sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Olá amig@s,
Após enviarmos a Nota Pública repudiando os ataques da mídia sobre as ações do MST em São Paulo, choveram emails aqui no Setor de Comunicação, vindos pelo FALE CONOSCO do site da CPT Nacional. Diante disso, o Canuto redigiu uma resposta que foi enviada a todas essas pessoas. Confiram o texto.
Abraços
Cristiane

A CPT ao emitir nota sobre a ação do MST no interior de São Paulo chamava a atenção sobre a ação da imprensa que tenta, com todo o poder de que dispõe, indispor a opinião pública nacional contra os movimentos dos trabalhadores.

A mensagem que você nos enviou, em reação à nossa nota, justifica a justeza da mesma. Uma ação sobre uma propriedade que ocupa irregularmente terras públicas, que produz monocultura, não com vistas à produção de alimentos, mas de olho no mercado internacional, em que não houve agressão a qualquer pessoa, mostra claramente como nossa cabeça é formada pelos meios de comunicação. A Cutrale não pratica a agri – cultura, mas o agro – negócio. O que lhe interessa não é a cultura do que vai saciar a fome do povo, mas o negócio, o que dá lucro e isso em terras que deveriam ter sido disponibilizadas para a reforma agrária.

Hoje li a questão que o psicanalista Contardo Caligaris levanta na edição de ontem da Folha de São Paulo: “Onde se manifesta a razão? Na arrogância das certezas ou na capacidade de duvidar?”. Tanto empenho da mídia não poderia ao menos gerar em nós algumas dúvidas?

Alguém já viu a grande imprensa se debruçar com tanta vontade sobre os assassinatos dos trabalhadores do campo? De 1985 até hoje a CPT contabiliza 1.539 trabalhadores e trabalhadoras assassinados pelo latifúndio e o agronegócio. Alguém já viu a mídia dar tanto destaque para as expulsões de milhares de famílias a cada ano de suas terras, muitas delas executadas por pistoleiros? Alguém já viu os meios de comunicação se pronunciarem com tanta veemência sobre os despejos judiciais que deslocam milhares de famílias de áreas que ocupam, muitas delas há muitos anos, deixando crianças, jovens, mulheres e idosos na rua da amargura?

O que se está vendo é uma orquestração, em nível nacional, para criminalizar os movimentos que, cansados de serem jogados na lata do lixo da história, tentam levantar a cabeça e se fazer ouvir. Muitas das ações podem chocar, sobretudo quando são exploradas com a ajuda de instrumentos da moderna tecnologia, mas são ações que mostram a desigualdade desta nossa nação.

Você se declara católico e indignado com a postura da CPT, acobertada pela CNBB. Seria interessante lembrar, como nos relata o livro do Êxodo, (Ex cap. 3 a 12) que para que o povo saísse em liberdade da escravidão do Egito, foi necessário que a mão do Senhor pesasse sobre os opressores enviando-lhes 10 pragas, a última delas a morte dos primogênitos das famílias egípcias. (Não é uma escravidão hoje, milhões e milhões de pessoas serem excluídas da mesa que o Senhor pôs para todos?).

A igreja, a CPT, não incentivam a violência, mas também não fecham os olhos sobre uma realidade de violência cotidiana que pesa sobre os ombros dos fracos enquanto os 10% mais favorecidos esbanjam a riqueza e ostentam o seu orgulho com suas mansões e grandes propriedades...

Como faz falta a capacidade de se ver o que os grandes meios de comunicação, controlados por grandes grupos econômicos, aliados a outros setores ruralistas, escondem. Nem a todos é dado ver o que se oculta por trás das aparências. Jesus no Evangelho nos diz: “Eu te bendigo, Pai, porque escondeste estas coisas dos poderosos e as revelaste aos humildes.” (lc 10,21). Quem é cristão tem que olhar a realidade a partir do olhar de Cristo que sempre esteve voltado para as pessoas e que veio “para que todos tenham vida e vida em abundância” (Jo 10,10), não só para um pequeno grupo. Nosso olhar hoje, mesmo dentro da igreja, está condicionado a ver os bens, a propriedade, o capital, como valores fundamentais, maiores que a vida das pessoas. “Não se pode servir a Deus e ao dinheiro.” (Mt 6,24). Esta vai ser a reflexão a que as Igrejas nos convocam na próxima Campanha da Fraternidade de 2010.

Setor de Comunicação da Secretaria Nacional da CPT

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