OS MIGRANTES E AS UNIVERSIDADES

Nos dias 22, 23 e 24 de junho de 2009 realizou-se o Fórum de Debates: Direitos Humanos e as Migrações Contemporâneas no Sul da América. A iniciativa partiu do Núcleo de Antropologia e Cidadania da UFRGS e contou com a valiosa parceria do CIBAI Migrações.

O Fórum reuniu pesquisadores de diferentes áreas de conhecimento, procedências e inserções no debate sobre as migrações contemporâneas. Ao longo dos 3 dias, as atividades reuniram cerca de 70 pessoas entre palestrantes, pesquisadores de áreas de conhecimento diversos, representantes de instituições universitárias e associações não governamentais que, de formas diversas, dedicam-se ao tema.

A proposta do Fórum partia da idéia de elaborar uma programação que contemplasse a reflexão sobre migrações na universidade e propiciasse o conhecimento mútuo entre aqueles que pesquisam e atuam em diálogo com os migrantes.

Contamos com o apoio do CNPq, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (UFRGS), Programa de Pós-graduação em Antropologia Social (PPGAS/UFRGS) e do Observatório Interdisciplinar de Direitos Humanos do ILEA (Reitoria da UFRGS).

Com um público participativo e instigado pelo tema, o fórum constituiu o início de uma conversa interdisciplinar que ainda merece muita dedicação e continuidade. Até aqui tivemos a
oportunidade de um exercício de reconhecimento mútuo, de outros saberes e práticas em face à imigração. A experiência migratória atual é extremamente diversificada e tem nos ensinado sobre aspectos da experiência humana pouco evidentes, que deve ser pensada de forma cooperativa e em diálogo com os migrantes.

Ao elaborar a programação buscávamos trazer à luz, para o meio universitário, o tema da imigração e evidenciar sua atualidade, dar a conhecer à comunidade acadêmica a experiência
acumulada por diversas associações que desenvolvem trabalhos práticos e acumulam importantes reflexões (e publicações) sobre essa caminhada.

No primeiro dia do Fórum contamos com a exposição dos professores Mario Santillo do Centro de estudos Migratórios Latino Americano (Argentina) e Javier Taks da UDELAR (Uruguai)
no auditório do ILEA/UFRGS.

A Argentina recentemente reformulou a legislação migratória com a lei chamada “Pátria Grande”. Em sua elaboração, essa mudança na legislação Argentina contou com a experiência
de diversos protagonistas que atuam em prol dos migrantes. Já no Uruguai, nos aproximamos das preocupações atuais com a evasão de nacionais e os significados demográficos e políticos dessa diáspora uruguaia.

Ouvir notícias sobre o Uruguai e Argentina? Não apenas isso. Este primeiro dia já anunciava o tom de debate sobre as prioridades que os pesquisadores elegem para pensar a migração
e o modo como os próprios migrantes se inserem nesses debates.

O segundo dia contou com apresentações de pesquisadores em um grupo de trabalho. A atividade demonstrara a importância de aproximar as reflexões sobre os sentidos da
imigração atual com as práticas de escuta, atendimento às demandas e as opiniões dos próprios migrantes sobre as motivações da imigração.

Oriundos de diferentes áreas de conhecimento e formação; antropologia, ciências jurídicas, comunicação social, psicologia e serviço social, os trabalhos expostos indicavam alguns
destes desafios; como produzir reflexões sintonizadas com as experiências diretas dos imigrantes na atualidade? À medida em que expunham seus trabalhos, a atividade despertava a
necessidade de exercitar nossa capacidade em conjugar teoria e a prática.

Para o terceiro dia, as instituições universitárias e associações que aderiram ao Fórum puderam expor a experiência direta com os problemas enfrentados pelos migrantes. Essa
atividade transcorreu na Igreja Pompéia.

Novas situações têm sido vivenciadas por migrantes em Porto Alegre. O Fórum trouxe ao debate a experiência direta de instituições de ensino com os estudantes estrangeiros que, por
períodos temporários, se inserem em programas de estudos universitários (graduação e pós-graduação).

A Pro-reitora de Extensão e Ação Comum do IPA/Porto Alegre, a Sra Vera Maciel nos trouxe a intensa experiência institucional do IPA com alunos provenientes de Timor Leste,
Moçambique, Angola e Haiti. A Sra Helena Beatriz Petersen – Secretaria de Relações Internacionais (RELINTER) e a Sra. Nara Magalhães (PROGRAD – PEC-G) relataram os desafios atuais, as reformulações das políticas acadêmicas e rotinas dos programas
na UFRGS, para a manutenção dos estudantes na universidade.

Expuseram sua caminhada e acúmulo de experiências, o CIBAI Migrações, representados pelo Pe Giovanni Corso (CIBAI), Jurandir Zaberlam (CIBAI) e Pe Joaquim Filippin (CIBAI),
destacando a gênese do CIBAI e as principais idéias na perspectiva do acolhimento na Igreja Pompéia. Expuseram também o teor das inúmeras publicações que ao longo de sua atuação elaboraram a fim de partilhar dados e reflexões sobre o fenômeno imigratório,
bem como problematizaram o percurso legal que os imigrantes tem enfrentado no caminho de sua regularização no Brasil. O COMIG – representado pela Irmã Egídia Muraro destacou os diferentes problemas enfrentados pelos imigrantes com o deslocamento. A ASAV – representada por Karin Wapechowski - apresentou o programa de reassentamento solidário do Brasil e as experiências recentes com os refugiados no sul do Brasil; palestinos e colombianos.

Quero expressar minha enorme satisfação de ter participado dessa intensa agenda de debates em junho, seguindo a semana do migrante na Igreja Pompéia. Para os pesquisadores
do Núcleo de Antropologia e Cidadania e para os participantes que, como nós, perseguem uma reflexão acadêmica participativa, o momento foi extremamente intenso e proveitoso.

OS MIGRANTES E AS UNIVERSIDADES
Profa. Denise Fagundes Jardim
Departamento de Antropologia/PPGAS/Núcleo de Antropologia e
Cidadania - NACi/UFRGS