Pequim reconhece que a chuva ácida afeta mais da metade das cidades chinesas e a contaminação a sexta parte dos grandes rios do país.
A reportagem é de José Reinoso e está publicada no jornal espanhol El País, 16-06-2011. A tradução é do Cepat.
A China experimentou em 2007 mais de 80.000 “incidentes de massas”, 20.000 mais que no ano anterior. Incidentes de massas é o eufemismo que o Governo utiliza para designar protestos, greves, manifestações e outras mobilizações por motivos que vão desde as expropriações ilegais de solo até reclamações de salários não pagos e denúncias de corrupção ou abusos de poder. A partir de então, não foram publicados novos dados sobre o que os analistas consideram o crescente número de protestos que levaram emparelhado o rápido e desigual crescimento econômico do país.
Muitas destas mobilizações têm sua origem em escândalos de contaminação ambiental, em particular aquela causada por metais pesados e o vazamento das fábricas. É a ponta do iceberg do preço que o país asiático pagou desde que Deng Xiaoping iniciou o processo de abertura e reforma há três décadas, com uma máxima a tira-colo: “Enriquecer é glorioso”.
O Governo deu números a este preço ambiental na semana passada: mais da metade das cidades chinesas são afetadas pela chuva ácida e uma sexta parte dos principais rios está tão poluída que sua água não é apropriada nem para o cultivo. “A situação ambiental em seu conjunto é ainda muito grave e se enfrenta muitas dificuldades e desafios”, assegurou Li Ganjie, vice-ministro de Meio Ambiente, informa a agência de notícias Reuters.
A degradação que acompanhou o desenvolvimento chinês é um dos fracassos de um modelo considerado exitoso porque permitiu tirar da pobreza centenas de milhões de pessoas e situou a China como a segunda maior economia do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.
As águas de cidades como Xangai, Guangzhou (Cantão) e Tianjin estão classificadas como gravemente contaminadas, e apenas algumas zonas ao redor da ilha turística de Hainan, no sul, e parte da costa do norte estão totalmente limpos. Apenas 3,6% das 471 cidades controladas registram ar do nível máximo de pureza, afirmou Li, que acrescentou que a China continua perdendo biodiversidade. O político insistiu em que a contaminação, em especial aquela devida a metais pesados, é “um assunto grave” porque, segundo disse, “não afeta apenas seriamente a saúde da população, mas também a estabilidade social”.
No mês passado, na Mongólia Interior foram registrados os maiores protestos vividos nesta região autônoma nas duas últimas décadas, devido ao descontentamento existente entre a etnia mongol pelo prejuízo ambiental causado às suas tradicionais pastagens pela exploração mineral. A faísca que provocou as revoltas foi a morte de um pastor atropelado por um caminhão de transporte de carvão, dirigido por um han, a etnia majoritária na China, enquanto aquele impedia a passagem do veículo. O motorista foi condenado à morte.
Muitos dos cerca de seis milhões de mongóis chineses se queixam de que o fluxo de han na região – onde estes são maioria –, atraídos pelos recursos minerais e energéticos, deslocou os pastores, prejudicou o solo, provocou a morte de gado e ameaça o seu modo de vida e sua cultura.
http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44419
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