O Núcleo Cultural Guarani "Paraguay Teete" em parceria com o Cineclube Cinefusão, convidam para a exibição e debate do filme paraguaio "Hamaca Paraguaya", de Paz Encina.
VAMOS A AGENDAR ESTE EVENTO: Domingo, 05 de junio, 18:30 - 22:00 hs
Local: Rua Augusta, 1239, sala 13 - Metrô Consolação
Filme: HAMACA PARAGUAYA. Duração: 1 hora e 15 minutos (falada em guarani com leyenda em español)
DEBATE:
- Nancy Areco, jornalista paraguaia, da Associação de Correspondentes Estrangeiros em SP.
- Angelica Careaga Soler, paraguaia, doutora em História Social pela USP e professora de História da PUC-SP.
- Mario Villalva Filho, mestre em Integração da América Latina pela USP e professor ministrante de língua Guarani na FFLCH-USP.
Hamaca Paraguaya, escrita e dirigida por Paz Encina que nasceu em Assunção, Paraguai, em 1971. Em 1996, entrou na Escola de Cinematografia onde fez o doutorado em cinematografia (2001). Após varias curtas, retoma com sua primeira longa, "Hamaca Paraguaya", uma ideia já exposta em uma curta homônima. Esta co-produção hispano-franco-paraguaia foi premiada pela crítica internacional no festival de Cannes.
Protagonizada por Ramón del Río e Georgina Genes. Levou o prêmio Fipresci da seção "Un certain regard" do Festival Internacional de Cinema de Cannes 2006 e participou na seção oficial do Festival Cinemas do Sul de Granada (Espanha) de 2007.
HAMACA PARAGUAYA: Ambientada em junho de 1935 durante as últimas horas da Guerra do Chaco, entre o Paraguai e a Bolívia, o filme conta a espera ao longo de todo um dia por parte de Ramón e Cándida, um casal de camponeses sexagenários, para ver se seu único filho volta ou não da guerra.
Sua característica mais interessante é que foi rodado em guarani.
"O guarani era a língua que falavam vários povos indígenas que habitavam a região do atual Paraguai antes da chegada dos espanhóis. Após um intenso processo de mestiçagem, o guarani passou a ser a língua da maioria dos paraguaios. Na atualidade, 27 % da população que somente fala guarani mora nas zonas rurais, e 59 % é bilíngue e fala tanto guarani quanto espanhol. Embora a Constituição paraguaia reconhece o guarani como língua oficial, não desfruta do mesmo tratamento que o espanhol e de fato, tem se convertido em causa de exclusão social e econômica.
Paz Encina escreve sobre "Hamaca paraguaya"
Por Paz Encina (*) ANO: 2006
Quando falo de silêncio, falo de silêncio e de tempo. Um silêncio onde convergem solidão e tristeza, um vínculo que se resiste a sumir, uma espera interminável e a busca do sentido da vida. Desta forma, cada silêncio representa um regresso a tudo e é preciso tomar o tempo necessário para expressá-lo.
Quando concebi a estética temporal para "Hamaca paraguaia", decidi que cada imagem duraria todo o tempo que fosse necessário para expressar-se e não o tempo para que os outros o vissem. Em cada plano, os pequenos atos são mostrados de principio a fim: um suspiro que termina, um leque que se abana e acaba por refrescar o ambiente, o canto de uma cigarra, alguém que descasca e come uma laranja em tempo real. O que me interessa é que cada imagem capture não somente a beleza exata das coisas, senão também os momentos precisos que evocam um detalhe perfeito de cada um destes atos, que se observam na totalidade de seu desenvolvimento.
Como se cada silêncio fosse uma página em branco.
Aqueles silêncios que se fazem presentes, a sequências principais se desenvolvem em um clima de silêncio lento carregado de um sentido que se expressa sem rodeios, um silêncio que deixa nas cenas uma marca temporal. Um silêncio carregado de subentendidos, que geram uma intertextualidade na que o espectador participa abertamente e na que o importante não somente reside na marca que deixa a ação senão no sentido que esta adquire na matriz da obra.
Decidi que não devia temer ao tempo e, embora paradoxalmente trata-se de uma história com poucos diálogos, acho que recreio um mundo que, acima de tudo, é o meu. Um mundo silencioso, onde o tempo separa as palavras, um tempo definido pela palavra "silêncio" com o que tento abranger sutilmente todos os limites entre o presente e o passado. As sequências temporais se sobrepõem e a memória enganosa do presente desaparece. Semânticas novas e gritos silenciosos deixam ao descoberto mal-entendidos que não são ditos, mas que se expressam, e as respostas pendentes nos permitem vislumbrar emoções que nunca serão reveladas. Os silêncios eloquentes, jogados para o ar, sugerem o que pode sumir a qualquer momento, deixando-nos um instante sonoro como um traço, uma marca, um eco, um vazio sinistro. Isso é "Hamaca paraguaya".
Na sinopse e neste texto creio haver expressado de forma geral os motivos que têm me levado a realizar este filme. Mas não são os únicos.
A última fita realizada no Paraguai em 35 mm e que foi estreado nas salas de cinema remonta-se aos anos setenta: um filme sobre a guerra da Tríplice Aliança, e que contou com o beneplácito unânime do regime ditatorial do presidente Alfredo Stroessner, que então estava no auge de seu poder. De fato, a introdução deste filme, titulado "Cerro Corá", inclui seu profundo agradecimento ao "grande líder" e a seus seguidores (cujos filhos participaram no filme) pelo apoio à cultura do país.
Logo, nos anos noventa, alguns diretores estrangeiros vieram ao Paraguai para realizar co-produções, atraídos por uma mão-de-obra barata devido ao câmbio do guarani, nossa moeda nacional. Em seus filmes utilizaram atores e enfeites paraguaios, mas não refletiam a realidade do país.
Também houve alguns projetos para rodar longas-metragens em vídeo, mas não foram bem-sucedidos e também não nos identificávamos com eles
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