quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Pesquisa revela semelhanças nas atividades ligadas ao tráfico de pessoas

Tatiana Félix *

Adital - A pesquisa intitulada "A prostituição e exploração sexual de crianças e adolescentes: um caminho claro para o tráfico de seres humanos em rotas da América Latina", realizada por Harold Viafara Sandoval, Pesquisador e Diretor de Projetos da Fundação para o Melhoramento da Gestão e Educação para a Democracia (FUNDAGEPAD), mostra a realidade dessas atividades em diversos países da América Latina.

Em seu estudo, o pesquisador verifica a proximidade de relações entre a prostituição, a exploração sexual comercial de crianças e adolescente (ESCCA) e o tráfico de pessoas. Ele diz que a participação dos adultos e a ligação com os menores de idade têm se tornando cada vez mais explícitas.

Entre as diferentes formas de exploração infantil, ele classifica a utilização de crianças e adolescentes para a prostituição, a pornografia, o tráfico para fins sexuais e o turismo sexual envolvendo essa mesma faixa etária.

Em uma das fases de sua pesquisa, Harold fez percursos noturnos e diurnos, visitando diversos estabelecimentos, para entrevistar as pessoas ligadas à dinâmica da ESCCA. Ele entrevistou motoristas de táxis, gerentes de casas noturnas e porteiros, entre outros.

Dentre suas descobertas, Harold expõe o mercado da prostituição sob a modalidade de pré-pago, onde o cliente antecipa o pagamento antes de usufruir os serviços escolhidos. Neste tipo de serviço são considerados elementos como raça, etnia, atributos do corpo, atributos sexuais, idade, condições da região e idioma.

Na Colômbia, os anúncios mostraram a duração dos mesmos, as modalidades, a moeda com que se deve pagar e a inclusão ou não do valor do táxi para deslocamento. Para oferecer os serviços são dados os maiores detalhes possíveis, como idade, tipo físico, grau de instrução, corpo natural ou com cirurgias etc.

De forma geral, a prática da prostituição e a oferta dos serviços é muito parecida nos países pesquisados Além da Colômbia, Cuba, Nicarágua, Chile, Panamá, Peru, Argentina e Brasil também foram avaliados.

Embora quando se pense em prostituição se atribua a prática quase que exclusivamente às mulheres, a participação dos homens é cada vez mais explícita, segundo Harold. Ele observou ainda o envolvimento de pessoas dos mais diferentes níveis da sociedade.

No estudo, ele conclui que, em suas mais diferentes manifestações, o tráfico de seres humanos se associa, a princípio, com a prostituição, passando, em seguida, para a escravidão.

O tráfico de pessoas, define, é uma forma de escravidão que dá a condição de objeto ao ser humano, negociável no mercado, deslocado, dentro ou fora do país e, no local de destino, que é submetido a condições de exploração.

Para o pesquisador, o tráfico de pessoas viola os direitos humanos básicos das vítimas e as sacrifica, configurando-se um crime internacional e, por isso, é considerado também como um fenômeno migratório.

Segundo ele, facilitam o processo das rotas do comércio sexual globalizado, o turismo sexual, sexo virtual e as plataformas eletrônicas, já que a internet tem sido um espaço amplo de divulgação e contribuído para uma grande movimentação do comércio sexual.

Um dos depoimentos relata artimanhas típicas do tráfico como o engano e a falsificação de documentos. "Esse senhor me disse que eu era muito bonita e com corpo perfeito; como queria seguir a carreira de modelo eu acreditei nele, e ele envolveu-me. Arranjou documentos falsos, porque eu tinha apenas 17 anos. Acreditei nas suas palavras até acabar submetida em um bar em Atenas, na Grécia; essa foi a pior tragédia da minha vida".

O comércio sexual, uma prática globalizada, possibilita diversas situações para a incidência do tráfico humano. No Peru, uma traficada contou a relação estreita com a aliciadora, que revelou como comprou o ponto comercial para as traficadas trabalharem, carros e casas, além de ter educado seus filhos, tudo com o dinheiro ganho através do tráfico.

Harold revela que o negócio ilícito do tráfico se camufla também nos diversos espaços que cuidam da imagem e do corpo, como as agências de modelos, academias, salas para massagem e agências de casamentos, entre outros. "Elas (empresas) se comportam como uma fachada para agenciar indiretamente as vítimas do tráfico", diz. "Em cenários aparentemente não explícitos se criam rotas para o desenvolvimento do tráfico de pessoas", declara o pesquisador.

Um dos relatos conta que a futura traficada foi abordada na rua com promessas de ajuda para emprego, mas com pedido de segredo sobre a oferta. A aliciadora se apresentava de maneira elegante. Ao aceitar a proposta, a vítima teve seu passaporte arrancado de suas mãos e uma ameaça explícita: "Isto não tem retorno. Sabemos onde mora sua família".

Ao final de seu estudo, Harold conclui que os fenômenos da ESCCA, Prostituição e Tráfico de Pessoas não têm distinções. Ele alerta o risco que a população enfrenta, desde os menores de idade até adultos. "Sem dúvida alguma, a suspeita é válida: assistimos a um momento em que a prostituição se transforma em moda globalizada, envolvendo diversos setores, níveis sociais e populações".


* Jornalista da Adital

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