terça-feira, 28 de setembro de 2010

Bolivianos pagam para não apanhar em escola estadual

Alunos estrangeiros de colégio no Brás têm que dar dinheiro e lanche a colegas brasileiros que os ameaçam

Direção afirma que casos de violência são combatidos; Secretaria da Educação diz que vai investigar situação

RAPHAEL MARCHIORI
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA DE SÃO PAULO

Alunos imigrantes da escola estadual Padre Anchieta, no Brás (região central de
São Paulo), pagam "pedágio" aos brasileiros para não apanhar fora da unidade.
A compra da "segurança" foi revelada à Folha por alunos e docentes. Aprópria direção
da unidade confirma. Para se sentirem seguros, os estrangeiros, principalmente
bolivianos, pagam lanches na cantina ou dão aos brasileiros o que têm nos bolsos, mesmo que seja R$1. "Caso contrário, apanham do lado de fora da escola", diz Mário Roberto Queiroz, 49, professor de história e mediador -função criada pela Secretaria da Educação para trabalhar junto à comunidade escolar questões como atos de vandalismo, discriminação e violência.

Um aluno e um ex-aluno da escola, ambos de 16 anos, afirmam que os casos ocorrem
pelo menos desde 2008. "Eles pedem R$1 ou R$2. Entreguei três vezes. Na quarta,
apanhei", conta um deles, que está há 14 anos no Brasil. A situação preocupa os
pais. Oboliviano José Alanaco, costureiro, prefere levar a filha de 15 anos à escola todos os dias a deixá-Ia ir sozinha. "Tenho medo do que pode acontecer."

DIVERSIDADE
Na Padre Anchieta há 2.421 alunos nos ensinos fundamental e médio. Metade é de imigrantes ou filhos de estrangeiros, diz a direção. Além de bolivianos (a maior parte), há paraguaios, peruanos, chineses, coreanos, angolanos e nigerianos.
Segundo a diretora Maria Luiza Villamar, os bolivianos são os mais discriminados.
"Chineses e coreanos têm uma condição financeira melhor, e os africanos fazem a
própria segurança andando em grupos", explica. Maria Luiza diz que todos os casos de violência envolvendo alunos são combatidos e também tratados da mesma forma. "Não separamos as ocorrências para não discriminar os imigrantes".

Para Quézia Bombonatto, presidente da Associação Brasileira de Psicopedagogia, os casos de discriminação mostram falha no processo pedagógico da escola. "A instituição deve discutir mais a diversidade e a tolerância, principalmente devido
ao grande contingente de alunos imigrantes", diz.

COMISSÃO
Em nota, a Secretaria de Estado da Educação informou que uma comissão de supervisores será enviada à escola para analisar os casos de discriminação. Apasta afirmou que, se for constatada omissão da direção, haverá punições. A Embaixada da Bolívia estima que haja aproximadamente 120 mil bolivianos no Brasil, entre regulares e clandestinos. Segundo o MEC (Ministérioda Educação), em 2009 havia 38.046 imigrantes nas escolas brasileiras de educação básica.

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