Tatiana Félix *
Adital -
Um dos assuntos discutidos durante a última audiência da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) sobre Tráfico de Pessoas, no Senado Federal, em Brasília (DF), realizada na terça-feira (31), foi o uso da internet como meio de aliciamento de vítimas das redes criminosas do tráfico de pessoas. O presidente da SaferNet Brasil, Thiago Tavares Nunes de Oliveira, alertou sobre este perigo.
Segundo Thiago, a SaferNet recebeu a denúncia sobre a existência de cerca de 700 sites de recrutamento de modelos, sendo que muitos são comunidades do site de relacionamento pessoal Orkut. Ele explicou que essas supostas agências geralmente não têm sede e atuam apenas na rede. A relatora da CPI, senadora Marinor Brito (PSOL-PA), informou que essas supostas agências serão investigadas.
Para captar suas vítimas, estes sites costumam fazer propostas ‘irrecusáveis' para eventos e congressos, por exemplo, e pedem que seus alvos enviem fotografias com trajes de banho para avaliação. Essas fotografias são enviadas depois para sites de prostituição no exterior.
Além dos sites e comunidades, existem também anunciantes que servem à rede criminosa do tráfico humano. O presidente da SaferNet explicou que estes anúncios costumam usar o código "ficha rosa" para indicar que estão recrutando modelos que, além de participarem de eventos também estarão disponíveis para programas sexuais. Por isso, ele destacou a importância de se desenvolver um trabalho de conscientização para que os/as jovens não se exponham tanto na internet e tomem precauções diante de uma suposta oferta de trabalho.
"O mais importante é desconfiar de propostas que acontecem de uma hora para outra. Antes de tudo, procure saber se a agência realmente existe, quais trabalhos foram realizados e quais modelos trabalharam nela. As falsas agências geralmente procuram perfis de pessoas nas redes sociais. E os jovens acabam revelando seus dados pessoais. A promessa de dinheiro fácil implica em riscos, incluindo o risco da integridade física, da própria vida", alertou.
Para ajudar na investigação da CPI, a SaferNet criou e cedeu gratuitamente para o Senado Federal, uma ferramenta por onde as pessoas poderão denunciar de forma anônima, os casos suspeitos de tráfico de pessoas na internet. As denúncias recebidas pela página da CPI do Tráfico de Pessoas serão encaminhadas à Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos da Safernet. A ferramenta está disponível desde ontem (1º) na página da CPI: http://www.senado.gov.br/noticias/especiais/traficodepessoas/default.asp
Além de Thiago Tavares, a CPI também ouviu o representante regional do escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC), Bo Mathiasen, que falou sobre a necessidade da cooperação internacional para fortalecer o enfrentamento ao tráfico nacional e internacional de pessoas no Brasil. "A cooperação internacional é fundamental para combater este crime que ultrapassa fronteiras e envergonha a todos", disse.
Mathiasen observou ainda que o Brasil vem se empenhando no combate ao tráfico de seres humanos, mas que é preciso investir mais "na questão da prevenção, proteção de vítimas e testemunhas, na investigação policial e no fim da impunidade".
A CPI do Tráfico de Pessoas foi criada no dia 16 de março para investigar o "tráfico nacional e internacional de pessoas no Brasil, suas causas, consequências, rotas e responsáveis entre os anos de 2003 e 2011". Estimativas apontam que a rede criminosa do comércio de vidas humanas lucra algo em torno de US$ 30 bilhões por ano.
A Safernet é uma associação civil que se tornou referência no enfrentamento aos crimes e violações aos direitos humanos que acontecem pela internet. Para saber mais, acesse: http://www.safernet.org.br/site/.
Leia mais sobre a CPI do Tráfico - Senado cria CPI do Tráfico de Pessoas
* Jornalista da Adital
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