sexta-feira, 19 de junho de 2009

À imagem e semelhança de Deus. De qual deles?

Desde as suas primeiras páginas, a Bíblia proclama a dignidade do ser humano ao colocar na boca de Deus estas palavras: «Façamos o homem à nossa imagem e semelhança» (Gn 1,26). Uma grandeza que comove a quantos se deixam guiar pelo coração: «Vendo a lua e as estrelas brilhantes, perguntamos: Senhor, que é o homem para dele assim vos lembrardes e o tratardes com tanto carinho? Pouco abaixo de Deus o fizestes, coroando-o de glória e esplendor; vós lhe destes poder sobre tudo, vossas obras aos pés lhe pusestes!» (Sl 8,4-7).

Na prática, porém, como conseqüência do pecado que entrou sorrateiramente na história humana, deve-se reconhecer que, até a encarnação de Jesus, a tentação da humanidade – e até mesmo de inúmeras páginas bíblicas – foi a de construir um deus “à imagem e semelhança do homem”, dominado por sentimentos, paixões e atitudes mesquinhas, sempre pronto a se vingar das injúrias sofridas e a se alegrar com as desgraças de seus inimigos.

Alguns profetas tentaram purificar essa imagem de Deus: «Sião disse: “O Senhor me abandonou, ele se esqueceu de mim”. Pode uma mãe se esquecer de seu bebê, deixar de amar o filho de suas entranhas? Mas, ainda que ela se esqueça, eu não me esquecerei de ti. Veja: eu te levo tatuado na palma de minha mão» (Is 49,14-16).

Mas quem verdadeiramente revelou à humanidade a face de Deus foi Jesus. Eis como ela é apresentada por um dos apóstolos que melhor compreendeu a mensagem do Evangelho: «Meus caros, amemo-nos uns aos outros, porque o amor vem de Deus. Todo aquele que ama, nasceu de Deus e conhece a Deus. Quem não ama, não conhece a Deus, porque Deus é amor. Foi assim que o amor de Deus se tornou visível entre nós: Deus enviou o seu Filho único ao mundo para que tenhamos vida por meio dele. Nisso consiste o amor: não fomos nós que amamos a Deus, mas foi ele que nos amou» (1Jo 4,7-10). Nestas breves palavras, São João sintetiza e manifesta o que de mais importante tinha no coração: a identidade e o projeto de Deus e a essência da que considera verdadeira religião.

Em uma de suas homilias, Santo Agostinho explicou ao povo o sentido dessas palavras que, em sua opinião, deveriam revolucionar a vida de quem as entende: «Não há ninguém que não ame. A questão é saber o que se deve amar. Não nos é pedido que não amemos, mas que escolhamos o que devemos amar. Mas, é possível escolher se, antes, não fomos escolhidos? É possível amar se, antes, não fomos amados? Escutai o apóstolo João: “Nós amamos porque ele nos amou primeiro”.

Se procuras saber como se pode amar a Deus, não encontrarás outra resposta senão esta: Deus nos amou primeiro. Aquele que nós amamos, entregou-se a si mesmo e nos deu a capacidade de amar. É o que diz claramente o apóstolo Paulo: “O amor de Deus foi derramado em nossos corações”. Por quem? Por nós, talvez? Não! Então, por quem? “Pelo Espírito Santo, que nos foi dado” (Rm 5,5).

Por isso, “cantai ao Senhor um canto novo” (Sl 150,1). Cantai com a voz, cantai com o coração, cantai com os lábios, cantai com a vida! Sede vós mesmos o canto que cantais! Vós sereis o seu maior louvor se viverdes santamente».

Dentre as festas populares que se celebram durante o mês de junho, a principal é a do Coração de Jesus. Mas, qual o significado dessa devoção? Será apenas a comunhão feita nas primeiras sextas-feiras de cada mês, para ter o céu garantido logo após a morte, sem passar pelo purgatório? Ou a fita que piedosos fiéis carregam ao pescoço quando participam da missa? Ou então a romaria que algumas Dioceses promovem por terem como padroeiro o Sagrado Coração de Jesus?

A verdadeira devoção ao Sagrado Coração de Jesus é a realização de uma promessa feita por Deus através do profeta Ezequiel: «Dar-vos-ei um coração puro e colocarei em vosso íntimo um espírito novo. Tirarei do vosso peito o coração de pedra e vos darei um coração de carne» (Ez 11,19). Um segredo para operar esse maravilhoso transplante é adotar como estilo de vida a espiritualidade da comunhão, sugerida pelo Papa João Paulo II no início do terceiro milênio: «Antes de programar iniciativas concretas, será preciso promover uma espiritualidade da comunhão, elevando-a ao nível de princípio educativo em todos os lugares onde se plasmam o homem e o cristão, onde se educam os ministros do altar, os consagrados, os agentes de pastoral, onde se constroem as famílias e as comunidades».

Dom Redovino Rizzardo, cs
domredovino@terra.com.br

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