sábado, 24 de outubro de 2009

DISCÍPULAS E MISSIONÁRIAS DE JESUS CRISTO NO MUNDO DAS MIGRAÇÕES

“O discípulo, à medida que conhece e ama o seu Senhor,
experimenta a necessidade de compartilhar com outros a sua alegria
de ser enviado, de ir ao mundo para anunciar Jesus Cristo, morto
e ressuscitado, e tornar realidade o amor e o serviço na pessoa
dos mais necessitados, em um palavra, a construir o Reino de Deus!”
(DA 278)

Queridas Irmãs! Outubro é o mês das Missões e, também, a festa de fundação de nossa amada Congregação. Celebrar a festa de fundação justamente neste mês, não deixa de ser uma grande oportunidade para refletirmos sobre nosso chamado e vocação à missionariedade como Irmã MSCS.

Nos Evangelhos nos deparamos com o mandato explícito de Jesus aos seus discípulos: “Vão pelo mundo inteiro e anunciem a Boa Notícia para toda a humanidade!” (Mc 16,20). Como batizadas estamos chamadas a dar continuidade à ação de Jesus entre os povos. A missão recebida pelos discípulos não é uma missão qualquer, mas aquela de anunciar a ‘Boa Notícia’ da Vida Nova experimentada a partir da ressurreição de Jesus Cristo.
Ao longo dos tempos, muitos cristãos conscientes do mandato missionário de Cristo têm doado suas vidas para que "todos os povos se tornem seus discípulos" (Mt 28,19), e como “Discípulos e Missionários” vem assumindo com radicalidade a proposta da Igreja de iluminar com a luz do Evangelho todos os povos em sua caminhada na história rumo a Deus Pai, pois só Nele poderemos encontrar nossa plena realização.
É nessa perspectiva que, dando graças a Deus pelos 114 anos de Fundação da Congregação, queremos recordar a vida do Bem-aventurado J. B. Scalabrini, de Pe. José Marchetti e Madre Assunta Marchetti que, deixam claro o caráter da missionariedade à qual todas estamos chamadas a assumir na Congregação, tendo como fundamento o seguimento a Jesus Cristo e a vida de quem soube doar-se totalmente numa exclusiva consagração à missão evangelizadora, à promoção humana e transformação da realidade dos povos em mobilidade.
“Não quero favorecer a migração, porém àqueles que são forçados a emigrar, eu estou disposto a ir com eles até o fim do mundo. Estou disposto a tutelá-los”[1]!
Em todos os escritos do bem-aventurado João Batista Scalabrini percebe-se também um profundo desejo de imitar a Jesus Cristo que percorria as cidades e aldeias, evangelizando e curando a todos. Profundamente atraído por Deus, soube transformar a contemplação de Deus e do seu mistério numa intensa ação apostólica e missionária, “fazendo-se tudo para todos, para ganhar a todos para Cristo”[2] através do anúncio do Evangelho, e lutando pela preservação da fé dos migrantes em terras estrangeiras, pela implantação de política migratória adequadas, e para que a Igreja criasse uma pastoral específica para o atendimento aos migrantes. Pastor solidário com o próprio rebanho, buscou formas de atender aos migrantes nas mais longínquas terras.
Às quatro primeiras missionárias que emitiram os votos e receberam de suas mãos o crucifixo ao serem enviadas ao Brasil, afirmou: “Eis o companheiro indivisível nas vossas peregrinações apostólicas, ei o vosso infalível conforto, quer na vida, quer na morte”[3]. Este foi certamente o sustento na caminhada e o segredo do grande dinamismo das primeiras Irmãs que sustentaram e levaram adiante a missão da Congregação.
“Minha vocação é a missão![4]” Estas são palavras que nos testemunham o compromisso de Pe. José Marchetti como ‘discípulo e missionário’. Desde cedo sentiu em seu coração uma inquietude e um desejo, uma inclinação e um desafio, um chamado para servir seus irmãos em migração. Sua sensibilidade ao apelo de Scalabrini, o seu ‘sim’ à vida missionária no alto mar, entre os colonos nas fazendas, no meio dos pequenos órfãos e entre as primeiras Missionárias Scalabrinianas, o levou a ser a ponte entre Deus e os homens, o reflexo da presença de Jesus, Mestre, Bom Pastor e Profeta dos tempos. Embora sua vida tenha sido como a passagem instantânea de uma estrela candente, como um “rastro de luz’ iluminou e orientou com sabedoria os migrantes e todos os projetos que, em seus poucos anos de missão, fez nascer, frutificar e produzir muitos frutos.
Depois de tantos anos, ainda hoje se eleva sob a Luz de Cristo a figura de Pe. Marchetti, que respondeu com heroísmo, generosidade e zelo apostólico ao chamado de Cristo, como mártir das fadigas apostólicas, deixando-nos seu testemunho de serviço à Igreja e aos migrantes, e protagonizando inovações no campo social e eclesial da mobilidade humana.
Como “modelo de missionária para o mundo de hoje” não é menos significativo o testemunho de Madre Assunta Marchetti, que sempre foi ao encontro do pobre, do órfão, do enfermo, do migrante sofredor. Como uma suave brisa ela soube acariciar e amenizar o sofrimento e a dor de muitos migrantes, revelando-lhes, com o seu amor e ternura, o amor de Deus. A evangelização foi a irradiação de uma chama interior da vida de Madre Assunta que, com seu testemunho, nos transmite um Evangelho vivo.
Ser ‘migrante com os migrantes’ foi a intuição do primeiro grupo de Missionárias encabeçadas por ela, e que ao longo dos 114 anos, continuam sendo referência para o projeto de pastoral junto aos migrantes e refugiados no contexto atual das migrações.
Somos herdeiras de um testemunho vivo e concreto de vida e espírito missionário. São muitos os apelos missionários que o Carisma Scalabriniano continua suscitando hoje na vida prática das pessoas e de nossas comunidades, pois, o fenômeno migratório continua ampliando-se a cada dia, tomando novos matizes e situações emergenciais. O contexto próprio do nosso Carisma impele a todas Missionárias Scalabrinianas, espalhadas pelo mundo, a trabalharmos com ardor e generosidade para levar a todos Cristo, a salvação do mundo, e para "contagiar" de esperança todos os povos em mobilidade.
Anunciar o Evangelho aos migrantes e refugiados deve ser para nós um imperativo, assim como foi o mandato de Jesus para seus discípulos, também assumido com radicalidade pelo nosso Fundador e Co-Fundadores. Para todos os cristãos e, sobretudo, para nós este é um compromisso impreterível e primário, pois, somos chamadas a transformar o mundo com a proclamação do Evangelho do amor, e a iluminar incessantemente o mundo que vive às escuras, contribuindo deste modo para que a luz de Deus penetre em nosso mundo.
Damos graças a Deus pelos 114 anos de existência da nossa Congregação, por todo o bem realizado pelo nosso Fundador, o bem-aventurado Scalabrini e nossos co-Fundadores Madre Assunta e Pe. José Marchetti; e por cada uma das Irmãs Missionárias Scalabrinianas que “a exemplo do Divino Salvador, são uma lâmpada que ilumina e aquece, e como o Sol que comunica sua luz e seu calor!”[5].
A todas, feliz festa da Congregação! Que o Espírito Santo aumente em nós a paixão pela missão para proclamar o Reino de Deus entre os migrantes; e Maria, a Estrela da Evangelização, nos confirme em nossa vocação missionária para que possamos anunciar Cristo, luz das nações, a todos os povos, levando a Salvação "até aos extremos da terra" (At 13,47).

· Texto elaborado por Ir. Sandra Maria Pinheiro, mscs, por ocasião da celebração dos 114 anos de Fundação da Congregação das Irmãs MSCS, como atividade do Plano de Ação da Equipe do Centro de Espiritualidade Scalabriniana, Jundiaí, SP, 25/10/2009.

[1]. PNSA. In Memoriam Madre Assunta Marchetti (1948-1998), Ed. Loyola, 1998, p. 16.
[2]. Marin, Umberto. Tudo a todos, Ed. Loyola, 1997, p. 7.
[3]. In Memoriam Pe. José Marchetti (1896-1996), Ed. Loyola, 1996, p. 18.
[4]. Idem, p. 10.
[5]. Idem, p. 33.

Nenhum comentário:

Postar um comentário