Eles mandam cada vez mais dinheiro para seus países
Gustavo Henrique Braga e Vânia Cristino
Publicação: 04/07/2010 08:45
A remessa de divisas por trabalhadores estrangeiros fixados no Brasil para os países de origem nunca foi tão grande. Dados do Banco Central mostram que, de janeiro a maio deste ano, nada menos do que US$ 322,7 milhões saíram do território nacional, 52,3% a mais que o registrado no mesmo período do ano passado. Motivo: com a economia brasileira crescendo entre 7% e 8% ao ano, o país se tornou um dos principais polos de atração de mão de obra do mundo - sobretudo de pessoas com alta qualificação.
O oposto está ocorrendo com os brasileiros. Desde o estouro da bolha imobiliária americana em setembro de 2008, que levou à quebra do banco norte-americano Lehman Brothers, aqueles que tentaram a sorte no exterior estão sofrendo o diabo com a estagnação econômica dos países mais ricos, em especial os Estados Unidos e o Japão. Quando comparados os cinco primeiros meses deste ano com igual período de 2009, o envio de recursos desse grupo de trabalhadores encolheu US$ 22 milhões.
Mas a situação desses brasileiros é mais difícil do que se imagina. Sem condições de trabalho, muitos dos que estavam no Japão, os dekasseguis, tiveram que fazer o caminho de volta. Entre outubro de 2008 e março deste ano, cerca de 80 mil deles retornaram para o Brasil. As remessas daquele país para cá, que giravam em torno de US$ 94,1 milhões por mês no auge da crise mundial, caíram a um terço: foram apenas US$ 30,7 milhões em maio último.
Generosidade
Para o governo, não há perspectiva de inversão desse quadro tão cedo. Ou seja, a tendência é de as remessas de trabalhadores estrangeiros do Brasil para os países de origem continuem crescendo e as de brasileiros para cá diminuam ou se estabilizem, pois ainda vai demorar muito para que os países ricos saiam do atoleiro. Mas esse quadro não assusta: o Brasil nunca precisou tanto de trabalhadores preparados para atuar em setores que demandam elevado nível de conhecimento.
Dados do Ministério do Trabalho apontam que o número de estrangeiros com autorização para trabalhar no Brasil triplicou nos últimos cinco anos. Eram apenas 5 mil nos primeiros três meses de 2006. No mesmo período deste ano, foram 11,5 mil registros. A evolução anual também é surpreendente. Em 2006, o Ministério do Trabalho autorizou 25,4 mil estrangeiros a trabalharem no país. No ano passado, foram 42,9 mil - um salto de 68,8%.
Na avaliação do coordenador-geral de Imigração do Ministério do Trabalho, Paulo Sérgio de Almeida, em geral, os trabalhadores estrangeiros são altamente qualificados e vêm trabalhar em funções com carência de mão de obra local. Os salários são, portanto, elevados. É o caso dos estrangeiros com visto de temporário para o setor de produção e exploração de petróleo e gás natural. Muitos vêm em embarcações e plataformas. Entram ainda na conta do ministério diretores e executivos que vêm trabalhar em filiais de empresas estrangeiras sediadas no Brasil.
É o caso de Rui Carvalho, 35 anos, morador do Lago Sul. O português migrou para o país há um ano, com a proposta de participar da montagem da Wixx, empresa de acesso à internet, no cargo de diretor financeiro. Apesar de contar com toda a estrutura pessoal em Brasília, onde vive com a mulher brasileira e o casal de filhos, precisa enviar recursos para Portugal periodicamente para financiar a manutenção do patrimônio que deixou na Europa. "Meu contrato é de três anos, mas isso não significa que minha estada aqui acabará nesse prazo. O Brasil é um país de fácil integração, além das afinidades culturais, o povo é receptivo."
Latinos lideram
O Brasil é visto hoje por muitos trabalhadores da América Latina como os Estados Unidos de até bem pouco atrás em termos de oportunidades para se ganhar dinheiro. E, para o Ministério do Trabalho, o número de pessoas que estão empregadas no país é muito maior do que o grupo que recebeu autorização para ocupar uma vaga no mercado formal, devido à entrada ilegal de mão de obra. Os trabalhadores estrangeiros sem registro vêm, principalmente, da Bolívia, da Colômbia e do Peru. Mas mesmo essas pessoas enviam dinheiro regularmente para seus países para ajudar familiares. As estimativas apontam para a existência de cerca de 900 mil estrangeiros trabalhando no Brasil. Já o número de brasileiros no exterior é estimado em 3 milhões.
Limitações
Totalmente regularizada e adaptada ao Brasil, a cubana Elba Álvaro Rodrigues, 52 anos, residente no país há dois, sempre remete recursos para o marido e o filho que ainda moram na ilha caribenha. Médica veterinária, especializada em biologia molecular e microbiologia, ela trabalha na Sabinbiotec. Com visto definitivo, só lamenta a limitação do tempo que pode passar em Cuba. Para manter a autorização de permanência no Brasil, as viagens ao exterior devem ter duração de, no máximo, três meses. "Vim para trabalhar como cientista, mas é inevitável que a renda do meu trabalho aqui seja necessária para cuidar de minha família em Cuba", conta.
O português Rui Carvalho, diretor-financeiro de uma empresa de internet, diz que, depois da recente crise mundial, muitos imigrantes brasileiros deixaram Portugal. "Não me surpreendo. Isso tem a ver com o contexto econômico global. Fala-se que o Brasil pode crescer na casa dos 7% ao ano. Então é natural as pessoas irem atrás das oportunidades", diz.
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia182/2010/07/04/economia,i=200735/COM+A+ECONOMIA+BRASILEIRA+EM+FRANCA+EXPANSAO+DEMANDA+POR+TRABALHADORES+E+GRANDE.shtml
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário