quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Arizona: a xenofobia de Estado e o negócio privado multimilionário de encarcerar imigrantes

David Brooks *

Adital -
Tradução: ADITAL
Empresas da indústria privada carcerária elaboraram e impulsionaram a lei antimigrante do Arizona para gerar lucros multimilionários com o negócio de encarcerar migrantes, revelou hoje National Public Radio (NPR) em uma ampla investigação jornalística, negócio que se tenta repetir em outros Estados do país.

A lei que provocou a maior controvérsia sobre migração e racismo contra latinos, tanto nos Estados Unidos quanto no México, pode ter o efeito de enviar dezenas de milhares de sem documentos para a prisão, o que, potencialmente, poderia gerar centenas de milhões de dólares em lucros para as empresas de cárceres privados que se encarregam de alojar as vítimas da lei, informou NPR.


A chamada lei SB1070 está congelada pelos tribunais; porém, se finalmente for apoiada pelo sistema judiciário, obriga a que as forças de segurança pública no Estado detenham e encarcerem a todo indivíduo que ao ser detido não possa comprovar que entrou nos Estados Unidos de maneira legal.

Apesar de que a governadora Jan Brewer e líderes legislativos estatais, como o senador Russell Pearce atribuam a si o crédito por promover essa lei, após uma extensa investigação de documentos tanto do governo quando de empresários, e entrevistas com alguns participantes nesse esforço legislativo, NPR descobriu que houve um esforço silencioso e nos ‘bastidores' para ajudar a redigir e arpovar a SB1070 por uma indústria que sairia beneficiada: a de prisões privadas. As empresas de prisões tinham um novo modelo de negócios para encarcerar os imigrantes sem documentos. E o plano se tornou a lei de imigração do Arizona, afirmou em sua reportagem a cadeia nacional de rádio pública.

NPR revelou que apesar de que Pearce disse que a SB1070 foi ideia sua, em vez de negociá-la na legislatura, o senador estatal primeiramente a apresentou em uma reunião privada de empresários e legisladores estatais em Washington, a American Legislativa Exchange Council ou ALEC. Entre os membros influentes dessa associação está a Corrections Corporation of America (CCA), a maior empresa de prisões privadas do país. Foi nessa ocasião que se deu forma à ideia de Pearce, algo que os participantes, orgulhosamente, descrevem como resultado do trabalho cooperativo entre legisladores e o setor privado. Em quatro dias o projeto de lei modelo foi elaborado nessa reunião de empresários e legisladores estatais e quatro meses depois esse modelo de lei transformou-se quase que literalmente palavra por palavra na lei de imigração do Arizona.

Porém, não parou por aí. A empresa CCA contratou um poderoso agente no Arizona, enquanto 36 legisladores declararam de imediato seu apoio ao projeto de lei (dois terços deles também estavam na reunião do ALEC ou são membros dessa associação). De repente, começaram a fluir doações financeiras eleitorais para políticos favoráveis à lei (30 de seus patrocinadores receberam doações da CCA e de outras empresas de prisões privadas), segundo NPR.

A própria governadora Brewer também tem vínculos com essas empresas: seu porta-voz e seu diretor de campanhas são ex-agentes de empresas de prisões privadas. Os executivos da CCA acreditam que a detenção de imigrantes é o próximo grande mercado para eles, e em um relatório da empresa em 2009, afirmam que esperavam gerar uma porção significativa de lucros através da Agência Federal de Imigração e Alfândegas (ICE), encarregada de deter migrantes.

O presidente de outra dessas empresas, o Geo-Group, em uma teleconferência com investidores, felizmente comentou sobre as oportunidades em âmbito federal em torno à migração. "Essa gente que cruza a fronteira e que é presa terá que ser detida e, para mim, pelo menos assim o considero, haverá melhores oportunidades para o que nós fazemos". Ou seja, o negócio de encarcerar migrantes.

Há um mês, o Center of American Progress Action Fund, uma ONG e centro de análises política em Washington, publicou uma investigação em seu site ThinkProgress sobre o papel da indústria carcerária privada na promoção da SB1070. A CCA assinalou que estava para receber mais de 74 milhões em fundos públicos para administrar centros de detenção de migrantes no ano fiscal de 2010; e que a prosperidade dessa empresa no futuro dependerá cada vez mais de aumentar o número de migrantes enviados às prisões. ThinkProgress advertiu que a CCA e outras empresas parecidas canalizam fundos para promover projetos de lei idênticos a SB1070 em vários Estados de todo o país, sobretudo no Tennessee, na Flórida, no Colorado, em Oklahoma e na Pensilvânia.

As revelações de hoje demonstram que a detenção de imigrantes nos Estados Unidos não é impulsionada pela justiça, mas por uma indústria de prisões privadas que buscam formas de lucrar com o encarceramento de babás e jardineiros, denunciou Ali Noorani, diretor executivo do Fórum Nacional de Imigração, em Washington.


* Correspondente do diario La Jornada nos EUA

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