sexta-feira, 12 de junho de 2009

A Europa e os Migrantes

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
Depois da Diretiva do Retorno, a Europa dá mais um passo atrás. As últimas eleições do Parlamento Europeu, em seus números preliminares, revelam uma vitória de centro e extrema direita, em detrimento dos partidos de esquerda, mais favoráveis à união do bloco e mais abertos a mudanças. Semelhante resultado só faz aumentar o processo de fechamento das fronteiras. Crescem, por um lado, os grupos neonazistas, conservadores ou nacionalistas e, por outro, o rechaço aos “extra-comunitários” que batem às portas do velho continente.

O quadro se encaixa perfeitamente com o cenário mundial de crise. Se o “outro” em geral já é considerado um inimigo em potencial, com muito mais razão o será num contexto de dificuldades econômicas. Passada a euforia dos anos de ouro do capitalismo, após a Segunda Guerra Mundial, passadas três décadas de um equilíbrio sustentado a duras penas, após os anos 70, os países europeus encontram-se hoje em franca recessão. Recessão é sinônimo de retração no consumo, de desaquecimento da produção, de desemprego acentuado e de mais recessão. O círculo se completa, até que se rompa por algum fator externo ou interno.

Nesse clima, facilmente se instala a guerra aos imigrantes. Africanos, asiáticos, latino-americanos e trabalhadores do leste europeu não só tendem a ser vistos com hostilidade, na medida em que tomam os empregos dos cidadãos locais, mas também são barrados nas fronteiras com leis de migração e exigências cada vez mais rígidas. De dentro e de fora, aumenta a pressão contra o estranho e estrangeiro. Mais do que nunca o simples ato de migrar é criminalizado por políticas crescentemente conservadoras.

“A corda rebenta pelo lado mais fraco”, diz o ditado popular. No caso, o lado mais fraco dessa crise de caráter global são sem dúvida os imigrantes. Nos Estados Unidos, na Europa e no Japão, eles são os primeiros a perder seus postos de trabalho, cedendo-os irremediavelmente a quem antes os rejeitavam. Tudo isso se agrava quando se trata dos imigrantes clandestinos. Em situação irregular, não só perdem seus meios de ganhar a vida, mas ficam impossibilitados de recorrer a quem quer que seja. Voltamos à condição bíblica do “órfão, a viúva e o estrangeiro”.

Perdido o emprego, por mais precário que seja, o imigrante perde também o vínculo, igualmente precário, com o país que o acolheu. Direitos básicos como casa, escola, segurança, saúde, etc. ficam-lhe praticamente barrados. Sem dinheiro, acaba perdendo ainda o vínculo com o país de origem. Eram as remessas regulares, duramente subtraídas ao próprio salário e enviadas à família, que mantinha vivo esse vínculo. Sem elas, predomina a vergonha de aparecer derrotado frente aos seus. Quem nunca saiu de casa com o objetivo de voltar a ela em melhores condições de vida, dificilmente pode avaliar o que significa regressar com os bolsos vazios.

Alguns, à medida que a crise aperta e reduz o espaço dos estrangeiros, vão se juntando em quartos ou apartamentos superlotados, numa solidariedade ao mesmo tempo forçada e salvadora. Outros, porém, já morando nas ruas dos países centrais, mesmo querendo retornar a casa, não o podem por falta de recursos. O sonho virou um grande pesadelo. Neste caso, além da vergonha, pesa a indigência e o anonimato.

Tudo indica que, com a Diretiva do Retorno e as recentes eleições do Parlamento Europeu, o processo de rechaço e exclusão dos imigrantes tende a agravar-se. Os países de origem, por sua vez, não oferecem condições de vida e trabalho. O horizonte da migração parece cada vez mais sombrio. Cria-se um impasse de vida ou morte para quem anseia por uma vida mais digna e feliz.

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