terça-feira, 11 de agosto de 2009

Em busca de novos caminhos

Jornada de lutas inicia com marcha estadual do MST em São Paulo exigindo reforma agrária


Jonathan Constantino,de Campinas (SP)

Um clima estranho ronda o acampamento. Espalhados pelos espaços gramados, militantes descansam no fim de tarde. O sol se põe a oeste, sob nuvens que se concentram apenas ali.
Todos se recordam da noite de quarta (05). O Largo do Rosário, cenário histórico da cidade de Campinas, recebeu por volta de 700 pessoas entre militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e uma série de organizações e partidos políticos apoiadores da Marcha Estadual do MST que se iniciaria ali, com um ato político-cultural e, na manhã seguinte, sairia em direção a São Paulo.

A primeira noite
Iluminados pela lua cheia, os manifestantes empunhavam suas bandeiras no alto de mastros. No palco, ornamentado com bandeiras do MST e um grande pano a ostentar a ilustração feita pelo arquiteto Oscar Niemeyer, discursaram lideranças de partidos políticos, movimentos sociais, sindicatos, centrais indicais e pastorais sociais.

Após os discursos, os versos. Subiram ao palco as bandas de rap “A outra face” e “A família”. Ambas, através de rimas precisas, denunciaram as contradições presentes nas periferias urbanas, carentes de ações sociais do Estado. Periferias essas existentes nas cidades onde a marcha passará.

Ao retornarem para o alojamento naquela noite, os militantes ansiavam pelo alvorecer. Percebia-se rodas de conversa, discussões e preparativos. Ruídos, vozes e o som dos talheres a arranhar as marmitas.

O movimento defende uma importante pauta de reivindicações. A luta pelo acesso à terra, o direito de trabalhar e poder proporcionar dignidade à sua família. Enquanto as regionais se organizavam e muitos preparavam sua bolsas para o dia seguinte, um garoto dormia estirado num colchão. Sonhando(?).

A marcha
Era por volta das 8 horas da manhã de quinta-feira, quando cerca de mil e duzentos militantes, organizados em duas fileiras, deram os primeiros passos. O objetivo do dia era marchar até Vinhedo, aproximadamente 22 quilômetros. Com os pés já na rodovia Anhanguera levantavam seus mastros e suas bandeiras tremulavam ao vento.

Passos firmes. Do carro de som, um coletivo animava os marchantes com palavras de ordem e explicações sobre os objetivos da marcha. Ela caminhará até São Paulo. Pretende-se com ela propor à sociedade como um todo o diálogo sobre a Reforma Agrária e a crise econômica mundial com suas características, razões e consequências, além de debater propostas para um projeto popular para o Brasil. Os componentes das fileiras acreditam ser necessário denunciar a concentração de terras na mãos de latifundiários, enquanto milhares de pessoas passam fome no campo e nas cidades. É necessário lutar, é necessário seguir.

O sol ia se centralizando no céu, forte. O corpo se desgastava. Algumas pessoas precisavam do auxílio de um veículo para prosseguir, mas sem maiores problemas.

Alguns militantes puxavam palavras de ordem para animar os marchantes, algumas vozes já roucas de gritar. Jovens saíam das filas e entregavam panfletos explicativos sobre a marcha para os trabalhadores que executavam serviços no gramado da beira da estrada. Trabalhadores paravam para observar. Veículos que passavam na faixa de rolamento saudavam a marcha, outros protestavam em contrário.

"Na luta do povo ninguém se cansa", gritava a multidão. Persistiam. Tinham como exemplo o senhor Luis Beltrame, do assentamento Reunidas, em Promissão (SP). O poeta centenário participa de sua décima marcha ao longo dos 25 anos do MST. Ele marchou os primeiros 10 minutos e depois seguiu de carro, devido a idade.

Porém, no meio do caminho, a buzina, o corre-corre, o desespero. Assombro, lágrimas e os nervos à flor da pele. O caminhão saiu da estrada e avançou pelo acostamento e atingiu a companheira. Dor.

Neste fim de tarde, um clima estranho ronda o acampamento. Mas Maria Cícera Neves, de 58 anos, está presente. A luta continua. Já é noite.

Jonathan Constantino é colaborador Brasil de Fato

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