terça-feira, 26 de julho de 2011

Caravana percorrerá rota dos imigrantes para denunciar assassinatos e sequestros

Camila Queiroz

Jornalista da ADITAL

Adital


Começa amanhã (23) a segunda edição da Caravana Passo a Passo pela Paz para os Imigrantes, quando organizações civis percorrerão duas rotas que os imigrantes fazem no México, em trânsito para os EUA.

Saindo da Guatemala, os manifestantes têm como destino o estado mexicano de Veracruz, aonde chegarão no dia 28 para apresentar um informe ao Relator da Comissão Interamericana de Direitos Humanos sobre Trabalhadores Imigratórios e Membros de suas famílias, Felipe González.

Dentre os principais objetivos da mobilização estão denunciar os assassinatos, exigir solução para os mais de 20 mil sequestros a imigrantes registrados anualmente pela Comissão Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e pedir esclarecimento sobre as fossas coletivas e massacres de imigrantes em passagem pelo México.

Uma das rotas será percorrida de trem e sairá do ponto fronteiriço El Ceibo, passando pelo estado mexicano de Tabasco até a localidade de Medias Aguas, Veracruz, onde encontra com a outra rota.

O segundo caminho será feito de carro, saindo da Praça da Constituição, na Cidade de Guatemala, onde haverá um ato público. Familiares de imigrantes desaparecidos, imigrantes que sofreram violações no México, ativistas de direitos humanos e jornalistas de Honduras, El Salvador e Guatemala irão em direção ao município de Tecún Umán, fronteira com o México, de onde sairão rumo a Media Aguas.

Tanto no México quanto na Guatemala, os manifestantes serão resguardados pela Polícia Nacional. Apesar disso, os organizadores destacam que não se trata de uma excursão de turismo, pois são rotas muito perigosas. No México, os manifestantes contarão com hospedagem e alimentação nas casas e albergues para imigrantes.

Defensor dos imigrantes centroamericanos, padre Alejandro Solalinde explica que o estado de Veracruz foi escolhido como destino da caravana por ter "se transformado no principal centro de recrutamento da delinquência organizada”. Os imigrantes são forçados pelos traficantes a transportar drogas, sob ameaças de morte, e isso, segundo ele, já se tornou rotineiro.

Para o Movimento Civil contra os Sequestros das Pessoas Imigrantes no México, a presença de grupos criminosos organizados e a cooperação das autoridades com eles é a causa dos mais de 20 mil sequestros de imigrantes por ano.

"As autoridades deslocaram a obrigação de velar pelo bem-estar social e a justiça, a favor dos interesses do crime organizado. A sociedade veracruzana se encontra hoje em um alarmante estado de desamparo, pois o simples fato de pronunciar a palavra ‘zeta’ pode ser motivo de perseguição, extorsão e inclusive de morte", denunciam.

Em comunicado, o movimento considera que a caravana divulgará a problemática dos imigrantes, abrirá canal de diálogo entre estado e população para combater a impunidade e desenvolverá um documento de divulgação.

Os ativistas exigem que se investiguem as agressões e sequestros e que não haja mais batidas noturnas da Policia federal e do Exército no Instituto Nacional de Imigração, pois são inconstitucionais e violam os direitos humanos. Além disso, pedem que as autoridades municipais, estaduais e federais sejam processadas penalmente por omissão e cumplicidade nos mais de 20 mil sequestros anuais e pelos massacres de imigrantes.

Dados



De acordo com a CNDH, por ano, 300 mil imigrantes centroamericanos sem documentos e 400 mil mexicanos percorrem entre mil e 4 mil quilômetros para chegar aos Estados Unidos.

O órgão afirma que os lugares onde os imigrantes correm mais perigo estão relacionados com a rota do trem que utilizam no México. São 16 os estados mais perigosos: Baja California, Chiapas, Coahuila, Estado de México, Guanajuato, Guerrero, Michoacán, Nuevo León, Oaxaca, Querétaro, Quintana Roo, San Luis Potosí, Sonora, Tabasco, Tamaulipas e Veracruz.

Em San Fernando, município de Tamaulipas, 72 imigrantes foram massacrados em agosto do ano passado e, em abril deste ano, a polícia encontrou 145 corpos em valas comuns. Os assassinatos são atribuídos aos bandos Los Zetas e policiais foram indiciados por envolvimento.

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