No aniversário de uma década do Fórum Social Mundial (FSM), que ocorre sempre no mesmo período que o Fórum Econômico Mundial, ambos encontros globais tiveram suas piores realizações, com números baixíssimos de comparecimento, esvaziamento político e insignificância dos debates e decisões.
Depois de nascer como uma forma de dar vazão ao sentimento antiglobalização capitalista, e de crescer com a presença de ativistas antiimperialistas, o FSM acabou. Em 2001, ano de sua 1ª realização, em Porto Alegre, o Fórum ainda era visto como um contraponto às decisões dos poderosos, tomados em Davos, no Fórum Econômico Mundial (FEM). Na época, líderes do PT (Brasil), Frente Ampla (Uruguai), e diversos outros defensores da “humanização do capitalismo”, bradavam que “Um outro mundo (era) possível”.
Apenas 2 anos depois, na mesma cidade, Lula e o PT já eram governo no Brasil, e o presidente eleito surpreendia e irritava os participantes do Fórum Social ao anunciar que, depois, iria ao Fórum Econômico em Davos. Naquele momento, Lula já deixava claro que num e noutro evento nada de diferente iria ser proposto, e que não fazia diferença que mudassem os governos ou em que Fórum estivesse.
Ali ficou provado que eles são todos iguais e que nenhum outro mundo é possível dentro do capitalismo. Lula, Tabaré Vázquez (Uruguai), Evo Morales (Bolívia), Bachelet (Chile), etc., foram eleitos e nada de significativo mudou, nem no mundo, nem sequer em seus países. Passados 10 anos, a máscara dos Fóruns caiu, e, para os trabalhadores, não faz mais nenhum sentido suas existências.
Fórum dos ricos: banqueiros ainda desnorteados após o pior da crise
O Fórum Econômico Mundial, que tradicionalmente ocorre em Davos, na Suíça, nesta edição demonstrou os descaminhos que a burguesia está atravessando nesse momento, onde mesmo que os rumos da economia estejam retornando precariamente aos eixos, ainda está longe de ser o que era.
Este ano, mesmo com o “pior da crise” tendo passado, e à volta à cena dos banqueiros, escondidos em 2009, o comparecimento de nomes consagrados foi muito grande, e o evento foi caracterizado por representantes e substitutos. Em 2008 e 2009, os banqueiros e políticos fugiram dos debates, preocupados em deixar a “poeira baixar”, e negociar trilhões de dólares públicos, sem chamar a atenção. Agora, mesmo com a saída das sombras, essas figuras ainda têm de moderar seus discursos, pois sabem do ódio que a maioria do mundo ainda sente por eles, os culpados pelos milhões de desempregados, endividados e despejados.
O grande assunto de Davos neste ano foi o que se fará para reconstruir a economia capitalista daqui em diante. Até mesmo a burguesia e seus analistas reconhecem, portanto, que a economia está longe de ter se recuperado, e que o capitalismo é que está na berlinda.
E todo esse debate, acerca dos rumos a se seguir, está explicitamente impresso no próprio lema do Fórum: “Melhorar o estado do mundo: repensar, redesenhar, reconstruir”. Tudo isso para tentar demonstrar que os banqueiros se preocupam com o estado deplorável com que as maiores economias se encontram. Mas, na verdade, o que se está demonstrando é que a burguesia pouco se importa com os rumos globais, já que nenhuma medida prática, que chegue perto de pôr fim à crise e as instabilidades políticas e econômicas acabem.
Na realidade, não há nada que os teóricos burgueses e os grandes patrões possam fazer: o capitalismo está falido historicamente. Seus planos e debates se resumem a ver como podem adiar o colapso e fazer com que sejam os trabalhadores a pagar por seus efeitos.
Soluções de “faz de conta”
O grande centro dos debates ocorridos em Davos ficou em torno das polêmicas regulamentações do mercado financeiro. Desde 1944, com o acordo de Bretton Woods, após a 2ª Guerra Mundial, não se discutia a necessidade de mudanças tão drásticas nas políticas econômicas dentro do capitalismo. Mais uma vez, diante da destruição de forças produtivas e de sua saturação no capitalismo, o Estado se vê obrigado a regular o mercado.
No entanto, em 1944, se visava reerguer a economia capitalista, após ela ser totalmente destruída pela guerra; e também evitar que as organizações operárias tomassem o poder. Era o famoso “medo do comunismo”... Neste período, o capitalismo precisou, e ainda pôde, conceder muitos benefícios sociais aos trabalhadores, com o objetivo de acalmar as lutas e “dar alguma coisa para não perder tudo”.
Hoje, há 2 fatores que são ainda mais graves no papel nefasto que cumpre o capitalismo. O 1º deles é que não existiu nenhuma guerra em proporções mundiais, com toneladas de bombas caindo, milhões de mortos e a destruição física de fábricas, estradas, pontes, hospitais, plantações, etc. Foi a superprodução de mercadorias, assim como tinha sido em 1929, e a anarquia da produção combinada com o crescimento fictício do consumo baseado em crédito (leia-se endividamento), que criaram as “bolhas” financeiras e imobiliária, que levaram à crise mundial.
O 2º fator é que, além de ainda mais visivelmente a crise atual ser decorrência do capitalismo, a situação atual não permite que haja investimentos massivos em concessões sociais ou obras públicas, por exemplo. Após mais de 60 anos da última “reconstrução e redesenho” capitalistas, a burguesia está num beco sem saída, e não é capaz de evitar uma nova crise e novos protestos violentos contra seus governos.
Mudando de tema, a burguesia internacional, além da crise, também debateu o meio-ambiente em Davos. Outro fracasso! Podemos dizer que já está colecionando eventos em que se discute muito e nada é resolvido.
Foi assim na COP-15, conferência mundial para debater as questões ambientais, principalmente as climáticas; e agora novamente em Davos. Nem mesmo Barack Obama, aparentemente demonstrando iniciativa de regular mais o mercado, com diversos mecanismos que impedissem o excesso de crédito, foi diferente. A inadimplência da população e o endividamento recorde dos países voltam a conturbar toda a economia; mas nem mesmo isso bastou para que se definisse alguma medida.
Fórum dos pobres: a burguesia fica muda, os ativistas de esquerda ficam quietos
O Fórum Social Mundial nasceu para ser o contraponto ao Fórum de Davos. Enquanto a burguesia se reunia para discutir as medidas necessárias para manter a sociedade do mesmo jeito, o FSM se propunha a reunir os ativistas e militantes que buscavam “um outro mundo possível”.
Porém, mesmo o Fórum tendo nascido anunciando esse intuito, a direção do evento, desde o início composta de modo policlassista, por empresários (como Oded Grajew), grupos econômicos imperialistas (como o Le Monde) e organizações oportunistas e burocráticas (como o PT), nunca permitiram que a base realmente antiimperialista decidisse alguma coisa.
A experiência negativa com governos que só eram diferentes nos discursos dos tempos de oposição, e a ausência de propostas nos encontros, fizeram com que cada vez menos ativistas dedicados à mudança social vejam o Fórum como uma verdadeira expressão de um encontro que busca uma mudança.
Os números mostram isso: o FSM já teve uma marcha de abertura com mais de 200 mil pessoas em 2005, e este ano teve pouco mais de 10 mil, na sede de Porto Alegre. Qualitativamente, foi pior ainda: a maioria era de militância paga por centrais sindicais de direita ou ligadas, de alguma maneira, às políticas governistas. Eram os casos da CUT, Força Sindical, CTB, etc.
.Ao contrário de alguns militantes que pensam que o FSM se perdeu, a própria essência da constituição do FSM é a busca por reformar o capitalismo. Desde sua 1ª edição, nas entrelinhas, ficava claro que se podia explorar, mas não tanto; que se podia degradar a natureza, mas não tanto; etc.
Todas as questões discutidas, na verdade, giram em torno da existência do capitalismo; e, para que uma melhora para a humanidade seja efetivamente conquistada, somente lutando para acabar com o capitalismo.
E Lula dessa vez foi nos dois Fóruns como nos outros anos?
Lula, “o cara” do imperialismo, discursou para 10mil pessoas em Porto Alegre, em mais uma aparição escancaradamente eleitoreira, onde falou aos presentes todas as maravilhas que aplicou em seus dois mandatos... Além disso, aproveitou para declarar que Davos tinha perdido o glamour, numa gesto patético de tentar dizer que, no fundo, prefere o FSM.
Enquanto isso, na cidade suíça, era dado a ele o prêmio de estadista global, que Meirelles, o tucano neoliberal, nomeado e mantido como presidente do Banco central dos 8 anos de Lula, recebeu em seu nome. Um prêmio dos maiores banqueiros do mundo, concedido pelos méritos e serviços prestados aos homens que criaram a crise, que demitiu milhões de trabalhadores.
O que se torna evidente diante dos dois encontros – o dos ricos e o dos pobres - é que tanto um quanto o outro estão falidos e não respondem à realidade. Está na hora dos trabalhadores assumirem o controle de seu próprio caminho e fortalecerem suas lutas e resistência com a unidade nas ruas e a formação de estruturas populares e operárias de massas, em combinação com a luta por uma nova direção para os trabalhadores. Estes devem ser nossos fóruns e esse é o caminho para outro mundo!
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário