sexta-feira, 8 de julho de 2011

Por que parábolas?

10 de julho de 2011 – 15° Domingo do tempo comum - Ano A

Isaías 55,10-11; Salmo 64; Romanos 8,18-23; Mateus 13,1-23

Por que parábolas?

Lendo bem rapidamente as versões de Lucas ou de Marcos deste mesmo episódio, poderíamos pensar que Jesus fala em parábolas - palavra que pode ser traduzida por “comparação” – para não ser entendido pelos ouvintes. Em Mateus, pelo contrário, Jesus nos diz que usa analogias, porque eles não compreendem a verdade toda, nua e crua. Com isso faz com que nos demos conta de algo essencial: o Reino de Deus, isto é, este universo, onde a vontade de amor que constitui Deus será inteiramente participada pelos homens, já está presente e ativo na criação e em nossa vida quotidiana. “o Reino de Deus é semelhante…”, diz Ele, com freqüência, no início das parábolas. Vivemos isto, portanto, sem o saber e a parábola nos permite descobri-lo. Na 2ª leitura, Paulo no diz que toda a criação geme também em dores de parto. Jesus seria desde logo rejeitado, se dissesse diretamente toda a verdade. Qual verdade? Seus ouvintes imaginam que Ele veio restabelecer a autonomia de Israel. Veio, no entanto, fazer seus os sofrimentos e a morte de todos os seres humanos, a fim de libertá-los. Não o compreenderiam, os ouvintes medianos? Nem mesmos os próprios discípulos, como podemos constatar, a propósito de Pedro, em Mt 16,22-23 ou em Mc 9,30-32! Notemos que todos os ensinamentos de Jesus, de um modo ou de outro, comportam uma perspectiva pascal. Não é nada fácil, reconheçamos, decifrar a presença do amor na morte. Entretanto, se não se chega até lá, permanecem por inteiro os nossos problemas. Tenhamos confiança: a 1ª leitura nos diz que a palavra emitida por Deus – que, para nós, é Cristo – não voltará para Ele sem ter antes irrigado a terra.

Como a terra recebe a semente

A parábola sobre o que ocorre com os grãos, de acordo com a qualidade da terra, é uma parábola sobre o destino de todas as parábolas. Estamos diante de uma “multidão imensa” atraída pela fama de Jesus. A maioria labora em erro, acerca do que Ele vem trazer, não compreendendo, por isso, o que Ele diz, nem captando o sentido do que O vêem fazer. Três terrenos ou três destinatários dentre quatro mostram-se incapazes de apresentar-Lhe o seu fruto. E os componentes da quarta categoria não apresentam todos a mesma fecundidade: cem por um rendem alguns, sessenta rendem outros. Outros, por fim, apenas trinta. Podemos, desta sorte, entender que a quantidade de fruto apresentada pela mesma pessoa pode variar, segundo as dificuldades encontradas, o estado momentâneo de espírito. Tudo isso acontece ainda hoje. Não desesperemos, pois, ao ver três quartos das pessoas permanecerem insensíveis ao anúncio de Cristo, ou mesmo desprezá-Lo, contestá-Lo: já era previsto. Transitamos hoje de um pertencer sociológico ao cristianismo, herdado da família ou do meio, a uma adesão fundada em adesão pessoal. É a hora do pequeno número, conforme a qualidade dos “terrenos”: os não empedrados, os mal capinados, ou os que estão prestes a dar frutos. As parábolas dirigem-se, portanto, a todos nós, ajudando-nos a compreender o que se passa. Como os ouvintes da “multidão imensa” que se reuniu em torno de Jesus, muitos de nós tornarão a fechar o Novo Testamento, de novo partindo para ocupar-se de seus afazeres habituais. Para estes, Jesus teria falado em vão: a Palavra-semente não haverá de produzir nem cem nem sessenta, nem trinta por um. Compreendamos que Cristo se dirige a cada um de nós. E que temos de nos questionar sobre o tipo de terreno que somos e sobre que fruto a palavra produziu até agora em nós.


P. Marcel Domergue S.J.
Tradução livre de www.croire.com por J.J.F.Lara

Nenhum comentário:

Postar um comentário