quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

Missão do Migrante em Novo Cruzeiro (Vale do Jequitinhonha – MG)

Nesse ano a missão “na origem”, isto é, em uma das regiões de onde partem emigrantes temporárias para o trabalho com a cana-de-açúcar (no corte e nas usinas), aconteceu junto ao município de Novo Cruzeiro, no Vale do Jequitinhonha, ao norte de Minas Gerais, particularmente em dois setores, os de Lufa e Queixadas (em 2011 a missão aconteceu na mesma região, contemplando o município de Chapada do Norte).
Participamos em cerca de 50 missionários(as), provenientes de diversas partes do Brasil: padres (4), religiosos(as) e leigos, sendo alguns estudiosos do fenômeno do trabalhador junto à cana-de-açúcar, todos identificando-se, em modo menos ou mais próximo com a Pastoral do Migrante.
Como Scalabrinianos, capitaneados pelo Pe. Antonio Garcia, participamos o abaixo-assinado, Pe. Mário Geremia, Irmã Teresinha Monteiro, seis seminaristas (Jesus e Flávio, da teologia, Jardel, Renato, Hugo e Eduardo Gabriel, da filosofia) e seis leigos (Marisinha, Inês, Felipe e Lena de Ribeirão Pires, Elizete, de Curitiba, e Júnior, de Guariba). Gostaria de frisar que o pequeno relato que apresento abaixo não é em nome da organização, mas pessoal, enquanto scalabriniano.
A partida, em duas Kombis, aconteceu na madrugada da sexta-feira, 20/01. A viagem transcorreu sem problemas e chegamos em Novo Cruzeiro na tarde do sábado, 21/01, onde fomos muito bem acolhidos e celebramos a missa vespertina. Novo Cruzeiro conta com cerca de 32.000 habitantes, distribuídos cerca de 24.000 na zona rural e 8.000 na zona urbana. A paróquia local é dedicada a São Bento, faz parte da diocese de Araçuaí, e conta com cerca de 72 comunidades, em sua maioria rurais. É dirigida por dois padres diocesanos: Pe. Deomiro, pároco, e Pe. Fábio, vigário já em transferência, que também participou da missão. Várias famílias da cidade, os padres e as Irmãs Franciscanas da Penitência e Caridade Cristã, como já assinalei, acolheram-nos muito bem e deram-nos condições para iniciar a missão.
Falando em início, ele aconteceu no domingo, 22/01, com uma jornada de encontro, oração e formação para os missionários, tendo em vista o conhecimento comum mínimo em relação ao município e região e à missão. No final da tarde, devidamente distribuídos em vários grupos missionários menores (em geral com dois ou três membros), partimos para os setores paroquiais de Lufa e Queixadas, onde, respectivamente, aconteceu a missa de envio dos missionários(as). A missão estava começada...
Entre a segunda e a quinta-feira, cada pequeno grupo missionário visitou inúmeras famílias, realizou encontros com crianças, jovens, trabalhadores(as), sempre identificando-se como a Missão do Migrante. Os quatro padres, ao lado das atividades elencadas, celebraram a Eucaristia junto com as diversas comunidades. Nas visitas às casas contávamos todos com um pequeno subsídio de oração e benção, onde estava estampada a imagem de Maria, Mãe dos Migrantes.
Na sexta-feira, todos os missionários(as) e numeroso povo das comunidades encontramo-nos junto à comunidade de Queixadas para um dia de Seminário, onde houve momentos de formação e um momento de debate (em grupos), depois apresentado em plenário, para refletir sobre a realidade da região e possíveis caminhos de desenvolvimento, tendo em vista desde a necessidade da organização para reivindicar melhorias básicas para cada comunidade até questões globais. Contentes, cansados e empoeirados voltamos para Novo Cruzeiro, e a missão começava a chegar ao seu ocaso.
A manhã do sábado, 28/01, foi dedicada à avaliação da missão. Num primeiro momento cada pequeno grupo missionário encontrou-se e procurou identificar os elementos significativos da missão, seus desafios e formular propostas; num segundo momento houve o plenário, onde cada missionário(a) teve a oportunidade de conhecer melhor a realidade vivida pelos outros, visto que, até então, possuía apenas o conhecimento da própria experiência. Foi possível, desse modo, vislumbrar a missão realizada e, os responsáveis primeiros certamente terão tido a oportunidade de colher os dados em vista da continuidade do trabalho realizado, seja em nível local que da pastoral junto aos emigrantes temporários como um todo. Em nível local está previsto um encontro posterior entre o poder público, as pastorais sociais e os representantes das comunidades para, a partir de quanto foi constatado na missão, chegar a conclusões e ações concretas. A Irmã Sandra Pinto de Souza, da Congregação da Providência de Gap, que com paixão tem conduzido a Pastoral do Migrante na Diocese de Araçuaí, concluiu os trabalhos com uma reflexão onde transparecia amor e comprometimento pela causa do migrante.
O momento conclusivo da missão consistiu de uma breve visita ao acampamento do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), acampados junto à fazenda Sul-América, que intitularam seu acampamento a Dom Enzo Rinaldini, bom pastor da Diocese de Araçuaí, falecido em 24/10/2011, grande defensor do povo sofrido. Nossa visita consistiu de um momento de espiritualidade, motivada por eles; de nossa parte, deixamos nosso apoio e torcida pela sua causa. Era chegado o momento de partir de volta para os quatro cantos do Brasil...
Como sublinhei no início, estou narrando a missão a partir do meu ponto de vista, não obstante a avaliação final tenha oferecido a cada um(a) a possibilidade da visão de conjunto. Gostaria, mesmo assim, antes de concluir, de apresentar algumas impressões de conjunto.
Nós encontramos um povo simples e profundamente acolhedor, impregnado pela fé e confiança em Deus (em sua maioria católicos) e, como trabalhadores(as) rurais, profundamente ligado à terra. Das famílias numerosas, um percentual expressivo emigrou para outros lugares, particularmente o estado de São Paulo, onde hoje vivem. Ainda há muitos, sobretudo homens, que partem para trabalhar com a cana-de-acúcar, vários para o corte, mas já muitos para dentro das próprias usinas. A região continua não oferecendo grandes condições para a permanência dos jovens nela, de modo que emigrar, em modo temporário ou não, ainda é uma necessidade para a maioria.


Nossa presença, que procurou apresentar-se com os traços bem definidos de Missão do Migrante, acredito tenha reavivado a fé religiosa das várias comunidades e as tenha motivado à organização em vista de um futuro melhor. Os trabalhadores(as) que estão por partir certamente terão sentido que não estão sós na sua árdua aventura, e já isto é muito significativo.


Como padre e como scalabriniano senti muita alegria em participar desse grupo missionário numeroso. Tenho certeza que esse sentimento perpassa também os demais participantes da missão. Cada um poderia e poderá narrar a realidade que viveu, com seus aspectos emocionantes, dramáticos e suas anedotas... Todos nós, creio, tem a sensação de estar engajados e de que este constituiu um pequeno passo na construção do Reino de Deus, que é de justiça e de paz, particularmente no seu fronte que é a Pastoral do Migrante!
Um abraço fraterno,

Pe. Antônio César Seganfredo, cs
Missionário Scalabriniano

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