quarta-feira, 17 de junho de 2009

Após crise, desemprego alimenta xenofobia e assombra estrangeiros

Marsílea Gombata, Jornal do Brasil

A crise global tem se apresentado custosa não só aos Tesouros nacionais. Embates sociais e
xenofobia crescente marcam o momento da História em países da Ásia, América e Europa.
Como em um filme já visto, o desemprego entre nativos leva-os a disputar vagas antes de
imigrantes, alimenta rivalidades e nacionalismos exacerbados. Palco de intensos protestos nas últimas semanas, o Reino Unido assistiu a centenas de britânicos carregarem placas dizendo “empregos do Reino Unido para trabalhadores britânicos” e a entrarem em greve em uma refinaria cujos postos eram ocupados por italianos e portugueses. Sindicatos protestaram contra o governo, dizendo que nativos estavam sendo minados por estrangeiros com salários mais baixos.

As reações contra os trabalhadores estrangeiros ainda são pequenas, mas a tendência é aumentar – prevê Gabriela Boeing, da Organização para Migração Internacional, em Londres. – Com a crise e a decorrente diminuição de vagas, há pressão para que o governo proteja empregos dos nativos. No Reino Unido, que sempre defendeu o movimento de cidadãos europeus, as coisas estão mudando. Tem sido comum em pesquisas ver “imigrantes roubam nossos empregos”. É mais fácil culpar estrangeiros do que a política econômica. Secretário-geral da Solidarity Trade Union, do Reino Unido, Patrick Harrington explica que, apesar do conflito com trabalhadores estrangeiros, a “maior raiva é contra governo e empresários”: – É preciso escutar as demandas dos trabalhadores – explica. – Se não mudar, ações serão intensificadas.
Gabriela conta que o Reino Unido já está criando leis mais duras para controlar a imigração e,
segundo dados do Departamento do Trabalho e Pensão, nos últimos três anos houve um aumento
de 1,6 milhão para 2,32 milhões de trabalhadores estrangeiros no país. Na Espanha, onde o desemprego chega a quase 16%, os estrangeiros têm sofrido mais. – Por trabalharem com menos garantias, ficam no front do desemprego – explica Ivan Briscoe, do Centro de Pesquisa para a Paz, Fundação para as Relações Internacionais e o Diálogo Externo, na Espanha. – A tendência é a escalada de ressentimentos sociais entre os pobres: nativos e imigrantes.
Trabalhos que vinham sendo feitos por imigrantes – como serviços domésticos, de limpeza,
construção civil, agricultura – são cada vez mais disputados por espanhóis.
O governo também está tomando medidas para diminuir o número de estrangeiros oferecendo
pacote de retorno voluntário, com adiantamento do seguro desemprego. Briscoe explica que, na Europa, há três situações distintas de países em crise. Pequenos como Lituânia, Letônia e Estônia encontram-se sob forte redução econômica e, ao lado de Islândia e Irlanda, têm tido tensão social. Em uma segunda categoria, Bulgária, Grécia e Itália, com falta de oportunidades. E, por fim, Espanha, França, Reino Unido – e Alemanha possivelmente – assistiram ao
crescimento de imigrantes e sofrem o que Briscoe chama de “crise de expectativa”, com
desestabilização. Na própria Alemanha, onde imigrantes representam importante parcela da mão-de-obra em vista do envelhecimento da população, “a crise aumentará a xenofobia se durar e terá repercussões”, crê Udo Ludwing, do Instituto de Pesquisa Econômica de Halle. – A crise reativa problemas deste tipo que têm sido uma constante histórica que certamente trarão mais manifestações sociais – prevê o peruano Danilo Martuccelli, da Universidade Lille 3, na França. – As situações não diferirão apenas por fatores econômicos, mas pela política, como a existência ou não de um partido populista.
Nesse contexto, direitas radicais podem se fortalecer e ter maior autoridade, além de se
concentrar em bodes expiatórios sob a crise. Além Na China, trabalhadores imigrantes estão perdendo postos mais rapidamente que o esperado. Setores de construção, estaleiros e indústrias manufatureiras buscam manter o quadro de funcionários cada vez mais enxuto em Cingapura. No Japão, há três meses a crise fez renascer o preconceito contra grupos de imigrantes, em especial os brasileiros. Na Rússia, os 40% dos empregados no setor de
construção civil são, em sua maioria, provenientes de ex-países da União Soviética que temem ser demitidos. – Para a Rússia é ainda pior, pois o nível desse tipo de preconceito é alto, e leva ao crescimento de grupos violentos sem uma ação contrária do governo – explica Alexander Verkhovsky, do Sova, organização contra a xenofobia em Moscou. Nos EUA, a recessão se mostra um álibi para ativistas e parlamentares na luta contra a imigração.
Fonte: http://jbonline.terra.com.br/nextra/2009/02/07/e07029790.asp - 07.02.2009
Resenha MIGRAÇÕES NA ATUALIDADE – nº 75, p. 12

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