O Departamento de Justiça está conduzindo uma investigação criminal de expedições de pesca esportiva na Amazônia, que podem estar sendo usadas como fachada para americanos manterem relações sexuais com menores de idade, segundo novos documentos apresentados à Justiça.
A reportagem é de Barry Meier, do The New York Times e publicada pelo jornal Folha de S. Paulo, 12-07-2011.
A investigação e dois processos relacionados – uma investigação criminal paralela no Brasil e um processo incomum impetrado em um tribunal federal na Geórgia – forneceriam um retrato raro de operações da indústria internacional de turismo sexual de bilhões de dólares, que cada vez mais tem se concentrado no Brasil.
“O Brasil está tomando o lugar da Tailândia como principal destino de turismo sexual”, disse Kristen Berg, uma representante da Equality Now, uma organização de defesa em Nova York, que ajudou a impetrar o processo na Geórgia.
O processo foi aberto no mês passado em prol de quatro mulheres brasileiras, que alegam ter sido coagidas quando eram menores a servirem como prostitutas para americanos, em expedições de pesca na Amazônia conduzidas por um empresário da área de Atlanta. Uma das mulheres disse que tinha 12 anos na época.
Berg disse que o processo é a primeira vez em que uma lei federal, a Lei de Proteção às Vítimas de Tráfico e Violência, de 2000, é usada para buscar indenização de alguém acusado de operar turismo sexual.
Na quinta-feira, o réu no caso, Richard W. Schair, entrou com uma ação pedindo que o processo seja suspenso. Ela cita a continuidade das investigação criminal tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil.
Em uma breve entrevista por telefone, Schair, que opera uma imobiliária na área de Atlanta, disse que as alegações envolvendo turismo sexual com menores de idade são falsas. Ele se recusou a discutir detalhes específicos das investigações.
“As alegações são falsas”, ele disse. “Os fatos provarão isso.”
Solomon L. Wisenberg, um advogado em Washington que representa Schair na investigação criminal federal, disse estar confiante de que seu cliente não enfrentará acusações. O status da investigação não é claro, já que autoridades do Departamento de Justiça se recusaram a comentar.
Berg, da Equality Now, disse que o grupo ajudou a impetrar o processo na Geórgia porque estava à procura de casos envolvendo turismo sexual com menores de idade no exterior, para estabelecimento de precedente.
Ela disse que ela e os advogados de uma firma grande, a King & Spalding, que está trabalhando no caso pro bono, viajaram ao Brasil para entrevistar as testemunhas potenciais, incluindo as mulheres jovens.
Tanto o processo quanto a investigação criminal federal são aparentemente uma consequência de um processo separado impetrado em 2007 por Schair, contra outro operador de excursões de pesca na Amazônia, Philip A. Marsteller.
Naquela ação, Schair acusou que Marsteller o difamou, ao dizer às pessoas que ele fornecia prostitutas e drogas para seus clientes das excursões de pesca. Marsteller manteve seus comentários e, como parte de sua defesa, buscou declarações das mulheres jovens no Brasil, assim como de funcionários da empresa de Schair, chamada Wet-A-Line Tours. A empresa não está mais funcionando.
Em 2008, os dois homens resolveram o caso com um acordo, com Schair indenizando Marsteller, disse Kevin Buchanan, um advogado de Dallas que representou Marsteller. Buchanan disse que a informação que surgiu durante o processo levou as autoridades federais a começarem a investigar empresas americanas ligadas a turismo sexual envolvendo menores no Brasil.
Várias reportagens na imprensa nos últimos anos indicaram que Schair era alvo de investigações criminais tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil. Mas o processo impetrado na quinta-feira, somado ao processo na Geórgia, é a primeira vez que as investigações são reconhecidas publicamente.
Segundo os documentos apresentados por Schair à Justiça, o promotores federais em Miami enviaram uma intimação do grande júri à sua empresa em 2009, pedindo, entre outras coisas, por sua lista de clientes.
Outro documento mostra que os promotores notificaram sua ex-esposa, em dezembro, que os investigadores tinham obtido informação indicando que ela esteve “envolvida com a empresa e/ou um indivíduo que pode ter praticado turismo sexual com menores no Brasil”.
Ao ser perguntada sobre os documentos, uma porta-voz do Departamento de Justiça em Miami, onde está baseada, se recusou a confirmar ou negar, por questão de política, a existência da investigação.
Traduções dos documentos brasileiros, anexados por Schair ao processo, mostram que ele também é acusado aqui em uma investigação de exploração sexual de menores. Ele nega a acusação.
Schair apresentou espontaneamente os documentos na quinta-feira.
Segundo o processo impetrado no mês passado, Schair ou seus funcionários ou clientes recrutaram meninas jovens em clubes ao longo do Amazonas para se juntarem a eles em um barco de pesca, onde as meninas foram coagidas a praticarem atos sexuais e então pagas.
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=45266
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