terça-feira, 18 de agosto de 2009

Sul-americana já emigra por conta própria

Até os anos 90, elas viajavam sobretudo acompanhando o marido, mas em 2000 já eram a maioria dos emigrantes, diz estudo do PNUD

PNUD – 14/8/09

Com mais oportunidades de trabalho e mais responsabilidades, as mulheres da América do Sul estão ganhando autonomia para mudar de país. Elas já são a maioria dos que saem de países sul-americanos para viver dentro ou fora da região e cresce a aceitação para aquelas que viajam sem parentes ou parceiros, conclui o estudo Gênero e Migração Intrarregional na América do Sul. O documento é parte de uma série chamada Human Development Research Papers, que vai subsidiar a próxima edição do RDH (Relatório de Desenvolvimento Humano), sobre migração.

Na média mundial, a porcentagem de mulheres entre os emigrantes cresceu 4,7% de 1960 a 2000, mas, na América do Sul, o crescimento foi de 12,9%. Há nove anos – último dado disponível no estudo –, elas já representavam 50,5% do total de emigrantes. Considerando apenas os fluxos para outros países dentro do continente sul-americano, elas representam 52,5%. O aumento intenso, sobretudo na migração interregional, mostra que as mulheres deixaram de depender dos maridos e, em alguns casos, se tornaram as responsáveis pela decisão de emigrar.

"As mulheres ganharam novas e mais duras responsabilidades de prover suas famílias, mas também ganharam mais autonomia em suas decisões", afirma o relatório. “A crescente presença das mulheres na emigração está desestimulando a visão histórica da mulher migrante como acompanhante de outros (...) e indica a maior autonomia e independência delas no processo de decidir migrar”, afirma o texto.

Mulheres sul-americanas que emigram sozinhas passaram a ser aceitas socialmente porque agora elas têm espaço no mercado de trabalho, diz o relatório. O documento aponta que, desde os anos 90, a proporção de mulheres trabalhadoras cresceu. Era de 32% no início da década, chegou a 49% antes da virada do século e, em 2007, alcançou 53%. A oferta de emprego, especialmente no setor de serviços, é maior para elas, indica a pesquisa, e as emigrantes com menor formação educacional encontram espaço como empregadas domésticas.

No Paraguai, por exemplo, até os anos 90, 29% das mulheres que emigravam eram menores acompanhando parentes. Entre as que viajaram entre 1990 e 2003, esse número caiu para 4,5%. Cresceu a motivação econômica, apontada por 64% das migrantes paraguaias.

Citando outra pesquisa feita no Peru, o estudo afirma que, em alguns casos, casais que buscam "fazer a vida" em outro país decidem que as mulheres devem sair de casa primeiro, pois elas têm maior facilidade para encontrar emprego. Os serviços domésticos são a ocupação de 69% das peruanas e de 58% das paraguaias que trabalham na Argentina, mas é a função de apenas 17% das nativas, ou seja, as vagas são cobertas, sobretudo, por estrangeiras.

Apesar disso, o relatório ressalva que as mulheres mais pobres ou vivendo em contextos culturais de maior repressão ainda não têm a mesma liberdade ou não são tão bem recebidas ao chegar a outro país. Uma pesquisadora boliviana observou que as mulheres de seu país que viviam na Argentina tinham poucas oportunidades de sucesso. "Apesar do papel significante das bolivianas em diversos aspectos da vida familiar (gerando renda, cuidando da família e guardando suas identidades étnicas e culturais) elas continuaram ocupando uma posição social de subordinação", afirma o depoimento contido no relatório.

Os principais países de origem de emigrantes no continente, de acordo com os números levantados em 2000, são os menos estáveis economicamente. O Uruguai tem a maior proporção de pessoas vivendo fora, 8,3% dos habitantes. O Paraguai fica em segundo lugar com 6,7%. O Brasil tem um dos menores fluxos de emigração da região, quando comparado ao tamanho de sua população: a penas 0,4% dos brasileiros vive fora do país. Argentina e Chile são alguns dos destinos mais procurados pelos sul-americanos que emigram dentro da região.

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