DADAAB, Quênia, 6 de julho (ACNUR) - Com a entrada de milhares de refugiados somalis pela fronteira do Quênia, a pressão no complexo de refugiados Dadaab aumentou e, nesta semana, o local viveu uma explosão de violência.
Os tumultos começaram na quinta-feira, 30 de junho, quando a polícia queniana tentou dispersar uma multidão que protestava contra a demolição de estruturas ilegais em torno de um ponto de distribuição de alimentos no campo de Dagahley, em Daadab. Gás lacrimogêneo e munições foram usados. Segundo informações do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR), dois refugiados foram mortos e cerca de dez ficaram feridos.
A situação de segurança ainda estava sendo avaliada na quinta-feira. "Infelizmente, este incidente é sintomático das pressões no acampamento em meio à superlotação, agravada pelo elevado número de somalis que chegaram", disse o porta-voz do ACNUR, Adrian Edwards, na sexta-feira.
Mais de 61 mil somalis têm buscado proteção no Quênia neste ano, incluindo 27.000 desde 06 de junho, o que elevou o número total de pessoas que vivem nos três campos de Dadaab para mais de 370 mil. Isto torna o maior campo de refugiados do mundo cada vez mais complexo.
Para serem registrados, os recém-chegados têm recorrido a três novos centros de atendimento emergencial. Cerca de 1.300 chegam a cada dia, principalmente agricultores e criadores de gado do Baixo Juba e da cidade de Dhobley. Muitos fugiram de suas casas por causa da seca intensa e da falta de comida.
O ACNUR está preocupado tanto com a superlotação em Dadaab quanto com a saúde dos recém-chegados. "A condição física dessas pessoas é uma questão significativa para nós. Muitas famílias têm andado por dias, e estão esgotadas e desesperadas por comida, água e outros auxílios", disse o chefe do sub-escritório do ACNUR em Dadaab, Olivier Fafa Attidzah.
Husane, de 69 anos, é um dos recém-chegados. Segundo ele, a caminhada feita por sua família para chegar ao Quênia durou mais de três semanas. Eles saíram da cidade de Soko, no sul da Somália, onde não chove há três anos. "Muitos outros estão a caminho, porque não há comida", disse ele, acrescentando: "perdi todo o meu gado".
"Alguns de meus filhos estavam chorando por comida, mas eu disse a eles para serem pacientes. Vamos continuar caminhando, e vamos chegar lá", disse a esposa de Husane, Mathina.
No momento, o ACNUR trabalha com autoridades quenianas e outras agências humanitárias para atender à nova onda de refugiados. Como a desnutrição é uma grande preocupação, todos os recém-chegados recebem biscoitos com alto teor de energia. Outros alimentos e cuidados são distribuídos após o registo.
Encontrar espaço para os refugiados está se tornando mais difícil e o crescente número de refugiados já ultrapassa os limites do campo. A nova diretiva para as agências do governo descongestionarem os campos de Dadaab ainda não foi implementada. Um novo local, Ifo II, já está pronto para receber refugiados, mas a autorização oficial de abertura não foi concedida.
Atualmente, mais de 50.000 refugiados - na maioria mulheres e crianças - vivem em áreas não regulamentadas, algumas das quais são vulneráveis a inundações sazonais. Embora o ACNUR e seus parceiros ofereçam tendas, latrinas e água, muitos refugiados têm acesso limitado aos serviços básicos de ajuda humanitária.
Nuria, uma viúva com seis filhos, fugiu para Dadaab com dinheiro arrecadado pelo imã de sua aldeia. “A viagem foi difícil. Quando ficamos sem comida e dinheiro tivemos que pedir a pessoas ao longo do caminho para que nos ajudassem”, disse ela. Ela e seus filhos foram atacados por bandidos e tiveram seus pertences roubados.
A Etiópia também enfrenta uma nova onda de chegadas, com 55.000 refugiados somalis que vieram desde o início deste ano. Mais de um quarto deles estão subnutridos, e entre as crianças essa taxa é ainda mais elevada: três em cada cinco. O ACNUR lançou um programa de alimentação para crianças com idade inferior a cinco anos. Segundo a agência, para lidar com esta situação é necessário que mais financiamentos sejam providenciados.
Os dois campos existentes no sudeste da Etiópia - Bokolmanyo e Malkadida - acomodam mais de 70.000 refugiados e já esgotaram sua capacidade. Para fornecer proteção e abrigo aos recém-chegados, um terceiro campo no sudeste foi aberto na última sexta-feira em Kobe, a cerca de 50 quilômetros da cidade de Dollo Ado.
O ACNUR já transportou 7.500 refugiados somalis do centro de trânsito em Dollo Ado para o campo de Kobe, que tem capacidade para até 20.000 pessoas. No entanto, o movimento entre o centro de trânsito e Kobe já é significativo, e o novo campo deverá atingir sua plena capacidade em questão de dias. As autoridades etíopes já alocaram terras para um quarto campo perto de Kobe.
“Junto com nossos parceiros, estamos expandindo rapidamente a infra-estrutura básica, incluindo água e saneamento, um centro de saúde básica e instalações comunitárias. Escolas e outras instalações também estão sendo planejadas", disse Edwards.
Existem hoje mais de 750 mil refugiados somalis vivendo na região, principalmente no vizinho Quênia (405 mil), no Iêmen (187 mil) e na Etiópia (110 mil). Outros 1,46 milhão de pessoas estão deslocadas dentro da Somália.
Leia mais em: www.acnur.org.br
1 refugee without hope is too many.
1 seul réfugié privé d'espoir c'est déjà trop.
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