. Mas, às vezes, preciso de ajuda. Tenho a minha mulher, Mariza e a Jaciara (enfermeira da Presidência da República) para me auxiliarem com a colostomia. Quando, por algum motivo, elas não podem me acompanhar, recorro a outros dois enfermeiros, o Márcio e o Dirceu. Sou atendido por eles no próprio gabinete. Se estou em uma reunião, por exemplo, digo que vou ao banheiro, chamo um deles e o que tem de ser feito é feito e pronto.Sem drama nenhum.

*O senhor não passa por momentos de angústia?
JA - Você deveria me perguntar se eu sei o que é angústia. Eu lhe responderia o seguinte: desconheço esse sentimento. Nunca tive isso. Desde pequeno sou assim, e não é a doença que vai mudar isso.

*O agravamento da doença lhe trouxe algum tipo de reflexão?
JA - A doença me ensinou a ser mais humilde. Especialmente, depois da colostomia. A todo momento, peço a Deus para me conceder a graça da humildade. E Ele tem sido generoso comigo. Eu precisava disso em minha vida. Sempre fui um atrevido. Se não o fosse, não teria construído o que construí e não teria entrado na política.

*É penoso para o senhor praticar a humildade?
JA - Não, porque a humildade se desenvolve naturalmente no sofrimento. Sou obrigado a me adaptar a uma realidade em que dependo de outras pessoas para executar tarefas básicas. Pouco adianta eu ficar nervoso com determinadas limitações. Uma das lições da humildade foi perceber que existem pessoas muito mais elevadas do que eu, como os profissionais de saúde que cuidam de mim. Isso vale tanto para os médicos Paulo Hoff, Roberto Kalil, Raul Cutait e Miguel Srougi quanto para os enfermeiros e auxiliares de enfermagem anônimos que me assistem. Cheguei à conclusão de que o que eu faço profissionalmente tem menos importância do que o que eles fazem. Isso porque meu trabalho quase não tem efeito direto sobre o próximo. Pensando bem, o sofrimento é enriquecedor.

*Essa sua consideração não seria uma forma de se preparar para a morte?
JA - Provavelmente, sim. Quando eu era menino, tinha uma professora que repetia a seguinte oração: "Livrai-nos da morte repentina". O que significa isso? Significa que a morte consciente é melhor do que a repentina. Ela nos dá a oportunidade de refletir.

*O senhor tem medo da morte?
JA - Estou preparado para a morte como nunca estive nos últimos tempos. A morte para mim hoje seria um prêmio. Tornei-me uma pessoa muito melhor. Isso não significa que tenha desistido de lutar pela vida. A luta é um princípio cristão, inclusive. Vivo dia após dia de forma plena. Até porque nem o melhor médico do mundo é capaz de prever o dia da morte de seu paciente. Isso cabe a Deus, exclusivamente.

*Se recebesse a notícia de que foi curado, o que faria primeiro?
JA - Abraçaria minha esposa, Mariza e diria: "Muito obrigado por ter cuidado tão bem de mim".

Não sou muito fã de política, muito menos dos nossos políticos no Brasil, mas esse senhor a gente precisa tirar o chapéu, ele é um exemplo de determinação, de fé e de força...

Heloisa Maria R. da Cunha

Refugiados da Costa do Marfim já somam 116 mil, chegando aos vizinhos

GENEBRA, 29 de março de 2011 (ACNUR) - A crise política na Costa do Marfim, que já obrigou mais de 100 mil marfinenses a deixar o país, está se disseminando no oeste da África. Um número crescente de novas cegadas foi registrado nos países vizinhos de Gana e Togo, disse hoje em Genebra o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).

Enquanto a cidade de Abidjan, no sul da Costa do Marfim, passa por um momento de relativa calma, novos enfrentamentos ocorreram ontem no oeste, centro-oeste e leste do país. No oeste, novos conflitos foram reportados na cidade de Duékoué, a qual tem experimentado várias ondas de violência desde dezembro. As hostilidades alcançaram também a cidade de Daloa, distante 100 quilômetros do leste de Duékoué, e de Bondoukou, próxima à fronteira com Gana.

“O ACNUR continua negociando com ambos os grupos para que os civis sejam protegidos dos danos”, afirmou nesta terça-feira, em Genebra, a porta-voz do ACNUR, Melissa Fleming.

Na vizinha Libéria, o município de Grand Gedh registrou mais de 10 mil novas chegadas de marfinenses somente na semana passada, majoritariamente nos distritos de Gbarzon e Tchein. Entre 300 e 400 pessoas continuam chegando diariamente, e os refugiados contam ao ACNUR que muitos mais estão a caminho.

“Muitas pessoas dizem ter deixado membros de sua família para trás, incluindo crianças. Para chegar à Libéria, eles cruzam o rio Cavally com poucos pertences pessoais e, geralmente, nenhum dinheiro. Alguns carregam apenas algumas trouxas em suas cabeças”, afirmou Fleming.

Lugares remotos e de difícil acesso fazem com que os funcionários do ACNUR só possam registrar refugiados e distribuir itens de ajuda humanitária em uma localidade de cada vez. A agência está trabalhando com o Programa Mundial de Alimentos para assegurar a distribuição de comida e a provisão de alimentos energéticos para os recém chegados.

Segundo o ACNUR, 24,5 mil refugiados estão neste momento em Grand Gedeh, contabilizando 22% do total de 112 mil refugiados marfinenses que fugiram para a Libéria desde a erupção da crise após as eleições presidenciais de novembro.

Na fronteira leste da Costa do Marfim, Gana recebeu mais de três mil novos refugiados, a maior parte proveniente de Abidjan e seus subúrbios. O ACNUR estabeleceu um centro de acolhida transitório na fronteira de Elubo, além de um campo de refugiados na cidade de Ampain com capacidade para três mil pessoas. A agência está provendo alimentação e itens de ajuda enquanto corre para completar os trabalhos nas instalações sanitárias, de água e saúde.

O ACNUR continua buscando, junto com as autoridades locais, um segundo local para construir um campo ainda maior. Fleming observou que, “embora o número de refugiados em Gana seja relativamente pequeno, a rápida deterioração das condições na Costa do Marfim requer que estejamos preparados para um maior influxo. Nos próximos dias, seis funcionários da nossa equipe de emergência chegarão à região”.

Ainda mais ao leste, em Togo, cerca de 850 marfinenses - majoritariamente homens - também encontraram segurança na capital Lomé. Eles fugiram através dos distritos mais populosos e perigosos de Abidjan, como Abobo, PK-18, Adjame, Williamsville e Yopougon. Alguns deles relataram ao ACNUR que suas propriedades foram saqueadas e que foram agredidos fisicamente. Várias mulheres afirmaram terem sido estupradas.

No total, aproximadamente 116 mil marfinenses fugiram para oito países do oeste da África desde o início da crise pós-eleitoral. Além de Libéria, Gana e Togo, Guinéa, Bukina Faso, Benin e Nigéria também receberam refugiados da Costa do Marfim.

Dos US$ 97 milhões que o ACNUR precisa para conduzir esta resposta de emergência, os doadores custearam, até o momento, US$ 20 milhões.

Para mais informações sobre a crise na Costa do Marfim, entre em contato com:

Bernadette Kouame (em Abidjan): celular +225 06 73 75 59
Sulaiman Momodu (em In Monrovia): celular +231 649 38 62
Ewurabena Hutchful (em Accra): celular +233 244 33 19 25
Fatoumata Lejeune-Kaba (em Genebra): celular +41 79 249 3483

Leia mais em: www.acnur.org.br
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Entidades pedem proteção dos povos indígenas isolados

Tatiana Félix
Jornalista da Adital
Adital
A constante violação de direitos dos povos indígenas que vivem isolados em selvas e florestas de países da América Latina tem preocupado entidades que atuam na defesa dos direitos desta população. Apesar de terem seu direito a terra reconhecido em convenções internacionais, o modo de vida dos indígenas não tem sido respeitado.

Empresas petroleiras, madeireiros ilegais e outros exploradores, facilitados pela falta de ações dos governos, acabam não só prejudicando as terras, como também o modo de vida e a saúde dos indígenas com suas atividades devastadoras. Os povos indígenas isolados são vulneráveis a qualquer tipo de contato, já que eles não têm imunidade com as doenças ocidentais, segundo apontam estudos. Por isso, a situação desta população é preocupante, já que eles correm perigo de extinção pelas doenças e pela perda de seu território.

Diante deste cenário, o Comitê Indígena Internacional para a Proteção dos Povos em Isolamento e Contato Inicial da Amazônia (CIPIACI), o Gran Chaco e a Região Oriental do Paraguai propuseram a criação de um mecanismo de prevenção e monitoramento regional da situação dos direitos desta população.

Durante uma audiência pública realizada na última sexta-feira (25) diante da Comissão Internacional dos Direitos Humanos (CIDH), Jaime Corisepa, coordenador geral do CIPIACI, falou sobre as propostas que visam garantir e proteger os direitos dos povos indígenas em isolamento. Ele ressaltou a necessidade de se promover medidas concretas em nível dos estados membros da Organização dos Estados Americanos (OEA), no sentido de sensibilizar os governos quanto à questão.

Para ele, a CIDH deve promover a aplicação de políticas que visem a proteção desta população, e os estados devem paralisar imediatamente as ações que afetam de direta ou indiretamente a integridade territorial dos povos em isolamento, e assim, frear os processo de genocídio contra os indígenas isolados, sofridos por meio de contatos forçados, invasão territorial e assassinatos.

De acordo com Mikel Berraondo, advogado assessor do CIPIACI, os principais problemas que afetam estes povos indígenas se referem à violação de direitos à vida, saúde, território e acesso à justiça. Ele disse que a situação dos indígenas que vivem em isolamento é semelhante no Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador, Paraguai e Peru.

"Os povos indígenas em isolamento estão sofrendo uma situação de extermínio paulatino, que leva a seu desaparecimento físico e cultural. Em todos os países da região amazônica e o 'gran chaco' paraguaio tem uma violência sistemática a estes grupos, eles são assediados e perseguidos para que abandonem suas terras. Estão sendo produzidos processos de genocídio", analisou.

Em uma tentativa de proteger o direito de viver dos povos indígenas isolados que vivem no Peru, o movimento indígena Survival pede o empenho de governos, organizações e população para que ajudem a impulsionar uma campanha que visa garantir a sobrevivência dos indígenas isolados. A entidade pede também que o governo peruano proteja esta população não permitindo práticas de exploração dos recursos naturais das terras indígenas.

A entidade salientou que toda ação é fundamental e orientou os interessados em contribuir com a causa a colaborarem por meio de doações, cartas de sensibilização ao governo e mobilizações pró-indígenas.

Dados

O Equador é o único país que conta com uma norma que penaliza o contato forçado entre os povos em isolamento voluntário e outras comunidades. Na Colômbia, os Nukab Maku são uma das etnias que sofre perdas não só de terra, mas de também de pessoas, com a invasão de seus territórios no marco da violência interna. Já no Brasil, as principais ameaças às comunidades originárias em isolamento estão relacionadas à construção de hidrelétricas e a invasão de mineiros.

Apesar de o governo do Peru ter destinado cinco reservas territoriais para povos em isolamento, o país não tem demonstrado empenho para implementar mecanismos de proteção para estes povos. A Survival estima que exista no Peru algo em torno de 15 povos indígenas que vivem nas regiões mais remotas e isoladas da selva amazônica.

Para saber mais e ajudar na campanha da Survival, acesse: http://www.survival.es/indigenas/aisladosperu#actnow

Fukushima – nas ‘rotas alteradas’ um desafio à migração

IMDH
Instituto Migrações e Direitos. Rede Solidária para Migrantes e Refugiados
Adital
Por William César de Andrade e Ir. Rosita Milesi
Disponibilizada no site www.migrante.org.br


"Pensem nas crianças/Mudas telepáticas / Pensem nas meninas
Cegas inexatas/ Pensem nas mulheres / Rotas alteradas”

Não há meio de comunicação que não esteja noticiando a catástrofe que se abateu sobre o Japão. As imagens são fortes, indicam destruição, mortos e uma usina nuclear se desfazendo. Contra as imagens não há o que dizer e, de fato, ficamos impactados com o volume da tragédia e o sofrimento do povo. E frente aos efeitos da catástrofe nuclear, todos nós estamos correndo riscos de contaminação, tendo em vista que a nuvem radiativa formada a partir do desastre segue ao sabor dos ventos fazendo seu caminho.

Os números são inexatos –neste momento são mais de 8 mil mortos e quase 10 mil desaparecidos- porque divulgados com parcialidade e sempre incompletos. Mas é preciso lembrar que o número das vítimas diretas do terremoto/tsunamis e desastre nuclear disputa espaço com as notícias de que a Bolsa de Valores (o índice Nikkei) caiu assustadoramente nos últimos dias - mais de 10%, e as empresas japonesas amargam prejuízos. O que os números não revelam é o drama humano de vidas perdidas ou colocadas em extrema vulnerabilidade, famílias que perderam quase todas as suas referências de uma vida sem tribulações: moradia, trabalho, acesso aos equipamentos públicos, laser, vida religiosa... e que só lhes restou migrar para não morrer ou sofrer lentamente os impactos da invisível, porem não menos danosa radiação.

O terremoto e os tsunamis estão dentro da ‘normalidade’ geológica da região, ainda que assuste a magnitude no tremor e o tamanho das ondas. Ainda assim podem ser enquadrados dentro dos riscos habituais que corre a população que vive numa área tão instável. O inexplicável é sem dúvida alguma, a catástrofe que se seguiu, com as explosões e falência da usina nuclear de Fukushima. Será mesmo inexplicável?

A escolha da matriz energética é uma ação do governo, foi uma opção entre outras! E as consequências decorrentes de falhas no funcionamento de qualquer uma delas trás algum tipo de consequência. Nas demais matrizes existentes (eólicas, das marés, solar, hidráulica, geotérmica, etc.), as repercussões acabam circunscritas a uma região ou na pior das hipóteses a um país. Contudo, não é isso o que ocorre com um desastre nuclear, e Chernobyl já havia mostrado como é incontrolável o processo de difusão da radiação uma vez lançada na atmosfera. Engana-se quem imagina um único ponto no céu que viaja carregando a morte (a idéia de nuvem). O que se tem é um fluxo radioativo que, ao sabor dos ventos poderá chegar a milhares de quilômetros do Japão.

Desde as primeiras notícias do desastre na usina nuclear, intensificou-se a movimentação populacional na região. População que já estava sobre o impacto do terremoto/tremores secundários e dos tsunamis que se seguiram. Mesmo que se tenha falado em áreas de exclusão (espaço para a formação de um perímetro seguro), isso não significou redução no sofrimento das pessoas ou a possibilidade de retomada da normalidade de suas vidas.

Os estrangeiros que viviam e trabalhavam na região da tragédia nuclear estão sendo repatriados, com maior ou menor eficiência por seus países de origem. É obvio que estão deixando para trás empregos, projetos pessoais, sonhos e muitos sequer conseguirão voltar ao Japão para retomar o caminho que vinham percorrendo. Em cada país é preciso acompanhar de perto como e em que medida de prontidão esse socorro humanitário está sendo prestado. Isso se agrava na medida em que a radiação avança sobre outras regiões do Japão.

São em torno de 270.000 os brasileiros e brasileiras que vivem no Japão, trazer os que desejam voltar ao Brasil ou apoiar os que decidirem permanecer por lá, é uma grande questão. Assegurar que seus direitos humanos sejam respeitados é um desafio do qual não podemos fugir. A ajuda humanitária precisará se dar de forma diversificada e ao mesmo tempo precisará contar com as parcerias e colaboração que pudermos oferecer. Neste sentido cabem ações de organismos internacionais, governos e da sociedade civil, em favor de todos quantos, seja qual for a nacionalidade, estiverem expostos às consequências destas catástrofes, sejam elas naturais ou decorrentes da ação humana.

Iniciamos essa reflexão com o poema "Rosa de Hiroshima” de Vinicius de Morais. Nele estão refletidos alguns dos mais vulneráveis à bomba atômica: crianças, meninas e mulheres. De fato, estão fora deste poema os homens e os idosos. Durante a Grande Guerra Mundial os homens jovens e adultos estavam nos exércitos e morriam nas batalhas, enquanto os idosos pereciam de fome, frio ou das inúmeras doenças resultantes desta realidade. A atenção do poeta, foi colocada no futuro prejudicado por um presente de destruição. A radiação penetra no interior das células, altera o DNA e por diversos caminhos destrói a vida, seja por meio do câncer – em suas diversas formas, seja pela má-formação fetal. O curso da vida é colocado em Xeque.

Além do desafio da solidariedade, temos outros apelos aos quais não podemos deixar de dar respostas, dentre eles destacamos três:

a) A humanidade precisa realmente da matriz energética baseada em metais radiativos a cuja exposição, seja pela radiação emanada por uma usina defeituosa, seja a partir de resíduos que por séculos continuam ativos, produzem enfermidades e morte?
b) Os sistemas de alerta para catástrofes naturais precisam estar assegurados como um direito coletivo a ser implementado com uma efetiva política pública de segurança para toda a população. Junto com os sistemas preventivos, obviamente devem estar os mecanismos de amparo e proteção às vítimas, inclusive assegurando-lhes todos os direitos fundamentais da pessoa humana. Como efetivar isto como política de Estado, principalmente quando já se sabe do risco de aumento das catástrofes em razão das mudanças climáticas?
c) A migração forçada por catástrofes, sejam elas naturais e/ou provocadas pela imprevidência humana, notadamente dos governos e da especulação que transforma tudo em mercadoria, não precisa ser marcada pela perda de direitos e ruptura da própria dignidade. A migração, mesmo nestas circunstâncias, não retira direitos ou obrigações cidadãs, mas exige um olhar que vá além dos limites das políticas estabelecidas e que supere qualquer outra forma de entrave que dificulte a assistência, a acolhida e a garantia de direitos. De fato será que não chegou a hora de pensarmos prá valer na cidadania universal?

Japão: Hiroshima outra vez

Maria Clara Lucchetti Bingemer
Teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio
Adital
Parece incrível que isso tenha acontecido com um país tão desenvolvido, como o Japão, e um povo tão disciplinado e ordenado como o japonês. De repente toda a população sobressaltada, passando do sobressalto à dor, e após constatar-se a si mesmo em vida, ter que viver com uma ameaça permanente sobre a cabeça. Que rastros danosos e mortais terão deixado a irradiação em seus corpos e vidas?

A comparação com a tragédia de Hiroshima é inevitável. Há, porém, uma diferença fundamental. Esta foi provocada por agentes externos, enquanto agora o detonador se encontrava dentro do próprio corpo do belo arquipélago japonês. Foi de dentro de suas entranhas que o Japão viu surgir o monstro que lançou a destruição sobre seu território e agora exibe sequelas a serem rastreadas entre seu povo.

O fato é que após os tremores e o tsunami, o Japão está sob sério risco de explosões nucleares. As autoridades, extremamente preocupadas, informam que a possibilidade de uma nova explosão é muito alta, pois a usina nuclear de Fukushima sofreu sérios danos durante o terremoto do último dia 11 de março e no dia seguinte, sábado, 12, explodiu pela primeira vez.

Ninguém duvida que o disciplinado povo japonês esteja tomando medidas para evitar nova explosão. No entanto, se esta acontecer, o reator nuclear será irremediavelmente danificado, afirma o porta-voz do governo japonês. E ainda que a nova explosão não aconteça, a Companhia Elétrica de Tóquio informa que os níveis de radiação ao redor da usina já estão acima dos limites permitidos. Houve a tentativa de refrigerar o núcleo radiador com água do mar, mas não foi eficaz.

Com grande eficiência, os cerca de 170 mil moradores da área foram retirados. No entanto, cerca de 20 pessoas foram comprovadamente expostas à radiação e recebem tratamento. E mais longe o medo cresce: e a água? E os rios? E os alimentos e plantações? Não estará tudo também contaminado, provocando uma super contaminação em série exponencial como há anos em Chernobyl, na Ucrânia, cujos moradores até hoje sofrem as consequências nefastas do acidente nuclear?

O número de mortos vítimas do terremoto e do tsunami no Japão já passa de 10 mil. Histórias comoventes de sobrevivências aparentemente impossíveis, como as da avó e do neto, de 16 anos, soterrados na cozinha de casa e resgatados após 9 dias emocionam o mundo.

É o mundo inteiro que treme com o Japão. É o coração de toda a humanidade que bate por Fukushima como bateu por Hiroshima. No entanto, não basta compadecer-se e sofrer em comunhão com o povo japonês e os estrangeiros que lá se encontram e foram colhidos de surpresa pela catástrofe. É preciso aprender as lições das tragédias. E uma dessas lições é que sistemas tão complexos como reatores nucleares não são totalmente seguros. Ao contrário, são extremamente vulneráveis e não é possível à ciência e à técnica humanas, por mais avançadas que sejam, prevenir e evitar acidentes que porventura possam acontecer.

A energia nuclear não é segura. E isso exige que os países que a usam façam uma séria reavaliação sobre seu uso. De todas as desvantagens e negatividades, a maior de todas é o enorme risco que representa para o meio ambiente e a vida humana. A radioatividade é, sem dúvida, o flanco aberto da energia nuclear. Especialmente perigosa, causa não apenas mortes imediatas como em Chernobyl, mas doenças letais – o câncer e outras – que se manifestam anos depois.

Por isso, alguns países optaram por excluir a energia nuclear das opções de seu sistema. Outros, como o Japão a mantiveram. Passaram-se 25 anos sem acidentes e a confiança da humanidade na segurança dos reatores foi crescendo. Agora, o caso japonês foi um duro golpe sobre esta confiança e credibilidade. O nobre povo japonês saboreia os frutos amargos dessa escolha.

Que a lição de Fukushima plante firme em nossas mentes e corações que a ciência e a técnica necessitam de limites e vigilância ética. Incessantemente e sempre. Mesmo quando tudo parece tranquilo e sem riscos. Pois qualquer coisa que ameace a vida humana não pode ser positiva, mesmo que traga avanços e progressos de qualquer tipo.

Num mundo onde tudo é profano, só uma coisa é sagrada: a humanidade, criatura querida e dileta do Criador. Preservá-la é o dever mais sagrado de todo ser humano em tudo que puder e desejar produzir e inventar. Que a dor do Japão nos ensine isso em todas as partes do globo terrestre.

[Maria Clara Bingemer é autora de "A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética" (Ed. Garamond), entre outros livros.
Copyright 2011 – MARIA CLARA LUCCHETTI BINGEMER - É proibida a reprodução deste artigo em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização. Contato – MHPAL – Agência Literária (mhpal@terra.com.br)]

Ficha-limpa vira ficha-suja

Pe. Alfredo J. Gonçalves
Assessor das Pastorais Sociais.
Adital
Gabriel García Marques, prêmio Nobel da literatura representa um dos principais expoentes do realismo latinoamericano, notadamente com a obra Cien años de soledad. Entre seus títulos menores, porém, figura o livro Crônica de uma morte anunciada. O título serve bem para comentar a trajetória acidentada da Lei da ficha-limpa. No dia 23 de março/2011, o Supremo Tribunal Federal (STF) por 6 votos a 5, anulou sua aplicação para as eleições de 2010, beneficiando com isso todos os políticos de ficha suja eleitos no último pleito.


Seguindo a inspiração do escritor colombiano, não é exagero falar de uma crônica de um fracasso anunciado. Se, por um lado, a Lei da ficha-limpa procura resgatar a ética na política, impedindo a eleição dos que estejam condenados por algum tipo de crime, por outro, encontra resistência nos setores mais retrógrados e corruptos da sociedade brasileira. Como lei que nasceu da iniciativa de um projeto popular, ela ajuda a quebrar o privilégio das elites brasileiras quanto ao ato de "fazer política”. O exercício do bem comum não é monopólio dos políticos de carteirinha, eleitos ou filiados a determinado partido. É dever e direito de todo cidadão! Infelizmente, como podemos notar, a iniciativa popular que "se meter nos negócios da política” bate de frente com vícios históricos e estruturais, profundamente arraigados na prática dos "donos do poder”, para usar a expressão de Raymundo Faoro.

Uma vez mais, estupefata e indignada, a sociedade brasileira assiste a uma decisão do Judiciário em sua instância superior, que se coloca na contramão da crescente consciência política dos cidadãos. Também caminha na contramão dos fundamentos básicos de uma democracia sólida, madura e efetiva. A opinião popular, através de instrumentos de participação como plebiscito, abaixo-assinados, projetos de lei, etc. é requisito indispensável à consolidação da prática democrática. A decisão do STF, adiando a validade da Lei da ficha-limpa, representa um duplo revés: ao mesmo tempo que frustra as expectativas alimentadas pelo esforço de milhares de eleitores, como diz um representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), confere novo fôlego ao vírus da corrupção e do mau uso do poder, que não raro se nutre da riqueza indevidamente adquirida, além de incentivar o tráfico de influência no campo minado da "politicagem”.

Como se não bastasse, a decisão do STF reveste os eleitos de ficha-suja da famigerada "imunidade parlamentar”, atrás da qual se escondem inúmeros crimes que, em não poucos casos, nada têm a ver com o exercício da política. Automaticamente, os processos são engavetados e os criminosos de colarinho branco seguem desfilando ostensivamente pelos corredores do Congresso Nacional, da Assembleias Legislativas e das Câmaras Municipais, quando não no espaço da mídia e das páginas dos jornais. Já para os criminosos comuns, a lei costuma ser um carrasco implacável, de dedo em riste, apontando ameaçadoramente o castigo: "cadeia neles!”. A essa altura, inevitavelmente, surgem emergem à tona os conceitos de promiscuidade entre os três poderes e de corporativismo das classes dominantes. Apesar de uma memória tradicionalmente curta, o povo não esqueceu ainda o recente aumento de mais de 60% aprovado para os altos escalões do Executivo, Judiciário e Legislativo. A conclusão inevitável é que, lamentavelmente, a balança do poder judiciário trabalha com "dois pesos e dias medidas”.

O golpe de Estado, seus herdeiros e a criminalização do protesto social

Miriam Miranda
Coordenadora da Ofraneh
Adital
Tradução: ADITAL

Ontem (28), fui capturada de forma seletiva por agentes do Ministério de Segurança em meio a um protesto nas imediações das comunidades garífuna de Triunfo de La Cruz. No processo de ser presa, dispararam sobre mim várias bombas lacrimogêneas no abdome, causando-me queimaduras no estômago; posteriormente, fui arrastada pelo asfalto ao mesmo tempo em que era golpeada pelos policiais, que proferiam insultos raciais.

A operação, dirigida pelo Sub-Comissário Víctor Sánchez Bonilla, que, em meio à multidão, me assinalou para os seus subalternos para que eu fosse a única a ser capturada demonstra a estratégia por parte das forças repressoras de focalizar a dirigentes como objetivos militares.

Cabe mencionar que, após ser capturada, me levaram diretamente a uma cela da prisão de Tela, sem fazer requerimento, sem atenção médica às queimaduras e aos efeitos da intoxicação que sofri por inalar o gás das bombas lacrimogêneas. Somente duas horas e meia após ter sido presa leram meus direitos, sem que dissessem porque me acusavam. Posteriormente, a Juiz Executora do plantão me informou que eu era acusada de sedição.

Em Honduras, continua o caos no qual se sumiu o país após o golpe de Estado de 2009, perpetrado pelo poder judicial, pelo Legislativo e pelas Forças Armadas, sob as instruções da direita estadunidense e, lógico, pelo Pentágono.

Apesar dos sorrisos plásticos dos funcionários estatais e sua avidez em conseguir o reconhecimento internacional, a criminalização do protesto social tem se aguçado com o regime de Porfirio Lobo, o que, de forma sinistra, desata uma campanha de descrédito contra sua administração por parte das organizações de direitos humanos.

Graças à solidariedade e pressão internacional, da comunidade Garífuna e de hondurenhxs conscientes da crise existente, me foi concedida a liberdade "provisória”. Os agentes da justiça de Honduras, diante das pressões, viram-se obrigados a cumprir seu dever. No entanto, nas prisões isoladas do país estão confinados inúmeros presos políticos, como é o caso dos 18 professores que, nesse momento, guardam prisão na capital da República.

O recrudescimento da violência contra a resistência popular é parte da cátedra de segurança ditada pelo sátrapa colombiano Álvaro Uribe, assessor para a repressão, e que, há poucas semanas ditou uma conferência em El Salvador sobre a "segurança democrática”, da qual participaram o Sr. Porfirio Lobo e seu delfim Óscar Álvarez. A colombianização da América Central é reafirmada pela Iniciativa Mérida e a militarização que sofremos.

Ao som do ano internacional dos ‘afrodescendentes’, os garífunas de Honduras sofremos uma acelerada expulsão de nossos territórios que habitamos há 214 anos. Enquanto isso, algumas organizações de afrodireita se aliaram ao regime repressor e pretendem festejar os despojos territoriais que estão se dando tanto na África quanto na América Latina, através de uma suposta Cúpula Mundial de Afrodescendentes, que serve de instrumento e maquiagem à violência do atual governo e a suas políticas neoliberais.

A partir da Assembleia dos Povos da Terra e do Mar(*), realizada em fevereiro de 2011, na comunidade de Durugubuti Beibe, os povos indígenas e negros de Honduras reafirmamos a defesa de nossos territórios, o direito à autonomia, o respeito ao direito à consulta e suspender de imediato a construção das represas hidrelétricas no rio Patuca: sentença de morte pra o povo Tawahka e para o país.

Muitíssimas graças de novo à solidariedade nacional e internacional e ao movimento de todas e todos; o que aconteceu ontem demonstra que as ações a tempo alcançam resultados positivos.

Por uma Honduras Livre, pluricultural, democrática, participativa, antimilitarista, antirracista e antipatriarcal.

Assembleia Nacional Constituinte já!

La Ceiba, Março 29 de 2011.

(*) Leia em espanhol, a Declaração da Assembleia dos Povos da Terra e do Mar.

terça-feira, 29 de março de 2011

Refúgio nos países industrializados cai em 2010

GENEBRA, 28 de março de 2011 (ACNUR) - O número de solicitantes de refúgio nos países industrializados continuou caindo em 2010, chegando quase à metade do nível no começo deste milênio.

Este é um dos principais pontos do relatório que o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) divulga hoje sobre o perfil das solicitações de refúgio em 44 países industrializados.* O documento se refere a novos pedidos, sem mostrar dados acumulativos sobre quantos indivíduos já são reconhecidos como refugiados nestes países.

De acordo com o relatório do ACNUR, mais de 350 mil solicitações foram apresentadas nos países industrializados no ano passado - 5% menos que em 2009, e 42% menos que em 2001, quando cerca de 620 mil pedidos foram feitos.

“A dinâmica global do refúgio está mudando. As solicitações de refúgio nos países industrializados são muito menores que há uma década, e os crescimentos anuais são verificados em poucos países”, afirmou o Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres. “Precisamos estudar as causas deste processo para saber se a redução se deve a uma melhoria das condições nos países de origem ou a um controle migratório mais estrito nos países de acolhida”.

Números caem na maioria das regiões

No ano passado, o número total de pedidos de refúgio foi o quarto mais baixo da última década. Reduções anuais foram observadas na maioria das regiões, incluindo Europa, América do Norte e norte da Ásia. Na Europa, o declínio mais acentuado ocorreu no sul do continente, onde os pedidos caíram 33% em comparação a 2009. Isso se deve a uma quantidade menor de solicitações apresentadas em Malta, Itália e Grécia. Mas o impacto desta redução foi minimizado pelo aumento de pedidos em outros países, especialmente Alemanha (49%), Suécia (32%), Dinamarca (30%), Turquia (18%), Bélgica (16%) e França (13%). Nos países nórdicos, o aumento na Dinamarca e na Suécia foi compensado pelo declínio substancial na Noruega (-42%) e Finlândia (-32%).

Entre continentes, somente a Oceania teve um maior número de pedidos de refúgio comparado com 2009. Austrália recebeu mais de 8 mil solicitações, um aumento de 33%. Contudo, as solicitações no país estiveram bem abaixo do nível registrado em outros países industrializados e não industrializados, e foram um terço menor que em 2001.

Estados Unidos é principal país de destino

Entre países, os Estados Unidos continuam sendo o maior país de abrigo pelo quinto ano consecutivo, respondendo por um em cada seis pedidos de refúgio nos países industrializados analisados no relatório do ACNUR. Os Estados Unidos observaram um aumento de 6,5 mil solicitações, em parte devido ao aumento do número de solicitantes de refúgio mexicanos e chineses.

A França manteve sua posição como segundo país que mais recebeu novos pedidos de refúgio, com 47,8 mil solicitações em 2010 - a maioria originária da Sérvia, Rússia e República Democrática do Congo. Alemanha ficou em terceiro lugar, com um aumento de 49% no número de pedidos. No caso alemão, o aumento pode ser atribuído parcialmente aos solicitantes de refúgio da Sérvia e da antiga República Iugoslava da Macedônia. Este processo deve-se à retirada, desde dezembro de 2009, da necessidade de visto para nacionais desses países para entrar na União Européia.

Suécia e Canadá ocuparam o quarto e o quinto lugar, respectivamente. Juntos, os cinco primeiros países respondem por mais da metade (56%) de todos os pedidos de refúgio analisados neste relatório.

Mais solicitantes da Sérvia

Em relação aos países de origem, o maior grupo de solicitantes em 2010 veio da Sérvia (quase 20 mil, incluindo Kosovo). O país registrou um aumento de 54% comparado a 2009, quando ocupou a sexta posição. Vale destacar que o número de soli citantes de refúgio em 2010 foi comparável a 2001, logo após a crise em Kosovo.

O Afeganistão caiu para o segundo lugar, com uma queda de 9% comparado ao ano anterior. Diferentemente de 2009, quando solicitantes afegãos foram acolhidos em sua maioria por Noruega e Reino Unido, em 2010 mais pedidos foram registrados na Alemanha e Suécia. Solicitantes chineses compõem o terceiro maior grupo em 2010, devido especialmente a uma queda no número de solicitantes do Iraque e da Somália. Pela quinta vez desde 2005, o Iraque não esteve entre os dois principais países de origem de solicitantes de refúgio, caindo para a quarta posição e sendo seguido pela Federação Russa.

Contextualizando os últimos números com as recentes crises na Costa do Marfim e Líbia, Guterres observou que “no geral, é o mundo em desenvolvimento que abriga a maior parte dos refugiados. Mesmo devendo enfrentar muitos outros desafios, países como Libéria, Tunísia e Egito mantiveram suas bordas abertas para aqueles que precisam de ajuda. Eu peço a todos os países que os apóiem”.

*Os 44 países industrializados incluídos neste relatório são: os 27 países da União Européia, além de Albânia, Austrália, Bósnia e Herzegovina, Canadá, Croácia, Islândia, Japão, República da Coréia, Liechtenstein, Montenegro, Nova Zelândia, Sérvia, Suíça, Turquia, Estados Unidos e a ex República Iugoslava da Macedônia.

O relatório completo “Asylum Levels and Trends in Industrialized Countries 2010” está disponível no site do ACNUR: www.unhcr.org/statistics

Leia mais em: www.acnur.org.br
ACNUR Brasil
Assessoria de Comunicação
Fone: (61) 3044.5744
Fax: (61) 3044.5705
e-mail: informacao@unhcr.org

Tráfico, exploração doméstica e sexual

Várias organizações
Adital
Indígenas vítimas de exploração doméstica e sexual e de tráfico humano em Roraima.

Nós, representantes da Pastoral Indigenista e da Sociedade Civil Organizada de Roraima, do Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes e da Comissão Internacional de Encontros de Fronteiras das Igrejas Católicas de Brasil, Venezuela e Guiana Inglesa, defendemos a vida e somos contra todo tipo de violência e escravidão.

Apoiamos a iniciativa do Instituto INSIKIRAN e afirmamos que as denúncias que os alunos dessa instituição relatam na carta são verdadeiras. A escravidão e a injustiça contra os povos indígenas ainda existem neste Estado. Nos últimos anos, tem aumentado o número de casos de vítimas da exploração doméstica e sexual e do tráfico humano e existem casos de jovens indígenas que são exploradas, aliciadas por pessoas da Guiana Inglesa e da Venezuela e traficadas para os Estados Unidos da América. O estado de Roraima foi identificado como rota caribenha, onde as meninas são levadas também para a Europa.

Afirmamos também a dificuldade das autoridades competentes, quanto à abertura do processo investigativo, seja pela deficiência de estrutura e incompetência, para dar uma resposta efetiva à sociedade roraimense, devido à ausência de provas suficientes. Além de Roraima encontrar-se entre duas zonas de fronteiras, Guiana Inglesa e Venezuela, ambos os países possuem garimpos ilegais, locais de prostituição e drogas, sendo fácil o acesso aos dois países.

Não basta ter terra demarcada e homologada sem a garantia dos direitos constitucionais mais fundamentais: a vida e a liberdade das pessoas. Em quarenta anos de luta organizada, o movimento indígena de Roraima tem conseguido a demarcação e homologação da maioria de suas terras, faltado apenas Anaro, Lago da Praia e Arapuá. Porém, ainda há muito caminho a percorrer e novos desafios a enfrentar. "A luta continua!”.

24 de março de 2011.

Assinam a nota:

Pastoral Indigenista de Roraima
Sociedade Civil organizada de Roraima
Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes
Comissão Internacional de Encontros de Fronteiras das Igrejas Católicas de Brasil, Venezuela e Guiana Inglesa.

[Fonte: Conselho Indigenista Missionário – Cimi].

Pesquisa censitária identifica quase 24 mil crianças e adolescentes em situação de rua

Karol Assunção
Jornalista da Adital
Adital
Quase 24 mil crianças e adolescentes estão em situação de rua no Brasil. Isso é o que revela a Primeira Pesquisa Censitária Nacional sobre Crianças e Adolescentes em Situação de Rua, realizada entre maio e junho do ano passado. O estudo, apresentado neste mês ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), servirá de subsídio para aperfeiçoar as políticas públicas voltadas para essa parcela da sociedade.

O levantamento indica que 23.973 crianças e adolescentes estão em situação de rua. Dessas, 71,8% são do sexo masculino e 28,2% do sexo feminino. A maioria dos/as entrevistados/as declarou ser pardo/a ou moreno/a (49,2%) e estudou até a 4ª série (39%).

Um dos pontos da pesquisa que se destacam é o trabalho infantil. Vendas de produtos de pequeno preço, como balas e chocolates, lavagens e limpezas de vidros de carros e coletas de materiais recicláveis são algumas atividades realizadas por meninos e meninas para conseguir dinheiro, seja para próprio sustento ou para o da família.

Direitos básicos, como alimentação e estudo também não estão plenamente efetivados para essa população. De acordo com a pesquisa, 13,8% das crianças e dos adolescentes em situação de rua não se alimentam diariamente e 56,3% não estavam estudando na época do levantamento dos dados.

Outro destaque do censo é o relacionamento familiar entre as crianças e os adolescentes e os familiares. Segundo a pesquisa, mesmo em situação de rua, a maioria dos menores de idade (52,2%) retorna para a casa da família para dormir; outros (6,9%) dormem em casas de parentes ou amigos. Da mesma forma, a maior parte dos entrevistados (55,5%) declarou que mantêm um relacionamento bom ou muito bom com os pais.

Entretanto, um dos principais motivos apontados por aqueles que deixaram de dormir na casa da família foi a violência, como: brigas verbais com pais, mães e irmãs/ãos (32,2%); violência doméstica (30,6%); e violência e abuso sexual (8,8%).

Com informações do Portal da Criança e do Adolescente

Lições que aprendi com Pe Comblin: liberdade e a história

Jung Mo Sung
Coord. Pós-Graduação em Ciências da Religião, Universidade Metodista de São Paulo
Adital
O falecimento do Pe Comblin nos faz enfrentar uma realidade inevitável: a primeira geração (provavelmente a mais criativa e rigorosa) da teologia da libertação está aos poucos chegando ao limite da vida. Uma forma de homenagear pessoas como Comblin é continuar a tarefa de uma reflexão crítica séria comprometida com a causa dos pobres e também de divulgar o seu pensamento para novas gerações de estudante de teologia ou de agentes pastorais.

Pensando nisso é que resolvi escrever este pequeno texto. Mas é uma tarefa muito difícil escrever em uma página o que significou a pessoa e a obra de Pe Comblin para as igrejas cristãs na América Latina e também para muitos não cristãos que conheceram, por ex., o seu livro "A ideologia de segurança nacional”. Por isso, eu quero simplesmente compartilhar algumas idéias de Comblin que me marcaram nos últimos 30 anos.

Se há uma palavra que marcou a minha leitura da vastíssima obra de Comblin é a liberdade. Ele disse: "Segundo a Bíblia, a liberdade é mais do que uma qualidade, um atributo de ser humano: é a própria razão de ser de humanidade.” E a afirmação de Paulo de Tarso, "Foi para a liberdade que Cristo nos libertou (Gal 5,1)” pode ser visto como o mote que guiou a sua obra. Esta busca de liberdade, que impulsiona a luta pela libertação, não pode ser confundida com uma visão moderna burguesa da liberdade. "Não é livre aquele que diz que faz o que quer, mas, na realidade, não sabe resistir à pressão dos desejos, tornando-se escravo dos objetos que excitam o seu desejo.” Nestes casos, a liberdade pressupõe a libertação dos desejos individuais e a sua realização no assumir o serviço e a causa em favor dos mais pobres.

A sua reflexão crítica não era direcionada somente à visão burguesa da vida e da liberdade, mas também a outras teses presentes no nosso meio. Já na década de 1960, quando muitos do cristianismo de libertação estavam descobrindo o marxismo e o utilizando nas análises sociais e nas propostas políticas, Comblin criticava filosofias da história que anunciam um caminhar necessário da história humana para a erupção do Reino da Liberdade (marxismo) ou para "cristificação do universo” (inspirado em Teilhard de Chardin), quando começaria a verdade história humana, plena de harmonia. A sua crítica constituía em duas idéias centrais: a) a liberdade não pode nascer da necessidade; isto é, se a histórica caminha necessariamente para um ponto, este não é liberdade porque processos históricos necessários não podem gerar a liberdade, pois não haveria opção de não chegar; b) esta visão de que após a "revolução final” iniciaria a verdadeira história humana é um mito que desqualifica a história humana a uma pré-história.

A sua reflexão a partir da liberdade se aplica também sobre a noção de Deus. Para ele, a tradição bíblica difere da tradição Greco-Ocidental que busca em Deus o fundamento da ordem atual ou da nova ordem a surgir necessariamente (Deus como motor criador da nova ordem). "Na Bíblia, todavia, tudo é diferente porque Deus é amor. O amor não funda ordem, mas desordem. O amor quebra toda estrutura de ordem. O amor funda a liberdade e, por conseguinte, a desordem. O pecado é conseqüência do amor de Deus.”

"Que Deus é amor e que a vocação humana é a liberdade são as duas faces da mesma realidade, as duas vertentes do mesmo movimento”. Segundo esta forma de ver Deus e o sentido da existência humana, Deus, não é mais um ser todo-poderoso que impõe sobre o mundo a sua vontade conduzindo a história para um fim já pré-estabelecido. Uma visão presente não somente em setores conservadores, mas também em diversos setores considerados "progressistas” e eco-socialmente engajados. Deus vem ao mundo como alguém que se fez impotente diante do ser humano livre: "esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana” (Fl 2,7).

Para Comblin lutar pela libertação e uma vida de liberdade não é lutar por um mundo sem mal, pois não é possível vivermos a liberdade sem a possibilidade do mal e do pecado. Deus fez o mundo tal que o pecado é uma possibilidade inevitável. Por isso, ele retoma um texto bíblico muito citado por Juan Luis Segundo, "Já estou chegando e batendo à porta. Quem ouvir minha voz e abrir a porta, eu entro em sua casa e janto com ele, e ele comigo” (Ap 3,20) e diz: "se ninguém abrir, Deus aceita a derrota sabendo que sua criação fracassou. Deus criou um mundo que podia fracassar.”

Essas palavras mostram uma característica de Comblin que sempre admirei: a sua coragem profética de dizer coisas que podem contrariar nossos desejos românticos, desejos que nos levam para fora da história humana e do ser humano real. Assim, ele cumpriu com a sua obra um dos propósitos da teologia da libertação: ser uma reflexão crítica sobre o mundo idolátrico e também sobre a nossa religiosidade e experiência de fé, a serviço da liberdade-libertação dos mais pobres.

[Autor de "Sujeito e sociedades complexas”, Vozes; no twitter: @jungmosung].

José Comblin: Bruxelas, 22/03/1923 - Bahia, 27/03/2011

Pe. José Oscar Beozzo
Coordenador geral do Cesep (Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular). Vigário da Paróquia São Benedito em Lins. Membro e ex-presidente do Cehila (Comissão de Estudos da História da Igreja no Brasil e na América Latina)
Adital
Estimados amigos e amigas do Fórum de Participação,

É com tristeza que comunico a vocês que, na manhã de hoje, domingo, dia 27 de março, depois de completar 88 anos, nesta semana, faleceu no interior da Bahia, onde estava assessorando grupos de base, o amigo e mestre de todos nós, José Comblin.

Levantou-se cedo, tomou banho, aprontou-se, mas não apareceu para a oração da manhã. Procuram-no e o encontraram-no sentado no quarto e já morto.

Rezemos por ele que dedicou praticamente toda sua vida ao povo e à Igreja da América Latina, no Brasil, no Chile e no Equador e em centenas de assessorias por todos os países. Ele veio para o Brasil em 1958, junto com o Pe. Michel Schooyans e o Pe. Laga, todos doutores por Lovaina, mas que foram dar aulas no seminário menor, para onde os mandou o Bispo Paulo de Tarso!

Esteve conosco antes da Conferência de Aparecida, analisando a situação e dando- nos todo apoio, para as iniciativas do Fórum.

Perdemos um mestre e um guia inquieto e exigente como os velhos profetas, denunciando sempre nossas incoerências na fidelidade aos preferidos de Deus: o pobre, o órfão, a viúva, o estrangeiro. Trabalhou por uma Igreja profética a serviço destes últimos nas nossas sociedades.

Que ele siga nos inspirando e acompanhando.

Sentiremos e muita sua falta.

Um abraço fraterno para todos vocês. Rezemos pelo Comblin, sua família e as igrejas e comunidades que o acolheram, em especial, Talca de Dom Larrain, no Chile, Dom Proaño em Riobamba, no Equador e, no Brasil, Recife do Dom Helder, Paraíba do Dom José Maria Pires e agora Dom Cappio, em Barra, no sertão da Bahia, onde estava residindo.

José Oscar

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Segue abaixo pequena biografia e bibliografia retirada da Wikipedia.

Nasceu em Bruxelas, na Bélgica, em 1923. Ordenou-se sacerdote em 1947. É doutor em Teologia pela Universidade Católica de Louvain.

Trabalha na América Latina desde 1958. Desembarcou em Campinas, estado de São Paulo, onde lecionou Química e Física para o curso colegial. Posteriormente foi assessor da Juventude Operária Católica, tornando-se professor da Escola Teológica dos Dominicanos em São Paulo, tendo como alunos Frei Betto e Frei Tito. Aí permaneceu até 1962. A seguir lecionou na Faculdade de Teologia do Chile até 1965. A convite de D. Hélder Câmara, foi para Recife, onde foi professor do Instituto de Teologia do Recife. A partir de 1969 esteve à frente da criação de seminários rurais em Pernambuco e na Paraíba. A metodologia utilizada para os seminários era adaptada ao ambiente social dos seminaristas. Esta experiência lançou as bases para a Teologia da Enxada. Suas idéias o colocaram sob suspeita do regime militar. Foi expulso do Brasil em 1971. Exilou-se no Chile durante 8 anos, onde também esteve à frente da criação de um seminário em Talca, em 1978. Em seu livro A Ideologia da Segurança Nacional, publicado em 1977, destrinchou a doutrina que servia de base para os regimes militares na América Latina. Foi expulso por Pinochet em 1980. De volta ao Brasil, radicou-se em Serra Redonda (Paraíba), onde fundou um seminário rural e esteve à frente da formação de animadores de comunidades eclesiais de base. A metodologia para os seminários foi aprovada pelo papa Paulo VI. No pontificado de João Paulo II tal metodologia foi desaprovada e por isso, encerrada.

Criou vários movimentos missionários leigos: Missionários do Campo (1981), Missionárias do Meio Popular (1986), Missionários de Juazeiro da Bahia (1989), na Paraíba (1994) e em Tocantins (1997).

Teólogo de vasta experiência, lecionou no Equador, Chile e Brasil. Sua obra é vasta e polêmica. Atualmente é considerado um dos maiores expoentes da teologia da libertação vivendo no Brasil. Reside há vários anos no sertão do Estado da Paraíba.

Alguns livros publicados

* Le Pouvoir Militaire en Amérique Latine. L’Idéologie de la Securité National. Paris, Éditions Jean Pierre Delarge, 1977.
* Théologie de la Révolution. Paris, Universitaires, 1970.
* Teologia da Libertação, Teologia Neoconservadora e Teologia Liberal. trad. port., Petrópolis, Editora Vozes, 1985.
* Teologia da Reconciliação. Ideologia ou Reforço da Libertação. trad. port., Petrópolis, Editora Vozes, 1986.
* A Força da Palavra. trad. port., Petrópolis, Editora Vozes, 1986.
* Antropologia Cristã. trad. port., Petrópolis, Editora Vozes, 1990.
* Viver na cidade - Pistas para a pastoral urbana. São Paulo: Editora Paulus, 1997. ISBN 8534906408.
* Curso básico para animadores de comunidades de base. São Paulo: Editora Paulus, 1997. ISBN 8534904421
* Cristãos rumo ao século XXI - Nova caminhada de libertação. São Paulo: Editora Paulus, 1997. ISBN 8534905347
* A nuvem do não-saber. São Paulo: Editora Paulus, 1998. ISBN 8534912416.
* Vocação para liberdade. São Paulo: Editora Paulus, 1998.
* Desafios dos cristãos do século XXI. São Paulo: Editora Paulus, 2000. ISBN 8534917043.
* NEOLIBERALISMO (O) - Ideologia dominante na virada do século. Perópolis: Editora Vozes, 2001. ISBN 8532622909
* Os desafios da cidade no século XXI. São Paulo: Editora Paulus, 2002. ISBN 8534920192.
* PASTORAL URBANA - O dinamismo na evangelização. Petrópolis: Editora Vozes, 3ª edição: 2002. ISBN 8532622534.
* O povo de Deus, São Paulo: Editora Paulus, 2002. ISBN 8534918333
* O Caminho - Ensaio sobre o seguimento de Jesus. São Paulo: Editora Paulus, 2004. ISBN 8534922527.
* Quais os desafios dos temas teológicos atuais?. São Paulo: Editora Paulus, 2005. ISBN 8534923817.
* O que é a verdade?, São Paulo: Editora Paulus, 2005. ISBN 8534922993.
* Vaticano II - 40 anos depois, em co-autoria com J. B. Libanio; José Comblin; José Oscar Beozzo; A. Lorscheider; J. M. Vigil. São Paulo: Editora Paulus, 2005. ISBN 8534923671.
* A vida - Em busca da liberdade. São Paulo: Editora Paulus, 2007. ISBN 9788534927.
* A profecia na Igreja. São Paulo: Editora Paulus, 2008. ISBN 9788534929899.

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Nota ao povo da Paraíba sobre o falecimento do Pe. José Comblin
Ao Povo da Paraíba e do Nordeste, Mônica Muggler e os amigos e amigas do Pe. José Comblin informam do falecimento do Pe. José, nesse domingo, dia 27 de março de 2011, por volta das 8 horas da manhã, no município de Simões Filho, vizinho a Salvador – BA, para onde tinha viajado, desde Barra – BA, a fim de fazer uma revisão de seu estado de saúde e para assessorar um grupo de base.

Estava hospedado numa casa de Religiosas. De manhã, aguardado que era para a celebração, e não comparecendo na hora prevista, foram em busca dele: encontraram-no já no repouso eterno.

Pe. José Comblin havia, cinco dias antes de sua partida, completado seus abençoados 88 anos (22 de março), dos quais 53 anos, a servir incansavelmente os pobres na América Latina, na perspectiva do Evangelho.

Agradecidos a Deus por nos ter concedido o dom desse testemunho de profeta e missionário do Evangelho, sentimo-nos interpelados por seu exemplo a seguir adiante em o caminho para o qual sempre apontou: o de Jesus de Nazaré.

O corpo do Pe. José está sendo transportado, por via terrestre, de Salvador para Santa Fé, no Santuário do Pe. Ibiapina, vizinho de Arara – PB, aonde deverá chegar por volta da meia noite. Seu corpor ficará exposto para as despedidas do público, durante a manhã de terça-feira, dia 29. Às 14 horas da mesma terça-feira, dia 29, será celebrada a missa, no mesmo Santuário de Pe. Ibiapina, estando previsto o sepultamento entre as 15 e 16 horas da mesma tarde.

"Bem-aventurados os construtores da paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5,9)

João Pessoa, 28 de março de 2011.

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NOTA DE AGRADECIMENTO

Mônica Muggler e os amigos e amigas do Pe. José Comblin, ao compartilharem, com saudade e esperança, a partida do Pe. José Comblin, acolhido que foi na Casa do Pai, ontem, dia 27 de março de 2011, por volta das 8 horas, em Salvador – BA, vêm a público externar seus agradecimentos pelos cuidados solidários que dispensaram ao tratamento da saúde do Pe. José, em suas respectivas especialidades profissionais aos seguintes médicos:

- Dr. Otacílio Figueiredo – Angiologista (João Pessoa - PB)
- Dr. André Queiroga – Cardiologista (João Pessoa - PB)
- Dr. Manoel Jaime Xavier – Clínica Geral (João Pessoa - PB)
- Diácono Dr. José Gomes (João Pessoa - PB)
- Dr. Eduardo Darze – Cardiologista (Salvador – BA)
- Dr. Rodolfo Teixeira – Clínica Geral (Salvador – BA).

A todos e a cada um desses profissionais, expressamos o nosso mais cordial agradecimento. Que Deus os recompense!

João Pessoa, 28 de março de 2011.

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Leia também:




Comblin



sede da terra
raiz do saber
enxada do deus
que será
lá n’alma do chão:
a libertação

sonho que move
profeta que anima
fidelidade e mãos
ao pequeno
ao do lado,
ao pobre...

hebreu da fé
parte viva
do seguimento
que faz e é
alento do reino
semente do bem

vida no evangelho
não instituído,
sem religações,
apenas e sempre
memorial de amor
não destituído

sua voz passou
o sopro parou...
continuam nas lutas
por justiça e esperança
lembranças do seu
eterno viver
(1923-2011)

Ernesto Bechelli
itanhaém-sp

Igreja popular perde padre José Comblin

Faleceu dia 27, aos 88 anos o padre José Comblin, em Salvador, na Bahia. O padre, que sofria de problemas cardíacos, foi encontrado sem vida sentado em seu quarto, quando era esperado para a oração matinal.

Comblin era belga e veio para o Brasil em 1958 atendendo a um pedido de papa Pio XII, que solicitava sacerdotes voluntários para regiões com falta de padres. Dedicou sua vida aos pobres e a igreja popular, principalmente nos estados de Pernambuco, Paraíba e Bahia. Trabalhou com Dom Hélder Câmara e foi autor de dezenas de livros, entre eles, ‘A ideologia da segurança nacional: o poder militar na América Latina'.

Padre Comblin foi perseguido pelo regime militar, que ordenou sua detenção e deportação, em 1972, ao desembarcar no aeroporto de volta de uma viagem à Europa. Também participou do primeiro grupo da Teologia da Libertação e esteve fortemente envolvido nas equipes de formação de seminaristas no campo em Pernambuco e na Paraíba (1969), do seminário rural de Talca, no Chile (1978) e, depois, na Paraíba, em Serra Redonda (1981). Iniciativas que originaram a Teologia da enxada.

Programa reunirá jovens luteranos de vários países

Adital
A Federação Luterana Mundial (FLM) reunirá jovens de todo o mundo para discutir as diferentes perspectivas que eles têm sobre suas comunidades e assim alcançar uma visão global que contribua para o planejamento e visibilidade das ações de juventude da Federação. Os jovens selecionados para esse planejamento terão, entre 2011 e 2013, reuniões via internet.

O programa consiste em um intercâmbio virtual entre os jovens, ou seja, no período da ação, os jovens discutirão, à luz de passagens bíblicas comuns, questões que interessem à juventude. Os contatos serão através de debates em fóruns virtuais, correios eletrônicos, blogs e redes sociais da internet. Os jovens selecionados têm ainda a missão de reproduzir os debates junto a suas comunidades.

Três jovens brasileiros também participarão dessa experiência. No Brasil, a FLM, em parceria com a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), selecionou dois representantes do Rio Grande do Sul e um do Ceará. Mardos Kieslich Cavalcante é o cearense do programa, que representará as regiões Norte e Nordeste do país.

De acordo com ele, serão formados três grupos de diferentes continentes que trocarão experiências e opiniões. "O objetivo é reunir jovens de 15 a 30 anos para falar sobre fé e fazer um planejamento para a atuação da juventude da FLM”, afirma, destacando que, por ser uma atividade internacional, é necessário que os participantes tenham conhecimento em inglês, espanhol ou alemão.

A ideia é realizar atividades e intercâmbios de visões de mundo no âmbito local e global. Assim, os grupos realizam atividades locais ao mesmo tempo em que trocam opiniões e experiências com as realidades de outros países. Além do contato virtual, Mardos revela que, nesses dois anos, os jovens selecionados para o programa também terão a oportunidade de participar de reuniões e conferências em locais e datas que ainda serão discutidos.

O jovem acredita que esta será uma experiência "fantástica”, principalmente por sentir-se mais incluído no programa. O integrante da IECLB ainda destaca a importância de o programa ser formado somente por jovens. "O jovem é o futuro. Então devemos começar por aí, a incluir os jovens na Igreja Luterana e nas discussões sobre espiritualidade, e não deixá-las somente para os adultos”, ressalta.

Mais informações em http://lwfyouth.org e http://facebook.com/LWFYouth

Anistia Internacional divulga informe sobre ‘Sentenças de morte e execuções' em 2010

Camila Queiroz
Jornalista da ADITAL
Adital
A Anistia Internacional divulgou hoje (28) o informe ‘Sentenças de morte e execuções 2010’. O relatório revela que no ano passado, ao menos 527 pessoas foram executadas, em 22 países, um decréscimo com relação a 2009, quando as execuções chegaram a 714. Ainda em 2010, mais duas mil pessoas foram condenadas à morte, totalizando quase 18 mil em todo o mundo.

Apesar dos números, a organização avalia que cada vez menos países estão imputando a pena de morte e há uma tendência global à abolição da pena capital. "Nos opomos a ela (pena de morte) independentemente da natureza do delito, das características do delinquente, ou do método utilizado pelo Estado para a execução. A pena de morte é cruel, desumana, ineficaz e injusta”, disse o secretário geral da Anistia, Salil Shetty.

De acordo com o documento, 31 países aboliram a pena de morte na última década. Os Estados Unidos executaram 46 presos e impuseram 110 penas de morte em 2010, o que representa um decréscimo de 70% com relação à década de 1990. Ao todo, há mais de 3.200 pessoas nos "corredores da morte” dos EUA.

Um fato importante para manter a esperança é que, desde 2003, menos da metade dos países onde a pena de morte vigora tem realizado execuções. Também há informações de que em menos de um terço deles executou-se penas de morte em cada um dos últimos quatros anos.

Houve alguns retrocessos, já que seis países e territórios retomaram as execuções e um deles ampliou o âmbito de aplicação da pena capital. A Ásia e o Oriente Médio são as regiões em que ocorreram mais execuções – embora, no Oriente Médio, os números tenham diminuído com relação a 2009.

Em todo o mundo, muitas pessoas foram condenadas por delitos não-violentos. Um número expressivo relaciona-se às drogas, mas também há casos de execuções por adultério e blasfêmia. Salil denuncia que isto vai contra as normas internacionais de direitos humanos, "que, exceto no caso dos delitos mais graves, proíbem o uso da pena de morte”.

De acordo com o informe, as mortes em 2010 ocorreram por decapitação, eletrocução, enforcamento, injeção letal, disparos a queima-roupa na nuca ou no coração ou fuzilamento. Por vezes, as execuções foram realizadas em público.

O relatório Sentenças de morte e execuções 2010 na íntegra está disponível no link: http://www.amnistia-internacional.pt/dmdocuments/DeathPenalty_Report.pdf.

Comunidades denunciam descaso e afirmam que governo não cumpriu com o prometido

Tatiana Félix
Jornalista da Adital
Adital
No último dia 21, famílias que habitam na comunidade Nuevo Montes Azules, na cidade de Palenque, estado de Chiapas, no México, realizaram um bloqueio na estrada federal que vai de Benemérito das Américas à Palenque, para exigir a imediata atenção dos governos Federal e Estadual aos problemas que enfrentam, desde que foram realocadas para esta região em 2005.

Foi com promessas de melhoria de vida que o governo realocou as famílias, que pertenciam às comunidades de El Censo (Ocotal), Santa Elena (Suspiro I), Zapotal (Suspiro II), Villa das Rosas, Sol Paraíso Las Ruínas, Tumbalá e Petalcingo, na Selva Lacandona, localizada na Reserva da Biosfera Montes Azules (Rebima) para Nuevo Montes Azules. No entanto, desde que foram para a nova comunidade, as famílias viram toda a promessa se transformar em um acumulado de problemas.

"Nos disseram que por ser uma Reserva não poderiam nos regularizar e nos ofereceram outras terras em outro lugar”, explicaram por meio de comunicado. Mas, as novas terras foram mostradas às famílias 'em tempos de seca', e "parecia estar bem, não havia chuva e as construções pareciam estar ficando bem", apesar de ainda não estarem terminadas, relataram.

De acordo com Ivna Feitosa, integrante da associação Enlace, que atua na região, há anos que o governo federal do México está implementando uma política de esvaziamento da Rebima. Especula-se que o motivo desta política seja para atender aos interesses de empresas transnacionais nos recursos naturais do local. "De 46 comunidades que existiam na selva, hoje restam coisa de 6 ou 7”, afirma ela.

As famílias relataram ainda que quando foram transferidas para a nova comunidade, foram alertadas de que não deveriam retornar ao antigo local, com ameaça de serem presas.

Somente depois de três meses em que estavam vivendo nas novas terras e quando iniciaram as chuvas, foi que a realidade do local veio à tona. "Quando chove se formam muitos alagamentos, (...) essas terras são pantanosas. Em tempo de chuva sai água por todos os lados, por qualquer rachadura, saem camarões, peixes e caracóis, inclusive o lagarto invade as zonas encharcadas ligadas com a lagoa e comem nossos animais", denunciaram.

De acordo com os relatos, as casas da nova comunidade foram construídas sem base firme e sem cimento, 'apenas estão assentadas sobre a terra'. Além de já estarem cheias de lodo, algumas casas já estão com os pisos e as paredes rachadas, e as telhas, que segundo eles, 'foram mal colocadas', já começaram a cair com o vento.

Além disso, os moradores informaram que apenas parte das novas terras foram regularizadas, e as famílias não têm as escrituras das terras onde estão assentadas. "O governo não pagou a terra, por esta razão, o proprietário quis voltar a ocupar este terreno com seu gado e quis cercar o terreno, mas a comunidade não deixou", detalharam. "O compromisso explícito do governo para que não regressássemos para a Rebima era comprar e regularizar todos os terrenos", esclareceram.

Se as moradias se encontram nesta situação, não é de se espantar que os demais serviços prometidos também não estejam em bom funcionamento como a casa de saúde, água, energia elétrica e escola. "A única atenção que chegou do governo é a realização de pulverizações por parte da Comissão Nacional para a erradicação da Malária", afirmaram as famílias explicando que o aparecimento da malária se deve aos alagamentos.

"Passou muito tempo desde nosso realocamento e nossas demandas não foram atendidas, por esta razão, (...) decidimos nos organizar em um movimento para exigir que o Governo Federal e o Governo do Estado de Chiapas cumpram suas responsabilidades com nossa comunidade e nos garantam nossos direitos".

Mais informações, acesse: http://www.enlacecc.org/

Manifestações de professores continuam sendo repreendidas por policiais e militares

Karol Assunção
Jornalista da Adital
Adital
Repressão policial. Essa é a resposta dada às manifestações de alunos e professores hondurenhos que lutam contra a privatização da educação pública em Honduras. As mobilizações deste mês já resultaram na morte de uma professora, em dezenas de feridos e em pelo menos 20 educadores/as presos/as. A manhã de hoje (28) foi marcada por nova onda de violência. Desta vez contra o povo garífuna, que realizava ações em apoio às manifestações dos professores e da população hondurenha em resistência.

Os protestos do povo garífuna também não saíram imunes à violência policial. Informações indicam que, na manhã de hoje, policiais desalojaram violentamente as mobilizações pacíficas que a população realizava contra a repressão cometida contra professores e hondurenhos em resistência. Além de apoiar as manifestações hondurenhas, os garífuna ainda pediam respeito aos territórios ancestrais e à comunidade de Triunfo de la Cruz.

A ação policial de hoje resultou na agressão e detenção de Miriam Miranda, identificada como líder garífuna. De acordo com notícias de defensoresenlinea.com, Miriam está em uma cela policial em Tela, no departamento de Atlântida.

Já faz mais de três semanas que docentes e policias hondurenhos se enfrentam em manifestações pelo respeito aos direitos dos/as professores/as e contra a privatização da educação pública. Na sexta-feira passada (25), uma decisão judicial enviou 20 professores para as prisões hondurenhas. Os 15 professores detidos foram para a Penitenciária Nacional enquanto que as cinco professoras foram para o Cárcere de Mulheres.

Os/as 20 docentes foram acusados de delitos por participação em manifestações ilícitas e, segundo informações de defensoresenlinea.com, o juiz responsável pelo caso "nem sequer abriu os envelopes que continham a informação documental sobre as situações dos/as imputados/as, mas que se limitou a dar por certo o que a polícia e a promotoria apontaram como delitos Associação Ilícita, Danos à Propriedade, Sedição, sem ter provas contundentes”.

A expectativa é que amanhã (29) aconteça uma audiência inicial na qual o juiz – que já foi acusado de parcialidade – anuncie a decisão de libertar ou não os/as docentes detidos/as.

Esses não foram os únicos casos de repressão ocorridos durante as manifestações dos profissionais da educação. Na semana passada, policiais entraram na Universidade Nacional Autônoma de Honduras (Unah) e lançaram bombas lacrimogêneas contra professores, estudantes, trabalhadores e familiares de alunos que estavam no local.

Em resposta, os atingidos jogaram garrafas e pedras para se defender dos ataques cometidos por policiais e militares que estavam de rostos cobertos. A ação resultou em 36 pessoas feridas e na detenção do estudante Gilberto Valladares.

No último dia 18, uma repressão parecida interrompeu a vida da professora Ilse Ivania Velásquez, quem, após ser atingida por uma bomba lacrimogênea, caiu no chão e foi atropelada por carro que tentava sair do confronto e não viu a docente por conta da nuvem de gás. O episódio aconteceu durante a ação policial contra manifestações de docentes nas proximidades do Instituto de Previsão de Magistério (Inprema).

Com informações de Defensoresenlinea.com, Resistencia Honduras e Kaos en la Red

2º Simpósio Nacional sobre Mudanças Climáticas e Justiça Social. Carta Compromisso

FMCJS
Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social
Adital
Nós, representantes de movimentos sociais e populares, de ONGs, de pastorais sociais, de Igrejas e confissões religiosas, organismos de cooperação, num total de 110 pessoas convocadas pelo Fórum Mudanças Climáticas e Justiça Social, estivemos reunidos por três dias no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia, Goiás, no 2º Simpósio Mudanças Climáticas e Justiça Social. Procuramos compreender o que se passa com o planeta Terra, preocupados com os desastres socioambientais que afetam cada vez mais a vida e provocam mortes de tantas pessoas. Viemos das várias regiões do Brasil, e isso nos permitiu ter informações ricas do que acontece nos diferentes biomas. E nos reunimos especialmente porque desejamos agir para enfrentar o que está provocando as mudanças climáticas presentes em todas as regiões.

Os estudos recentes, no Brasil e no mundo, sinalizam que o aquecimento do planeta tem avançado mais rapidamente do que o previsto no 4º Relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), de 2007. No Brasil, conhecemos melhor a Amazônia, sua relação decisiva para a vida e a fertilidade das demais regiões do país e do Continente e os efeitos da continuidade de sua devastação, seja na emissão de dióxido de carbono, seja nas mudanças do clima no bioma e em toda esta região do Planeta; mas conhecemos também melhor os demais biomas –Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pantanal, Zona Costeira e Pampa-, agredidos, depredados e cada dia mais fragilizados. Junto com as comunidades locais, temos consciência mais clara dos efeitos desastrosos da agropecuária e do reflorestamento extensivos e com monocultura na contaminação da atmosfera com óxido nitroso, além da contaminação do ar, do solo, córregos e rios com produtos químicos venenosos, e da emissão de metano a partir do plantel de cabeças de gado e das represas das grandes hidrelétricas; temos consciência igualmente dos efeitos do tipo de industrialização e de urbanização que marcam nossas cidades, com córregos e rios poluídos, com ar quase irrespirável, com discriminações sociais, com descuidos em relação ao lixo e esgoto, com falta de política habitacional, com descuido na ocupação de morros e margens dos rios, com privilégio para automóveis e detrimento de transporte coletivo e de massa de boa qualidade...

A intensificação das enchentes de verão em quase todo o território nacional, e que se caracterizam como precipitações intensas em determinada área, ultrapassando em muito os níveis pluviométricos previstos, nos mostra que estamos submetidos efetivamente às consequências da mudança do clima. Porém, mais preocupante ainda é a nova seca que atingiu, apenas cindo anos depois da anterior, o imenso bioma Amazônia em 2010.

Tendo presente os eventos extremos em muitas partes do planeta, com um número cada vez maior de mortes de pessoas e de outros seres vivos, com deterioração das condições de vida em muitas regiões, provocando migrações em massa, já ultrapassando 50 milhões de pessoas, segundo a ONU, firma-se em nós a consciência de que todas as pessoas, povos e países não podem perder tempo e oportunidades para implementar mudanças profundas em todas as atividades humanas que têm a ver com o aquecimento e as consequentes mudanças climáticas, e, por isso, desejamos publicamente assumir os seguintes compromissos:

1 – Empenhar nossa força na mobilização social e formação de consciência das populações sobre a urgência de iniciativas que se coloquem na linha da defesa dos direitos das pessoas, integrada à defesa do ambiente e do Planeta Terra.

2 – Constituir iniciativas que possam ser efetivas no enfrentamento da derrubada e destruição da floresta amazônica e do que ainda resta do Cerrado e da Mata Atlântica. Empenhar-nos especialmente pela aprovação da PEC 115 -150/95, que propõe que os biomas "Cerrado, Caatinga e Pampa sejam reconhecidos na Constituição Brasileira como Patrimônio Nacional”.

3 – Questionar com responsabilidade e tendo presente a construção de uma sociedade justa, solidária e sustentável, as políticas econômicas do nosso país que privilegiam a expansão do capital e da prática predatória. Denunciar o consumismo dos 10% da população, que se mantém tendo como base a concentração de lucros e agrava as condições de vida da maioria, e é fruto de um modelo de produção e consumo não universalizável e gerador de exclusão social, particularmente dos povos e comunidades tradicionais.

4 – Incorporar em nossos estudos e em nossas práticas os ensinamentos do "BEM VIVER”, cultivados pela maioria dos povos indígenas, que tem como princípios essenciais as relações de reciprocidade entre as pessoas, a amizade fraterna, a convivência harmoniosa com outros seres da natureza e o profundo respeito pela Terra, bem como as propostas e práticas de relação respeitosa entre as pessoas e meio ambiente cultivadas pelos povos e comunidades tradicionais do nosso país.

5 - Envolver as nossas possibilidades de atuação para enfrentar a prioridade da política de desenvolvimento nacional dada à produção agropecuária com as características do agronegócio, que possui um modelo tecnológico que agride o ambiente vital e vende commodities carregadas de venenos, produtos químicos e com transgenia, colocando em risco a saúde dos animais e dos seres humanos que se alimentam com eles de forma direta ou transformados pela indústria. Essa prática também põe em risco a vida dos povos indígenas em situação de isolamento, que são ameaçados cada vez mais pela expansão das fronteiras agrícola e agropecuária no país.

6 – Unir forças no apoio ao desenvolvimento de um novo modelo de produção agrícola e de preservação da natureza baseado na Agricultura Familiar Camponesa, responsável pela produção, em média, de mais de 70% dos alimentos dos povos brasileiros. Ela já capaz de, se apoiada, produzir todos os alimentos de forma agroecológica, contribuindo para recuperar a vitalidade do solo e para refrigerar o planeta. Reivindicamos que ela seja tornada prioritária na política agrícola nacional, constituindo-a como a principal forma de cultivo e produção no campo através da implementação, de forma coerente, de políticas de reforma agrária e de destinação dos recursos de incentivo à produção diversificada da alimentação que brasileiros e outros povos necessitam, convivendo e em diálogo com a Terra como mãe da vida.

7 – Enfrentar os encaminhamentos nacionais reiterados, especialmente nos últimos 60 anos, no campo da produção industrial e utilização de energia que contribui com o aumento da emissão de gases do efeito estufa na atmosfera através da intensificação do uso do petróleo, gás e carvão, no incentivo à opção do uso do carro individual em detrimento do transporte coletivo, na priorização do atendimento da viabilização de empresas com intensa utilização de energia, especialmente na mineração. Apoiar as iniciativas que lutam por uma reforma urbana que, entre outras medidas, conte com uma política habitacional que leve a dar destinação social aos seis milhões de moradias desocupadas, diminuindo drasticamente o déficit existente sem novas agressões ao meio ambiente.

8 – Denunciar e questionar, política e cientificamente, a continuidade da política energética assentada nos grandes projetos de hidrelétricas e na multiplicação de PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas) em todas as regiões do país, que destroem que resta de rios e sua relação com os biomas, interferindo em seu equilíbrio em troca de relativamente baixa produtividade em termos de energia elétrica; mais grave ainda, por ser uma política que não opta por alternativas de produção de energia elétrica mais adequadas ao nosso país, desprezando o potencial solar, eólico e dos movimentos naturais das águas, e desviando recursos gigantescos da investigação e instalação dessas energias alternativas.

9 - Posicionar-nos incisivamente e mobilizar comunidades e movimentos com os quais temos contato contra a utilização da energia nuclear no país, e exigir a revisão das condições de segurança das usinas existentes, bem como das condições de vida na região de Caitité, Bahia, ameaçadas por contaminação com urânio.

10 - Diante do aumento do número de pessoas atingidas por eventos climáticos, especialmente entre os mais pobres, reivindicar a criação ou fortalecimento de setores específicos de atuação governamental, com recursos financeiros e pessoal adequado, que implementem processos de prevenção, atendimento aos atingidos e possibilidades de superação dos eventos climáticos que atingem mais duramente as populações em situação mais desfavorável.

11 – Tomar posição incisiva contra a aprovação do projeto sistematizado pelo deputado Aldo Rebelo sobre reformulação do Código Florestal Brasileiro e sugerir que sejam construídas alternativas de adequação legal ou de complementação regulatória, com a participação efetiva da sociedade civil organizada e incluindo os interesses e direitos das comunidades, modificando-se apenas o necessário para enfrentar problemas reais especialmente da agricultura familiar, garantido a continuidade da defesa do meio ambiente e a penalização dos que não o respeitam, evitando todo e qualquer tipo de privilégio, de modo especial de grileiros e de grandes proprietários.

12. Reafirmar nosso compromisso de promover o protagonismo dos povos, comunidades, classes e setores excluídos de nossa sociedade, apoiando as iniciativas comunitárias dos povos indígenas e demais comunidades tradicionais, da economia solidária, dos catadores\as de materiais recicláveis, da agricultura familiar camponesa, dos pescadores\as, das iniciativas das mulheres no campo e nas cidades, dos trabalhadores assalariados nas cidades e no campo, de todos e todas, enfim, que estão empenhados na construção criativa de outro mundo possível, onde o "BEM VIVER” seja a prática que harmoniza a relação entre as pessoas e a Mãe Terra.

Luziânia-GO, aos 16 de março de 2011.

Comblin: Bastão de Deus que fustiga os acomodados

José Lisboa Moreira de Oliveira
Filósofo. Doutor em teologia. Ex-assessor do Setor Vocações e Ministérios/CNBB. Ex-Presidente do Inst. de Past. Vocacional. É gestor e professor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília
Adital
Estou acompanhando o que se anda dizendo nos últimos dias sobre o nosso irmão teólogo José Comblin. Houve quem tentou até se compadecer dele dizendo que já passou dos oitenta e chegou a insinuar que ele está meio "gagá”. E por está gagá, coitadinho, passou a dizer umas coisas fora de lugar, fazendo umas afirmações pessimistas, vendo o horizonte escuro, tendo uns ataques de "alucinação”, enxergando coisas que não existem, falando mal da hierarquia da Igreja e assim por diante.



Todas essas coisas me fizeram imediatamente pensar nos profetas de todos os tempos. Também eles, quando começaram a falar sem meios-termos, a "dar nomes aos bois”, a colocar o dedo em certas feridas, foram logo acusados de serem visionários, lunáticos, inimigos da religião e do rei. Amós, por exemplo, foi acusado por Amasias, sacerdote de Betel e "capanga” de Jeroboão, de ser um visionário. Por essa razão foi impedido de profetizar no santuário do rei (Am 7,10-17). Jeremias foi surrado e preso (Jr 20,1-6). Antes deles, Elias teve que se refugiar no deserto para não ser assassinado por Jezabel (1Rs 19,1-8). Geralmente todos os profetas são perseguidos e ridicularizados por que falam a verdade e não camuflam a realidade. Creio que o paradigma de todos os profetas é Miquéias, odiado porque nunca profetizava coisas boas, mas só desgraças (1Rs 22,8). Ou seja, não era bajulador e conivente com os poderosos, mas falava apenas o que Javé mandava falar (1Rs 22,14). Era fiel somente Deus.



Também Jesus, o profeta por excelência, não escapou da fúria dos poderosos. Falou o que pensava, do que estava convencido, atacando tanto o sistema religioso como o poder político. Por essa razão chegaram a pensar que ele estava louco (Mc 3,21). Terminou os seus dias crucificado como um malfeitor. Tinha feito tremer a ordem estabelecida e ameaçado a posição dos privilegiados, desmascarando suas hipocrisias e suas falsidades (Mt 23,1-36).



Não. Comblin não está gagá, não está louco, não está tomado de pessimismo e nem tão pouco de derrotismo. Comblin é um dos poucos profetas que ainda temos na Igreja dos nossos dias. Infelizmente em tempos de exílio eclesial, como o que estamos vivendo atualmente, é rara a figura do profeta. "Nesse nosso tempo, não há chefe, profeta ou dirigente” (Dn 3,38). Quando a corrupção atravessa os limiares da religião, e permanece entranhada dentro dela, são poucas as pessoas dotadas de clareza e de lucidez (1Sm 3,1). Todos querem fazer carreira e preferem silenciar, mesmo sabendo interiormente que o que acontece não condiz com o projeto de Deus. Como verdadeiro profeta, Comblin não se deixa enganar e não se ilude com o que vê. Enxerga longe, além das aparências e dá o seu prognóstico, mesmo que tal prognóstico, como no caso de Miquéias, apareça cruel, sem piedade e sem esperança. Mas é assim mesmo e assim deve ser, pois se trata de profeta e de profecia.



O profeta é o bastão de Deus que fustiga os acomodados. E onde há profetas verdadeiros e autênticas profecias há incômodo e mal-estar para muita gente. Dom Tonino Bello, bispo de uma minúscula diocese do sul da Itália, falecido ainda jovem, vítima de um câncer, gostava de afirmar que o autêntico cristão deve consolar os aflitos e afligir os consolados e acomodados. De fato, ele incomodou bastante seus colegas bispos italianos. Sua simplicidade e pobreza, sua determinação em defender os pobres, especialmente os imigrantes africanos, o colocou em rota de colisão com as eminências e excelências. Teve inclusive que dar explicações à cúpula da Igreja acerca da sua atitude audaciosa de acolher no palácio episcopal alguns imigrantes africanos. Mandaram-lhe como visitador um bispo de uma diocese da Sicília, o qual, logo depois de sua visita a Dom Tonino, ficou conhecido no país por suas ligações com a máfia, sendo inclusive processado pela justiça italiana. Não foi preso porque a diplomacia vaticana entrou em ação e não permitiu que isso acontecesse.



Comblin é um autêntico teólogo e como tal não se contenta em ficar repetindo o que os outros já disseram. Não é teólogo-papagaio e nem faz teologia de coorte, apenas repetindo frases do Catecismo ou de documentos da Igreja para agradar a cúpula eclesiástica, receber elogios ou até compensações, como, por exemplo, uma roupa roxa ou avermelhada. Comblin faz teologia de verdade, ousando dizer o que ninguém diz, propondo alternativas para o que aí está, apontando caminhos que podem ser trilhados. Como teólogo-profeta mostra que certos modelos atuais de Igreja estão carcomidos pelo tempo e por vícios seculares e não dizem mais nada para a humanidade que sonha com outro mundo possível e com uma comunidade eclesial que, de fato, seja sinal desse novo mundo.



Com sua ousadia e determinação profética, Comblin não tem medo de afirmar que a Igreja precisa perscrutar os "sinais dos tempos”. Não pode viver acomodada, acreditando que o atual modelo eclesiástico é o melhor de todos os tempos. Creio que Comblin está sendo ridicularizado porque do alto de sua sabedoria anciã tem a coragem de falar palavras proféticas como essas: "A experiência mostra que a hierarquia errou muitas vezes na condução da Igreja em circunstâncias determinadas. O Espírito mostra o caminho por outros meios. A hierarquia deve estar atenta aos sinais dos tempos que alguns cristãos têm o dom de entender. Deve escutar se não quer errar e provocar desastres” (A profecia na Igreja, São Paulo: Paulus, 2008, p. 11). Alguns membros da hierarquia não suportam tanta sinceridade e honestidade. Estendendo o dogma da infalibilidade papal para todos os casos e para todos os hierarcas, sem exceção, não admitem que alguém diga que alguns deles, em algum momento, erraram e continuarão a errar se não souberem escutar. Atribuem a si mesmos uma prerrogativa divina, ocupando na Igreja e na terra um lugar que pertence exclusivamente a Deus.



Não temos como negar. É visível a mudança de rota na Igreja Católica Romana a partir do final da década de 1970. Aos poucos as propostas e intuições do Concílio Vaticano II são postas de lado ou reinterpretadas a partir de uma eclesiologia jurídica, segundo a qual o direito canônico está acima do Evangelho. Enquanto se perde tempo com a discussão de temas banais, questões sérias não são enfrentadas. Basta lembrar, por exemplo, o caso da centralidade da celebração eucarística. Institui-se um ano eucarístico, afirma-se que a Eucaristia é o centro e o cume da vida cristã, e, no entanto, não se resolve o problema gravíssimo das milhares e milhares de comunidades católicas que ficam meses e até anos sem a celebração eucarística dominical.



Qualquer pessoa honesta, que conheça bem a situação da Igreja no momento atual, não poderá negar que ela está sendo dominada por grupos e movimentos ultraconservadores. Tais grupos e movimentos estão trazendo de volta a Igreja da Contra-Reforma, fechando cada vez mais os espaços de participação do povo de Deus, impondo uma moral rigorista e "tirando do baú” costumes e tradições arcaicas, "mofadas” e ridículas. Os pobres são cada vez mais esquecidos e é notória a adesão desse modelo de Igreja a sistemas políticos de direita. Com isso a Igreja Católica Romana vai se distanciando da realidade do povo e se tornando cada vez mais um sinal opaco e sem sentido do Reino de Deus. Por essa razão é cada vez mais visível o afastamento das comunidades eclesiais de pessoas com um pouco de bom senso e com consciência crítica. A Igreja Católica vai se transformando, no dizer de Cappelli, numa comunidade "infantil, feminil e senil”. Uma Igreja só de crianças e de mulheres idosas. Alguns até se empolgam porque, de vez em quando, aparecem jovens distraídos em alguns espaços religiosos. Mas não deveriam se iludir. A participação de jovens nas comunidades católicas não ultrapassa a percentagem de 1% do total de jovens da nossa sociedade.



Dizia pouco antes, citando o profeta Daniel, que na atualidade não temos mais nem chefe e nem profeta. De fato, as lideranças cristãs transformaram o serviço de coordenação e de presidência das comunidades em puro carreirismo. Por isso adotam uma atitude de subserviência, não se importando com os reais problemas de suas comunidades. Os próprios bispos não mais cultivam a solicitude por todas as Igrejas, elemento fundamental do ministério episcopal e do colégio episcopal. Assim sendo, não falam com as instâncias vaticanas com a autoridade de bispos das Igrejas locais e da Igreja Católica, de igual para igual. Agem com timidez e medo, deixando de oferecer à direção da Igreja em Roma seus pareceres sobre questões e problemas eclesiais inadiáveis. Sem falar em todo o problema da onipotência da burocracia eclesiástica que, como nota o próprio Comblin, não se move e não faz nada para uma maior descentralização (cf. Quais os desafios dos temas teológicos atuais? São Paulo: Paulus, 2005, pp. 60-64).



Por que, então, tanto escândalo e tanto alvoroço com aquilo que Comblin falou ultimamente? Será que perdemos a capacidade de enxergar? Por que insistimos num comportamento de avestruz, recusando-nos a ver o que é tão visível? Por que duvidar da possibilidade de "politicagem e de conchavos” dentro da Igreja Católica? Por acaso não conhecemos a sua história para saber que ela sempre esteve cheia desses casos? Será que esquecemos que os escritores dos primeiros séculos do cristianismo a chamavam de "casta meretrix”, de "casta prostituta”? Será que chegamos a um nível tal de arrogância a ponto de achar que o atual sistema eclesiástico é tão perfeito a ponto de não mais precisar de reformas e nem de profetas para pregar a conversão da Igreja?



Comblin é um profeta que possui sensibilidade para perceber o que está acontecendo. E por isso fala sem medo e sem falsas contenções. Ele, enquanto ancião, é um verdadeiro modelo para as novas gerações de cristãos e de cristãs. Como o velho Eleazar (2Mc 6,18-31) prefere a morte, a perseguição e a calúnia do que trair suas próprias convicções. Não aceita fingir para escapar dos olhares mortíferos dos acomodados e incomodados. Recusa-se a ser tratado com benevolência e a trocar sua fidelidade por vantagens. Assim, "coerente com a sua idade e com o respeito da velhice, coerente com a dignidade dos seus cabelos brancos” (2Mc 6,23), prefere continuar firme em sua profecia. Como Eleazar, ele tem consciência de que o fingimento, em troca de certas vantagens e do "bom nome”, escandalizaria os mais jovens. Assim é para todos nós um exemplo honrado de fidelidade. Uma fidelidade diferente, é claro. Ele não pretende amar a Igreja mais do que os outros, como insinuou alguém. Apenas ama-a de um modo diferente, radical e corajoso. Um modo, aliás, que não se tem visto ultimamente, inclusive entre os anciãos, e do qual tanto precisamos em nossos dias.



[Autor de 13 livros e dezenas de artigos sobre o tema da vocação e da animação vocacional. Foi assessor do Setor Vocações e Ministérios da CNBB (1999-2003) e Presidente do Instituto de Pastoral Vocacional (2002-2006). Atualmente é gestor do Centro de Reflexão sobre Ética e Antropologia da Religião (CREAR) da Universidade Católica de Brasília, onde também é professor de Antropologia da Religião e Ética. Contato com o autor pelo e-mail: jlisboa56@gmail.com].

Interpretação feminista do relato da criação

Leonardo Boff
Teólogo, filósofo e escritor
Adital
As teólogas feministas nos despertaram para traços antifeministas no atual relato da criação de Eva (Gn 1,18-25) e da queda original (Gn 3,1-19), o que veio reforçar na cultura o preconceito contra as mulheres. Consoante este relato, a mulher é formada da costela de Adão que, ao vê-la, exclama: "eis os ossos de meus ossos, a carne de minha carne; chamar-se-á varoa (hebraico: ishá) porque foi tirada do varão (ish); por isso o varão deixará pai e mãe para se unir a sua varoa: e os dois serão uma só carne”(2,23-25).

O sentido originário visava mostrar a unidade homem/mulher. Mas, a anterioridade de Adão e a formação a partir de sua costela foi, porém, interpretada como superioridade masculina. O relato da queda soa também antifeminista: "Viu, pois, a mulher que o fruto daquela árvore era bom para comer..tomou do fruto e o comeu; deu-o também a seu marido e comeu; imediatamente se lhes abriram os olhos e se deram conta de que estavam nus”(Gn 3,6-7).

Interpreta-se a mulher como sexo fraco, pois foi ela que caiu na tentação e, a partir daí, seduziu o homem. Eis a razão de seu submetimento histórico, agora ideologicamente justificado: "estarás sob o poder de teu marido e ele te dominará”(Gn 3,16).

Há uma leitura mais radical, apresentada por duas teólogas feministas, entre outras: Riane Eisler (Sacred Pleasure, Sex Myth and the Politics of the Body,1995) e Françoise Gange (Les dieux menteurs 1997) que aqui resumo. Estas autoras partem do dado histórico de que houve uma era matriarcal anterior à patriarcal. Segundo elas, o relato do pecado original seria introduzido no interesse do patriarcado como uma peça de culpabilização das mulheres para arrebatar-lhes o poder e consolidar o domínio do homem. Os ritos e os símbolos sagrados do matriarcado teriam sido diabolizados e retroprojetados às origens na forma de um relato primordial, com a intenção de apagar totalmente os traços do relato feminino anterior. O atual relato do pecado original coloca em xeque os quatro símbolos fundamentais do matriarcado.

O primeiro símbolo atacado é a mulher em si que na cultura matriarcal representava o sexo sagrado, gerador de vida. Como tal ela simbolizava a Grande-Mãe. Agora é feita a grande sedutora.

No segundo, desconstrói-se o símbolo da serpente que representava a sabedoria divina que se renovava sempre como se renova a pele da serpente.

No terceiro, desfigura-se a árvore da vida, tida como um dos símbolos principais da vida, gestada pelas mulheres, agora colocada sob o interdito: "não comais nem toqueis de seu fruto” (3,3).

No quarto, se distorce o caráter simbólico da sexualidade, tida como sagrada, pois permitia o acesso ao êxtase e ao conhecimento místico, representada pela relação homem-mulher.

Ora, o que faz o atual relato do pecado original? Inverte totalmente o sentido profundo e verdadeiro desses símbolos. Desacraliza-os, diaboliza-os e transforma o que era bênção em maldição.

A mulher é eternamente maldita, feita um ser inferior, sedutora do homem que "a dominará” (Gen 3,16). O poder de dar a vida será realizado entre dores (Gn 3,16).

A serpente será maldita, feita inimigo fidagal da mulher que lhe ferirá a cabeça mas que será mordida no calcanhar (Gn 3,15).

A árvore da vida e da sabedoria cai sob o signo do interdito. Antes, na cultura matriarcal, comer da árvore da vida era se imbuir de sabedoria. Agora comer dela significa perigo letal (Gn 3,3).

O laço sagrado entre o homem e a mulher é substituído pelo laço matrimonial, ocupando o homem o lugar de chefe e a mulher de dominada (Gn 3,16).

Aqui se operou uma desconstrução profunda do relato anterior, feminino e sacral. Hoje todos somos, bem ou mal, reféns do relato adâmico, antifeminista e culpabilizador como está no Gênesis.

Por que escrever sobre isso? É para reforçar o trabalho das teólogas feministas que nos apontam quão profundas são as raízes da dominação das mulheres. Ao resgatarem o relato mais arcaico, feminista, elas visam propor uma alternativa mais originária e positiva na qual apareça uma relação nova com a vida, com os gêneros, com o poder, com o sagrado e com a sexualidade.

[Leonardo Boff escreveu com Rose Marie Muraro o livro "Feminino&Masculino”, Record 2010].