sexta-feira, 16 de abril de 2010

Organ Traffic pressiona governo e alerta sociedade sobre tráfico de órgãos

Tatiana Félix *

Adital -
"Hoje, 11 de abril de 2010, assistimos pela televisão ao desfecho dos casos dos desaparecimentos dos seis jovens de Luziânia, cidade de Goiás (GO). Situação acompanhada por uma nação estarrecida sem entender como o ser humano se tornou descartável e sem nenhum valor e dignidade". Esse é um dos trechos da Carta Aberta enviada ao Governo Federal, no último dia 11, pela Organ Traffic - entidade que atua no enfrentamento ao Tráfico de Órgãos Humanos - para solicitar a criação de uma Comissão Especial que investigue os crimes relacionados ao tráfico de órgãos no Brasil.
Essa não é a primeira vez que a entidade envia uma carta ao Governo. Um documento com a mesma finalidade já havia sido publicado três anos antes, mas ficou sem resposta. Para irmã Maria Elilda dos Santos, fundadora da Organ Traffic, o resultado do silêncio do governo brasileiro faz com que a situação se agrave, sem nenhum controle das autoridades. "O crime vem se oficializando", destaca a recente carta.


Elilda afirma que a história, mais uma vez, se repete. Segundo ela, em setembro de 2004, nos estados do Maranhão e do Pará, 41 crianças foram executadas e tiveram alguns de seus órgãos retirados. Na época, foram presos um médico e alguns empresários, que seriam os chefes da rede organizada do tráfico. "O médico foi preso e condenado a 56 anos, mas, no final das contas, todos foram absolvidos", lembrou. "Depois foi apresentado um mecânico como testa de ferro. Alegaram que ele tinha distúrbio e realizava rituais macabros", continuou.

Para ela, a mesma história está sendo repetida agora no caso dos seis garotos de Luziânia, que estavam desaparecidos desde dezembro do ano passado. Somente há poucos dias, o pedreiro Adimar Jesus da Silva, ex-detento beneficiado pela progressão de pena, assumiu a autoria dos crimes, dando detalhes sobre como teriam acontecido os assassinatos.

A mesma situação também aconteceu em São Paulo, de acordo com a ativista, quando dois jovens foram mortos e tiveram seus órgãos retirados. "É sempre o mesmo perfil, a mesma idade. E mais um presidiário foi usado para assumir os crimes". "É uma historinha tão mal contada que até uma criança do jardim da infância perceberia que a história foi montada", ironizou a religiosa.

A maior preocupação da fundadora da Organ Traffic é alertar, conscientizar e sensibilizar a sociedade brasileira sobre a ocorrência desse tipo de crime e a gravidade da situação. "Com um pouquinho de atenção, as pessoas vão perceber que é um pacote fechado, uma história montada", alertou.

"O que me deixa preocupada é o silêncio da sociedade, o silêncio de toda uma nação. Até quando vamos assistir tudo de camarote? A sociedade tem que reagir, não é possível que a gente engula tudo o que eles ‘vomitam’", indignou-se. "A gente faz um esforço tremendo para dizer que a situação é grave, e ninguém leva a sério", completou.

Elilda, incansavelmente, investiga as suspeitas de crimes relacionados ao comércio ilegal de órgãos humanos. Na carta, também é solicitada a investigação de ossadas humanas encontrada no início do mês passado em Mauá, região do grande ABC, em São Paulo. Para ela, "o Ministério Público já tinha conhecimento sobre a existência de sepulturas clandestinas com a participação de policiais", afirmou.

Até agora o Governo não deu nenhum retorno sobre a carta enviada no dia 11. "Eu temo por uma tragédia maior, um desfecho muito perigoso. As principais vítimas são nossas crianças e jovens. O governo está contribuindo para o crime, já que quem cala, consente", finalizou.

No documento a entidade exige ainda que sejam esclarecidos os casos de desaparecimento de crianças, adolescentes e jovens em alguns estados brasileiros, onde a situação seria mais crítica, como Goiás, Amazonas, Pará, Maranhão, Pernambuco, Espírito Santos, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, além de Brasília.


* Jornalista da Adital

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