quarta-feira, 31 de março de 2010

Brasil: uma nova potência, Ou um país ainda mais dominado?

O Brasil vem sendo retratado pelo governo e pela imprensa como um gigante prestes a explodir e se tornar uma nova potência mundial. Onde se ligue um rádio, se abra uma página de jornal, ou se veja um programa de notícias na TV, lá estão as declarações de políticos, entrevistas com "especialistas" e dados selecionados "provando" esta nova tese. No entanto, ao esfriarmos um pouco a cabeça e verificarmos qual é a realidade por trás desse discurso ufanista e grandiloquente, nos damos conta de que só existem promessas, e que a vida permanece a mesma, com os problemas se agravando.

Os números não mentem, mas podem ser distorcidos. E é essa técnica, junto das projeções fantasiosas para o futuro, sem que exista nenhuma comprovação dessas expectativas, que formam a base do discurso de que "esse é um país que vai para a frente", como a ditadura gostava de dizer, ao propagandear o seu "milagre econômico". Esse termos designou os anos maia duros e repressivos da tortura no Brasil, mas em que havia um crescimento acelerado do PIB, às custas do endividamento geométrico do país. No fim das contas, o "milagre" foi mais um passo ladeira abaixo. Mas seria impensável alguém dizer isso na época, em que era consenso que o Brasil se aproximava de um futuro promissor, como nova potência.

Collor atribuiu a si mesmo a missão de que colocaria o Brasil no caminho do progresso; FHC jurava que o Brasil sem inflação era um novo país, candidato a superdesenvolvido; e, agora, Lula... faz parte da propaganda de governo exaltar avanços irrelevantes e esconder retrocessos bem mais significativos.

Nesta matéria tentaremos discutir alguns aspectos dessa ideologia claramente enganosa e reacionária, de esperar que o Brasil, com este mesmo sistema, governo e regras do jogo possa aguardar sua vez de ser grande.

Pré-sal: o petróleo não é mais nosso

Com a descoberta de jazidas gigantescas de petróleo na chamada camada pré-sal, o Brasil pula de um produtor médio para o patamar de um dos maiores donos de reservas do mundo. Em cerca de 10 anos, é possível que o Brasil se torne um grande exportador desse importantíssimo recurso energético. O pré-sal é um dos eixos do discurso de "Brasil potência".

No entanto, o pré-sal ainda nem começou a gerar produção em larga escala, e já não é do povo trabalhador brasileiro. O governo Lula autorizou a manutenção de todas as concessões privadas que existem hoje, incluindo as que se localizam em áreas abrangidas pelo pré-sal. Mesmo que a descoberta tenha sido feita com recursos e investimentos estatais, os empresários vão lucrar em cima.

Não contente com isso, Lula encaminhou ao Congresso 4 projetos que aumentam ainda mais o roubo do petróleo. Nem mesmo as novas áreas descobertas não serão estatais, e todas passarão pelos leilões, iniciados por FHC e ampliados por Lula, através dos quais, megaespeculadores e multinacionais se apossaram de boa parte de nossas riquezas. A Petrobrás pode ficar com apenas 30% das novas jazidas. Pelo menos é alguma coisa, não é? Na verdade, não, pois nem mais a Petrobrás é "nossa". Lula privatizou ainda mais a empresa, e vem entregando o controle petroquímico brasileiro à Braskem, braço energético da empreiteira Odebrecht.

Assim, o pré-sal vai trazer muita riqueza. Mas não vai ser o país, muito menos os trabalhadores que vão ganhar qualquer coisa com isso. Isso, inclusive, não vai ser nenhuma novidade, já que os atuais maiores produtores de petróleo são países muito subdesenvolvidos e com a população em condições precárias.

Copa do Mundo e Olimpíadas

Parodiando o efeito da vitória brasileira na Copa de 70, capitalizada por Médici para saudar a situação do país, em plena ditadura; o governo Lula tenta vender o peixe de que está tudo dando certo, após a escolha do país para sediar a Copa em 2014 e as Olimpíadas em 2016.

Neste aspecto, para conter a euforia despropositada, é importante olharmos a história. O Brasil sediou a Copa em 1950, e não consta que tenha mudado uma vírgula depois disso. Da mesma forma, foi a sanguinária ditadura argentina quem sediou a última Copa realizada na América do Sul, em 1978. Também neste evento, o governo tentou tirar proveito. Mas a Argentina, mesmo campeã, não ganhou nada, social e politicamente, com o evento. Pelo contrário.

Para pegarmos um exemplo mais recente, falemos do PanAmericano do Rio. Esta competição obscura, que não serve de parâmetro sequer esportivamente, gastou quase 10 vezes o que tinha sido orçado! Ou seja, o Pan serviu apenas para Lula escutar uma vaia histórica, e para empreiteiras lucrarem como nunca e políticas roubarem como sempre.

A Copa e Olimpíada não poderão ser vistas pelos trabalhadores, com seus ingressos milionários, e só trarão desvio de verbas, dívidas e autopromoção dos governos.

PIBinho

A crise econômica mundial, ao contrário da bravata da "marolinha" de Lula, atingiu em cheio o Brasil. Foram mais de 1 milhão de desempregados, que, mesmo com o índice retornando ao patamar anterior, após 1 ano, deixou um rastro de dívidas, rebaixamento de salários e gastos públicos com seguro-desemprego. O Brasil assistiu a quase 2 anos de paralisia produtiva, com a indústria despencando quase 20%, reduzindo a arrecadação e endividando o país.

O ministro Guido Mantega, disse que o Brasil não tem "pibinho", e sim "pibão". Só se for na cabeça dele, que jurou que o Brasil nunca entraria em recessão e que cresceria 2% ano passado. Aconteceu tudo ao contrário. Hoje, a inflação volta a preocupar; os juros brasileiros são os mais altos do mundo e devem tornar a aumentar; e o arrocho ao funcionalismo e lentidão em obras são reflexos cada vez mais comuns, devido à queda do recursos do orçamento.

O PIB brasileiro entrou em recessão, e, mesmo após passar pelo pior, segue pífio em comparação com outros subdesenvolvidos. O índice de "crescimento" é mais baixo que o da Índia, Argentina e outros países que ninguém imagina que se tornem potências econômicas, nem daqui a um século.

Dívida não foi paga

O último, e um dos mais fortes argumentos governistas para defender a "saúde" do país, é a versão de que o Brasil deixou de ter dívida externa e agora empresta dinheiro ao FMI. Metade disso é uma mentira deslavada, e a outra é uma verdade vergonhosa.

O Brasil, sob o comando do PT teve um dos maiores saltos da dívida pública de sua história. Hoje, a dívida pública chega perto de 1,5 trilhão de reais! Isso nunca aconteceu. Percentualmente, a dívida só cresce, apesar de bilhões serem gastos todos os anos com os juros. De 2008 para 2009, o endividamento passou de 37% para mais de 43% do PIB.

A falácia de que a dívida acabou é fruto de um jogo de cena. O governo "pagou" a dívida em dólares ao FMI, fazendo muito mais dívida, em títulos públicos. Neste caso, não trocou 6 por meia dúzia, e sim por uma dúzia inteira. A mentira, porém, se baseia no fato de que a dívida agora é para um credor desconhecido e pulverizado em magnatas estrangeiros, governos de países imperialistas e banqueiros em geral, sem que nenhum deles tenha a antipatia concentrada que tinha o FMI.

Do outro lado, é verdade que, mesmo devendo cada vez mais, o Brasil ofereceu dinheiro emprestado ao FMI. Esta ação é um escândalo, pois além de retirar recursos da saúde e educação, dá verbas para um órgão imperialista que estava falido poder se recuperar, e voltar a impor seus planos de destruição mundo afora, receitando demissões e privatizações.

Não há espaço para desenvolvimento no imperialismo

A verdade é dura, mas precisa ser dita: o Brasil não está indo, nem pode ir rumo a se tornar uma potência. Isso vale para o Brasil e para as dezenas de países pobres e semicoloniais que existem hoje.

Isto tampouco é culpa de Lula, ou de algum governo isoladamente. Isso é assim por algo muito maior: o capitalismo, como modo de produção chegou a seu limite, e não cresce mais.

Nesta fase, descrita pelo revolucionário russo Vladimir Lênin como imperialismo, a burguesia já não pode crescer para "locais novos", nem há espaço para novos integrantes do clube. Um burguês ou um país burguês, para aumentarem seus lucros, precisam tomar a parte da exploração que outro burguês ou país esteja usufruindo. Assim, a luta por espaço no capitalismo imperialista assume um caráter canibal, em que um burguês destrói ou compra o outro (e daí as fusões e monopólios), e os países entram em guerra para definir quem ficará com os mercados consumidores e matérias-primas.

Esta época, marcada por guerras, crises e revoluções (como parte da resistência da classe trabalhadora), traz ainda mais miséria aos pobres, e empobrecimento a setores que antes ainda escapavam desses ataques. Os ricos são cada vez mais ricos, e em menor número, e os pobre se multiplicam e se tornam ainda mais pobres.

No capitalismo, o Brasil só tem este triste destino pela frente. Mas a História, por outro lado, nos mostrou como foi possível que uma ilha minúscula como Cuba se tornasse uma potência esportiva, em saúde e educação (antes de ver tudo isso retroceder nos últimos anos). Não foi com Copa do Mundo que Cuba deu este salto. Da mesma forma como países de economia rural e atrasada, como a China e a Rússia viraram potências sem sediarem evento nenhum. O que fez estes países avançarem foram revoluções socialistas, em que o Estado passou ao controle operário, mesmo que burocrático, e conquistas sociais foram arrancadas através da expropriação burguesa.

Um Brasil potência é possível... só se for socialista, e como parte de uma mudança internacional.

Movimento Revolucionário
http://movimentorevolucionario.org/ct/ct25/brasilsuperpotencia.html

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