José Carlos Alves Pereira
(Serviço Pastoral dos Migrantes – SPM)
O IV Fórum Social Mundial das Migrações - FSMM encerrou-se em 12 de Outubro com uma forte, politizada e multicolorida marcha de cerca de 2000 pessoas. Elas partiram às 09:00 do Centro Cultural da PUC-Equador até a Praça Santo Domingo, onde houve apresentações, ritos, falas e cantorias. Muitas dezenas de entidades e movimento social de 43 países estavam presentes com seus militantes e lideranças empunhando suas faixas, bandeiras, cartazes e cantando palavras de ordem como “Povos em movimento por uma cidadania universal”, “Por um mundo sem fronteiras, nossa terra, nossos sonhos, nossos direitos, nossa morada”.
A forte presença das mulheres, dos jovens e do movimento indígena camponês foram os destaques da marcha. Mulheres migrantes das cidades, mulheres migrantes dos campos, mulheres migrantes caiçaras clamavam e cantavam pela derrubada do patriarcado, pela prevenção e combate à exploração sexual e ao tráfico de seres humanos. Reivindicavam seus direitos de trabalho digno e igualdade política e social.
Os jovens bradavam pelo fim da exclusão social, pela derrubada dos muros e fronteiras de países que violam os direitos humanos e impedem o gozo do direito de viver e caminhar na Terra como pátria mãe de todos os povos. Cantavam a educação, a saúde, a arte, a participação política, a liberdade de expressão e o trabalho digno como direitos universais.
As mulheres e homens indígenas clamavam por uma terra mãe que acolhesse a todos e todas garantindo-lhes pleno acesso à água, a sementes crioulas, a alimentos saudáveis, ao respeito por suas culturas, credos e modos de vida.
Juntos, todos denunciavam o modelo capitalista de civilização como o grande gerador de desigualdades, destruidor da humanidade e da natureza.
Os equatorianos às portas de lojas, calçadas e janelas tinham os olhos brilhantes e embebidos pelo mar de gente marchando pela derrubada dos muros, fronteiras e desigualdades que violam os direitos humanos
Com suas gentes, seus brados, bandeiras, cantos e cores, a marcha preencheu ruas e avenidas inteiras. Quase não cabia dentro delas, e, foi se derramar, inundar a Praça Santo Domingo no centro histórico de Quito.
A confluência para a praça transformou-se em rito, liturgia, mística que entrelaçou sonhos, lutas, povos, mulheres, homens, jovens e lideranças. A esta altura, nem o escaldante sol equatoriano do meio dia conseguiu abafar suas vozes, seus cantos ou murchar suas esperanças de construção de um novo modelo de civilização caracterizado pela diversidade de culturas, e não por hierarquias entre elas; pelo pleno direito de migrar, mas também de ficar; pela dignidade de todas as pessoas migrantes sem distinção de sexo, etnia e classe social; por um desenvolvimento social, econômico e ambiental sustentável; pelo surgimento e protagonismo de novos atores sociais em um marco de justiça e democracia plenas.
A marcha representou uma bela síntese do Fórum e a expressão da luta por reconhecimento de um mundo sem muros e todas as mulheres e homens como cidadãs e cidadãos universais. As pessoas marcharam, falaram, apresentaram, cantaram com uma simbiose entre suas mentes, sonhos e corações. Vivendo a experiência da marcha, tive alimentadas e fortalecidas minhas convicções de que a mobilização e organização popular criam, formam, educam novos atores sociais capazes de sonhar, lutar e construir um outro mundo, onde não a mercadoria, mas a pessoa humana seja a prioridade das relações sociais.
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