Camila Queiroz
Jornalista da ADITAL
Adital
A Organização das Nações Unidas (ONU) divulgou ontem (31), no Quênia, um novo relatório sobre a situação da AIDS no mundo. Redigido a partir de dados de 182 países, o documento intitula-se "Unindo para acesso universal: em direção a zero novas infecções pelo HIV, zero discriminação e zero óbitos relacionados à Aids”.
Nele, a ONU destaca avanços no combate à doença, entretanto, pede combate mais incisivo à epidemia, que atinge 60 milhões de pessoas e matou, em trinta anos, 25 milhões em todo o mundo.
De acordo com o relatório, a cada pessoa que inicia o tratamento da Aids, duas contraem a doença. Todos os dias são registradas sete mil novas infecções, sendo mil em crianças.
Dentre os avanços, o documento cita a diminuição de 25% do número de novas infecções em 33 países, no período de 2001 a 2009. Destas nações, 22 fazem parte da África Subsaariana, a região mais afetada pela doença. Também considera que houve um aumento no acesso ao tratamento e relata que, em 2009, os serviços de prevenção da transmissão vertical do HIV de mãe para filho passaram de 50% em todo o mundo.
Durante o lançamento do relatório, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, sugeriu seis metas globais no combate à Aids: reduzir em 50% a transmissão do vírus entre jovens, entre homens que fazem sexo com homens (HSH) e usuários de drogas; garantir tratamento para 13 milhões de pessoas; diminuir pela metade as mortes por tuberculose entre pessoas soropositivas; eliminar a transmissão de mãe para filho; implementar uma rede de assistência e proteção para crianças pobres vítimas da doença e combater o preconceito por meio de leis e outras ações.
Para atingir estas metas, que devem ser cumpridas até 2015, Ban Ki Moon fez algumas recomendações, como incluir jovens na empreitada; revitalizar impulso para conseguir o acesso universal à prevenção, tratamento, cuidados e apoio até 2015; trabalhar conjuntamente com países para desenvolver programas de combate mais rentáveis, eficientes e sustentáveis; garantir a responsabilização mútua na luta contra a Aids e promover a saúde, direitos humanos e dignidade de mulheres e meninas.
O novo relatório deve subsidiar as discussões do encontro para debater o combate mundial à AIDS, que será promovido pela Assembleia Geral da ONU em junho deste ano, na cidade de Nova Iorque.
Brasil: morrem 12 mil soropositivos por ano
No Brasil, morrem 12 mil soropositivos por ano, um índice considerado bastante alto. Apesar disto, o país é considerado referência no tratamento de pessoas com HIV – com relação a países que estão na mesma condição financeira ou mais pobres.
Segundo o coordenador do Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo, Wladimir Reis, falta investir na qualidade de vida dos 35 mil brasileiros que convivem com a doença.
"A gente faz o tratamento com o anti-retroviral, isso sim, todos os afetados estão inclusos no programa do governo. Mas se sentir uma dor de cabeça, os hospitais estaduais ou municipais não têm o remédio. E aí tem outras questões que impedem a qualidade de vida, como a fome, falta de moradia, trabalho e renda e o preconceito muito forte”, listou.
Para fazer frente à situação, a ONG se posiciona a favor de um trabalho conjunto entre o Ministério da Saúde e outros, como o da Justiça, do Trabalho e do Desenvolvimento Social.
Wladimir destaca como um forte impedimento ao tratamento dos soropositivos o "comércio da saúde”. Das 60 milhões de pessoas infectadas pelo HIV no mundo, apenas seis milhões, ou seja, 10% estão em tratamento. "Com as patentes, a indústria farmacêutica internacional cobra um valor muito alto pelo anti-retroviral; vários países não podem pagar o preço”, denuncia.
Outra questão importante a ser tratada é a prevenção da contaminação. Segundo Wladimir, quanto mais vulnerável a pessoa, mais difícil "negociar” o uso do preservativo no ato sexual, uma das principais formas de prevenção.
Ele cita o caso dos profissionais do sexo de Recife, cidade do nordeste brasileiro onde a ONG atua. "Aqui, a partir de agosto, recebemos muitos turistas sexuais e sabemos que há aqueles que pagam mais caro para fazer sexo sem camisinha. Como é que fica esse ou essa profissional? Como a gente pode trabalhar com isso?”, questiona.
Atualmente, as ONGs que trabalham com a temática da Aids do Brasil enfrentam uma crise financeira. Internacionalmente, o país vem sendo considerado em franco desenvolvimento, o que fez com que as organizações internacionais que financiavam ONGs brasileiras cortassem os recursos.
O Grupo de Trabalhos em Prevenção Posithivo, que atua desde o ano 2000 e é coordenado e formado por pessoas com HIV e familiares, desenvolvia 30 projetos, agora reduzidos a cinco. Os militantes também não têm mais como pagar o aluguel da sede e vão iniciar um projeto de autossustentação, o Cozinha Solidária, para conseguir manter as atividades.
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