quinta-feira, 14 de outubro de 2010

GRITO DOS EXCLUÍDOS - FORTALEZA – CE

Vida em primeiro lugar. Onde estão nossos direitos? Vamos às ruas para construir o projeto popular! Segunda-feira, 6 de setembro de 2010. Em pleno feriadão, a Praça dos Mártires, conhecida como Passeio Público, começou a receber crianças, jovens, mulheres, homens, idosos dos mais variados cantos e recantos de Fortaleza. O que queriam? O que traziam? Queriam mostrar que nas periferias da cidade existe arte, criatividade, alegria e esperança, a despeito da exclusão. O movimento afro trouxe sua ginga que se juntou à beleza da juventude, que se uniu ao olhar vivo do idoso, que encontrou resposta no sorriso corajoso da mulher. Assim, como um mosaico colorido e ao som de apitos e atabaques, começamos a realizar o 16º Grito dos Excluídos. Mas gritar a exclusão e dançar a esperança, tendo como testemunhas os baobás, parecia pouco para nós. Então, ousamos ocupar as ruas do centro da cidade em bonita passeata, carregando cartazes e faixas que relembravam as lutas históricas: saúde, educação de qualidade, moradia, lazer, trabalho. Parafraseando Chico Buarque, podemos afirmar que o comércio, os tristes, os alegres, o trânsito, todos pararam para nos ver passar. Ninguém conseguiu ficar indiferente àquele trem de um só vagão, imenso e colorido que apitava e gritava em uníssono um convite: vamos às ruas para construir um projeto popular. O sol inclemente de setembro foi camarada e, acreditem, como diz o sertanejo, “fechou um olho” e seguiu sereno conosco até a Igreja do Rosário, erguida sobre o clamor do negro escravo. Fizemos memória da luta daquele povo que doou suor e sangue na construção dessa cidade. E lá alimentamos nossa mística no canto afro, não de lamento, mas de consciência da verdadeira história escrita por nossos antepassados. O crepúsculo anunciava a noite quando chegamos à Praça do Ferreira, coração de Fortaleza. E o que se construiu naquele palco, sim, tinha um palco, foi um marco a ser contado e recontado a boca miúda, como se diz aqui: sem teto, moradores de rua, crianças, mulheres ocuparam o espaço e, sem outorgar sua voz a ninguém, falaram em primeira pessoa suas dores, agruras e anseios. O que exigem dessa cidade? Nada mais do que o que já está assegurado na Constituição Brasileira: direitos essenciais à vida. Afinal, que Pátria mãe gentil é essa, que deixa seus filhos dormirem com fome e ao relento? E após tantos gritos, partilhamos pão. Éramos muitos, mas sobrou. Quando há partilha sempre sobra, e oferecemos a quem quisesse ver, como entendemos a vida: uma ciranda de igualdade, mas ricamente diversificada, em que cada um aperta firme a mão do outro, que respeita e faz concessão ao ritmo do outro. E dançamos. Nunca a Praça do Ferreira assistira a tão singelo hiato no corre-corre de cidade grande. E pensar que era segunda-feira, seis de setembro. Pleno feriadão.
Ir. Claudine e equipe Pastoral dos Migrantes
Fortaleza - CE

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