quarta-feira, 25 de novembro de 2009

CAMINHO DA SOLIDARIEDADE PARA COM OS ANGOLANOS REPATRIADOS

CAMINHO DA SOLIDARIEDADE PARA COM OS ANGOLANOS REPATRIADOS DA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGO

RELATÓRIO DA VISITA REALIZADA PELO CSIC
(COMISSÃO DE SOLIDARIEDADE DA IGREJA CATÓLICA)

Estiveram entre os dias 30 de outubro e 03 de novembro de 2009, membros participantes da CSIC, Ir. Rita de Cássia Luiz, coordenadora da Comissão de Pastoral das Migrações da Arquidiocese de Luanda e Ir. Paulo Welter, Director Nacional do JRS (Serviço Jesuítas aos Refugiados), e o Sr. Lufuma, como Motorista.

Na ocasião estiveram na Província do Uíje e Província do Zaire. Em Uíje, visitaram os Centros de Acolhimento em Damba e Maquela do Zombo. Em Damba, por falta de uma planificação da visita não tiveram muitas informações em relação à chegada dos angolanos. O funcionário do MINARS, Sr. Chiala, forneceu alguns dados:
- Números de angolanos no Centro: 2.568 pessoas.
- As necessidades mais urgentes e visíveis neste Centro: Falta de apóio logístico em termos de alimentação, de saneamento básico e de registo dos recém chegados por falta de material.

No município da Maquela do Zombo, os retornados estão sendo acolhidos nas escolas e centros infantis. Nesta localidade tivemos difículdade de nos encontrarmos com as lideranças, que estão a frente do processo, sendo difícil no momento quantificar o número dos retornados nesse municipio.

Com relação aos centros de acolhimento, percebeu-se uma liderança fraca; notou-se vários problemas na alimentação, no saneamento básico e no atendimento da saúde. Segundo as informações dos freis, os centros carecem de modo especial dos serviços especializados na área da saúde e complementos alimentares. A comunidade local está sensibilizada ajudando voluntariamente na alimentação. Mas estas ajudas são insuficientes pelo número de pessoas nos Centros.

Na Província do Zaire estiveram nos seguintes Centros de Acolhimento:
- Kiowa no município deM’Banza Congo, Mamã Rosa no Municipio do Luvo e N’Zeto.
Nesta província tem outros Centros de Acolhimento nas seguintes localidades: Cuimba, Nóqui, Soyo, Tomboco. Não foi possível uma visita nestas localidades.

- Centro Mamã Rosa – Luvo: Continua sendo o centro de maior concentração dos retornados.
O Sr. Inácio de Almeida, Administrador Comunal do Luvo, apresentou a seguinte organização do referido centro: possui 9 zonas, identificadas por ordem alfabética e conta com os seguintes serviços: polícia, protecção civil, bombeiros, saúde, presença dos sobas que por sua vez orientam os retornados no processo de reintegração nas aldeias e educação cívica. As lideranças do diversos serviços presentes no Centro, realizam reuniões diárias para pontualizar a situação.

Entre os dias 08/10/ e 30/10/09 entraram pela fronteira do Luvo um número de 18.836 angolanos. Sendo o dia 8 de Outubro, o de maior entrada de angolanos: 4.455 pessoas.
Entre os dias 22 e 31 de Outubro a média de entrada foi de 48 a 50 pessoas por dia. Isto depois do acordo realizads entre os dois países dando fim às expulsões.

Para uma maior especificação destas entradas na fronteira do Luvo até o dia 12 de Outubro
Número de Crianças: 4169, sendo 2.187 meninos e 1.982 meninas
Número de adultos: foram registados 13.420, assim distribuídos: 6.231 homens e 7.189 mulheres.
Estes números no momento variam, pois as pessoas continuam a entrar, mesmo em número menor.

O centro fronteiriço do Luvo Mamã Rosa, está num segundo momento de acolhimento: ao mesmo tempo que chegam em média 48 a 50 pessoas por dia há a evacuação dos retornados para suas áreas de origem.

Registou-se se no dia 14/10/09 uma saída 12.529 angolanos do centro de acolhimento de Mamã Rosa - Luvo para as seguintes áreas,: Damba, Quibocolo, Maquela do Zombo, na Província do Uije e para Cuimba, M’Banza Congo, Tomboco, Soyo, Nzeto, na Provincia de Zaire.

No próprio município do Luvo foram reacentadas 812 pessoas, equivalente a 228 famílias, assim distribuídas pelas comunas:
Luvo: 185 = 43 famílias;
Kama – 130 pessoas = 47 famílias
NKela - 68 pessoas = 12 famílias
Ankonko 429 pessoas = 126 famílias

Até dia 02 de Novembro de 2009, no centro Mamã Rosa permanecia um número de 8.105 angolanos repatriados. Neste dia várias famílias foram evacuadas para a Maquela do Zombo, Província do Uíje.

No decorrer deste tempo de entradas no Centro Mamã Rosa foram registadas 14 nascimentos e 05 óbitos, sendo estes de 03 pessoas da terceira idade e duas crianças.

As doenças registadas até este momento são:
Doenças respiratórias, paludismo, febre tifóide, diaréia e ferimentos ocasionados durante o percurso da saída da RDC e chegada a Angola.

O trabalho da equipe médica está sendo incansável, já registrou no posto de sáude um número altíssimo de pacientes; hoje os atendimentos estão mais calmos devido as intervenções rápidas da equipe médica e pelo facto dos evacuamentos para as áreas de origem.

Quanto a questão alimentar, foram atendidos pelo MINARS, Cáritas de M’Banza Congo, ASSAPRAZ e outras igrejas. O coordenador do centro faz uma observação, com relação a dieta alimentar das crianças e mesmo dos adultos que dentro do possível deve ser respeitada. A preferencia é, por questões de saúde, pela fubá de bombô.

Para esta segunda fase de acolhimento, muitos já na sua área de origem, têm necessidades na área da alimentação, suplementos agrícolas (enxadas, catanas...) Kits cozinha (panelas, pratos, talheres, banheiras, baldes...) material de higiene, tendas, chapas...

No Município do N’Zeto, centro de acolhimento de segunda fase, os membros da CSIC estiveram no dia 03 de Outubro. Do MINARS e da Igreja Católica local, obtivemos as seguintes informações:
Esta localidade recebeu para a reintegração um número de 1.235 pessoas até o dia 02/11 /09. Sendo previsto para o dia de hoje, 03/11/09 mais dois caminhões de pessoas, porém não obtiveram informações do número .

Os retornados estão alojados numa escola em construção, sendo atendidos pelo MINARS e pela Missão da Igreja Católica. Há precariedade na aréa de saneamento básico, mesmo com a construção de latrinas provisórias; a alimentação não é correspondente com o regime alimentar habitual dos retornados o que causa problemas de saúde, sobretudo diarréia. Existe pouco acolhimento por parte das famílias dos retornados; os mesmos são considerados um peso. A falta de transporte para as devidas localidade de origem é outra dificuldade enfrentada. Neste Centro houve o óbito de uma criança de 03 anos, tendo como causa a desnutrição já adquirida antes da entrada no centro.

Algumas pessoas já chegadas em N’Zeto foram encaminhadas para as seguintes localidades :
Kindege = 819 pessoas
Ambriz= 19 pessoas
Kibala Logi = 3 pessoas

Necessidades: alimentação em geral e de modo especial, fubá de bombó, acúçar e leite em pó, kits de cozinha, material de higiene, tendas, catanas...

A primeira ajuda nesta localidade contou com o apoio da comunidade local, empresários e igrejas.
Na localidade de N’Zeto terminou a primeira visita realizada pelos membros da CSIC, irmão Paulo Welter, Jesuíta e Irmã Rita de Cássia Luiz , mscs.

Observações finais:
Percebeu-se que existe uma grande ajuda e solidariedade para com estes irmãos retornados. Mas muito ainda precisa ser feito, de modo especial na segunda fase, isto é, na reintegração. Neste sentido, provavelmente, muitos dos retornados permanecerão num dos Centros de Acolhimento, pois após 20 ou até 40 anos de vida na RDC, já não encontrarão suas famílias e mesmo desconhecem suas origens.

Quase na sua totalidade os retornados não se expressam na língua oficial de Angola, o portugês. A cultura Bakongo predomina na região norte de Angola bem como no Baixo Congo na RDC, o que facilita a comunciação em língua kicongo.

A língua francesa é também falada por pessoas que estudaram no Congo; os mais velhos, falam português e kicongo, os jovens, falam francês e kicongo.

Destaca-se as FAA (Forças Armadas Angolanas) que prestaram e continuam prestando uma grande ajuda através da colocação de tendas, mesmo que não o suficiente em relação ao número elevado de retornados.

O ACNUR não havia proporcionado nenhuma ajuda, mas recebeu-se informação pelo MINARS que este deveria ter enviado na primeira fase 2.250 tendas, 4.000 cobertores, 5.000 esteiras. Infelizmente nada disso ainda se concretizou.

Sem dúvida que ao chegar no local os factos falam por si e ao escrever um relatório da visita realizada conclui-se que um trabalho grande de solidariedade e de integração se faz necessário a longo prazo. As necessidades são muitas e o cansaço físico e psicológico das pessoas nos centros se faz sentir. É urgente que estas pessoas encontrem o local definitivo para reiniciarem as suas vidas, suas lavras e actividades.

Deve-se ainda destacar o clima de alta vulnerabilidade nos diverso centros, ocasionado pelos sofrimentos vividos na RDC seja na forma de saída, bem como no acto de entrada, pelo tempo nos Centros de acolhimento, muitas vezes em condições precárias, pelo clima chuvoso próprio da época, pelo desespero de ter perdido a grande parte e /ou todos os bens, sobretudo pela separação de familiares.

Convém registar que a integração da maioria dos retornados acontecerá nas Províncias do Zaire e Uíje.

A evacuação dos angolanos retornados para estas e outras áreas carece de meios de transporte e de uma melhor planificação. Quando aí chegam há necessidades de primeira ordem, tais como habitação, alimentação, meios de trabalho e de sobrevivência. O trabalho de Solidariedade da CSIC nesta segunda fase, deverá ser feito nos locais onde os retornados estão sendo evacuados, após a 1ª chegada.

As comunidades locais e famílias precisam ser sensibilizadas no sentido de serem solidárias no acolhimento.

A equipa da CSIC agradece o apoio:
do JRS: viatura e motorista
da hospedagem a alimentação:
Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo - Scalabrinianas e JRS
Negage: Irmãs Filhas de Jesus e Freis Capuchinhos
Maquela do Zombo: Irmãs São José do Cluny e Freis Capuchinhos
M’ Banza Congo: Diocese de M’Banza Congo e Irmãs Escravas do Divino Coração

Informações: MINARS – Damba - Sr. Chiala, Luvo Administrador Comunal Sr. Inácio de Almeida, N’Zeto Senhora Susana;
Acompanhamento das visitas no local: Freis Capuchinhos, Diocese de M’Banza Congo, Pe. Chiala- Diocese de Uíge, Padres Verbitas e Servas do Espírito Santo.
Fotos: Ir. Paulo Welter, Irmã Rita de Cássia Luiz e Irmãs Escravas do Divino Coração

Luanda, 04 de Novembro de 2009.
Memória de São Carlos Borromeo
Secretariou Ir. Rita de Cássia Luiz, mscs

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