terça-feira, 21 de junho de 2011

'O mundo não cumpriu suas promessas com o Haiti’

As imagens de protestos nas ruas de Barcelona recebem o presidente da República Dominicana, Leonel Fernández, assim que aterrissa na Espanha a caminho do Oriente Médio. Fernández (Santo Domingo, 1953) manteve encontros em Madri com empresários e assinou um acordo entre o centro de estudos internacionais que preside, a Fundação Global Democracia e Desenvolvimento (Funglode), e o Grupo PRISA (Editor do El País). Sobre as razões que estão levando a colocar tudo em questão em países estáveis e solventes até há pouco tempo, acredita que os Governos não são os culpados pela situação e que os protestos estão errando seu alvo. “Quando na Espanha se protesta contra o efeito social que a crise está tendo, se compreende. Mas os responsáveis não são aqueles que acreditamos que sejam. Os responsáveis foram uma força invisível, uma economia financeira global desregulada onde houve muitas cumplicidades, e ninguém os enfrentou”.

A reportagem é de Pablo Ximénez de Sandoval e está publicada no jornal espanhol El País, 18-06-2011. A tradução é do Cepat.

Em um mundo que havia se esquecido dos golpes de Estado, “o que está acontecendo na Grécia é um golpe de mercado”, afirma, tomando emprestado uma expressão que se popularizou na Argentina na crise do final dos anos 1980. Fernández se indigna com o “nível de crueldade e a falta de humanidade” da situação. “Não importa que as pessoas percam o emprego, que não tenham ingressos, que sejam expulsas de suas casas, nada disso importa! O importante é que os bancos sejam pagos. Os bancos que estão na origem desses problemas. É uma espécie de conspiração mundial contra a estabilidade dos países, com Governos que não têm força para poder enfrentar tudo isso”.

No centro dessas “cumplicidades” na especulação financeira, Fernández situa as “agências qualificadoras de risco que aprovaram operações de bancos que quebraram e ninguém as regula”. “Temos uma vinculação dessas agências com meios de comunicação que impõem o debate. Quando estes jornais colocam nas manchetes o que essas agências dizem, os Governos tremem, sem que possam fazer nada, no momento”.

Fernández disse tudo isso como presidente de um país que espera crescer mais de 5% este ano, mas que sofre outro tipo de especulação: vive dependente dos preços dos alimentos e do petróleo. Afirma que em ambos os casos são grupos de especuladores “que nada têm a ver com o mercado” que estão influindo nos preços. Qualquer crescimento de seu país “tem a limitação do petróleo”. “O que propusemos é um pacto global contra a especulação financeira de produtos básicos. E já encontramos uma resposta positiva em muitos países”. Esse pacto não deve ser feito no G-20, que considera “um clube de ricos”, mas na ONU, que chama de “G-192”.

O presidente da República Dominicana defende firmemente que se rompa a tradição da direção europeia em instituições como o Banco Mundial e o FMI. A candidatura do mexicano Agustín Carstens para dirigir o Fundo “significa o reconhecimento que a América Latina merece como região”. Como membros da ONU “é um direito que nos corresponderia e que nos foi negado desde que em 1945 foram criadas estas instituições”.

Fernández traça um panorama preocupante do país vizinho, o Haiti, onde afirma que “há um estancamento” ano e meio depois do terremoto de janeiro de 2010 que estremeceu o mundo. “Os escombros não foram recolhidos. Os projetos de moradias não foram iniciados. Naturalmente, isto também se deve ao fato de que a comunidade internacional não esteve à altura de suas promessas”.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=44521

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