quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ir. Mafalda Seganfredo: 60 anos de Vida Religiosa. Um testemunho.

No dia 29 de junho de 2011 a Ir. Mafalda Seganfredo, Missionária de São Carlos, Scalabriniana, completa 60 anos de Vida Religiosa, aliás, no mesmo dia em que o Papa Bento XVI completa 60 anos de Ordenação Presbiteral. Como sobrinho e tendo sido animado vocacionalmente especialmente por ela, não posso deixar de elevar ação de graças a Deus pela sua vida e pela sua missão, bem como não poderia deixar de dar o meu testemunho pessoal.

Quando eu nasci ela havia apenas assumido a nova - e pioneira missão entre as scalabrinianas - no Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e Itinerantes, no Vaticano, onde desempenhou uma apreciada atividade entre os anos 1978 e 1998. Digo apreciada, pois nos anos em que estive em Roma (2001 – 2006), pude colher daqueles que trabalharam com ela os melhores elogios pelo seu espírito de trabalho.

Não obstante a distância, fui aprendendo a admirar essa mulher por aquilo que me contavam dela: uma pessoa firme, inteligente, empreendedora, criativa, alegre... Quando senti as primeiras provocações do Espírito, do ponto de vista vocacional, não me lembro exatamente quando, mas bem cedo, entre os 5 e os 10 anos, comecei a entabular uma correspondência epistolar ininterrupta com ela, em tempos em que a Internet não havia e as cartas, entre Roma e David Canabarro (RS), entre o ir e o voltar, demoravam meses. Essa correspondência é vasta, toda guardada, e sempre me prometo que a irei relê-la. De fato, não tenho dúvidas de que nela encontrarei a minha trajetória de vida e vocacional. A Tia Mafalda, com muito delicadeza e discrição, soube acompanhar-me vocacionalmente ao longo de todos esses anos... e ainda o faz.

Mafalda Seganfredo nasceu no interior de Nova Bassano no dia 09 de agosto de 1928, filha de imigrantes italianos vênetos, 8ª filha entre onze irmãos, dentre os quais o meu pai. Tendo perdido o pai com nove anos, teve exemplo de mulher forte na mãe, a Nona Theresa Parisotto Seganfredo. A proximidade com o mundo scalabriniano deu-se especialmente pela presença muito próxima com os padres scalabrinianos, os carlistas, que passavam e sentiam-se bem acolhidos na casa Seganfredo, quando de suas idas e vindas às Capelas do interior ou indo e vindo do Seminário de Guaporé, através de Vista Alegre. Não saberia mencionar o nome de todos, mas recordo um grande amigo da família, Pe. Paolo Bortolazzo, recentemente falecido. A convivência com esses religiosos deixou sementes plantadas que germinaram no tempo adequado. De fato, a Ir. Mafalda terá sempre um sentido de amizade e de proximidade com os missionários scalabrinianos. Assim, enquanto nas décadas passadas e relação entre os padres e as irmãs precisou ser trabalhada, ela nunca sentiu essa problemática. A estima vinha do berço.

Não me sinto em condições de falar do despertar da vocação da Ir. Mafalda, visto ser algo de muito pessoal, empresa que só ela poderia empreender. Além disso, ela mesma a narra em uma compilação organizada há alguns anos pela Ir. Eléia Scariot, mscs. Sei apenas que, quando teve a certeza de que Deus a chamava para a consagração, respondeu com generosidade e nunca mais olhou para trás, seguindo assim o mandato de Jesus presente no Evangelho segundo Lucas: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” (Lc 9,62).

De fato, uma das características mais marcantes da Ir. Mafalda sempre foi o sentir-se encontrada na própria vocação à Vida Religiosa. Ela é uma mulher realizada no caminho que empreendeu como resposta ao Chamado de Deus! Isso sempre me estimulou muito. É possível ser consagrado e ser feliz? Sim, é! Eu sempre vi isto na Tia Mafalda. Talvez as suas três irmãs mais jovens também tenham se deixado influenciar pos isso, tendo-a seguido na consagração: a Ir. Rosalina e a Ir. Inácia (Amantina) como scalabrinianas e a Ir. Lúcia (Avelina) como monja carmelita, junto ao Carmelo de Porto Alegre.

Outra característica muito marcante foi o sentido de pertença à Congregação das Missionárias de São Carlos, fundada pelo Bem-aventurado Scalabrini em 1895. Para os tempos antigos outros deverão testemunhar. Posso dizer apenas que, em 1998, quando por motivo de idade devia aposentar-se da sua missão junto ao Pontifício Conselho, respondeu aos responsáveis pelo mesmo que era “filha da Congregação” e, portanto, obedeceria às orientações da mesma em relação ao seu futuro. Isto é, não iria insistir para permanecer mais tempo no mencionado Dicastério, como lhe era pedido pelos mesmos. Com o mesmo espírito, tendo retornado ao Brasil, não obstante os seus 70 anos de vida e os 20 de distância da realidade brasileira, colocou-se imediatamente ao trabalho junto à pastoral migratória da Diocese de Caxias do Sul, onde foi estimada pelo já mencionado espírito de trabalho. De fato, testemunhara Pe. Isaia Birollo com admiração: “È una donna lavoratrice!”.

Uma outra característica dela é o espírito de adaptação aos tempos e aos lugares. Se por um lado é uma mulher firme e prática, não é em nenhum modo intransigente e fechada em velhos esquemas. Tive a oportunidade de perceber a sua capacidade de escutar as pessoas e de entrar no seu mundo, na sua cultura, na perspectiva das mesmas, de modo a poder incidir com uma palavra adequada... e sempre concluindo com a conquista de uma nova amizade. Aqui soube ser filha do Bem-Aventurado Scalabrini, que falava do “entrar com a deles para sair com a nossa!”, expressando assim flexibilidade, sensibilidade interpessoal, capacidade de inculturação, sempre tendo em vista a evangelização. Com esse espírito demonstrou facilidade para relacionar-se com os jovens.

Claro, meus amigos, alguém poderia dizer que minhas palavras são suspeitas, visto serem escritas por um sobrinho que declaradamente expressa sua admiração pela Tia. Todavia, 60 anos de Consagração, vividos na fidelidade merecem, sem dúvida, a “eulogia” e a “eucharistia”, isto é, o louvor e a ação de graças!

Cara Tia Ir. Mafalda, obrigado pelo seu testemunho! Que o Deus Trindade, pela intercessão do Bem-Aventurado Scalabrini e de todos os Santos, a prodigalize com as suas melhores bênçãos!

Eis, caros amigos e amigas, um simples testemunho que não poderia deixar de apresentar.

Com uma saudação,

Pe. Antônio César Seganfredo, cs
Missionário Scalabriniano

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