Camila Queiroz *
Adital -
Conscientizar e mobilizar contra o tráfico de pessoas. Essa é a proposta do projeto "Tecendo Parcerias para o Enfrentamento da Violência e Tráfico de Mulheres", iniciativa que a Cáritas Norte 2 vem desenvolvendo desde o início deste mês no município paraense de Igarapé-Miri, em parceria com a agência holandesa de cooperação internacional, Cordaid.
Localizada a 78 quilômetros da capital Belém, a cidade tem como principal atividade econômica o extrativismo, trabalho "pesado". Concentrada quase que totalmente nisso, Igarapé-Miri acaba por excluir as meninas, mandando-as para o serviço em casas de famílias. Assim, elas se tornam potenciais vítimas do tráfico de pessoas.
"As meninas das comunidades são mandadas para fora, por não interessarem à economia local, que é baseada no extrativismo, é um trabalho considerado pesado. Com isso, há possibilidade de elas sofrerem aliciamento para o tráfico de pessoas", explicou o secretário-geral da Cáritas Norte 2, Lindomar Silva.
Lindomar citou dados do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), segundo os quais 19 mil meninas por ano, no estado do Pará, saem de seus lares, mandadas para trabalhar em casas de famílias. Ele ressaltou que devido à gravidade da situação, foi instaurada uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o processo de aliciamento, que muitas vezes começa no trajeto até as casas de família onde vão trabalhar.
Para fazer frente ao triste cenário verificado em Igarapé-Miri, o projeto da Cáritas se desenvolverá em três etapas, envolvendo conscientização, mobilização e formação em um período de três anos. A primeira fase, já em andamento, visa à conscientização, por meio de debates junto a escolas, igrejas, associações comunitárias e agentes de saúde. Com isso, pretende-se traçar, em conjunto, estratégias de enfrentamento ao tráfico.
Grupos de crianças e adolescentes ligados ao teatro, música, dança, às artes, em geral, são aliados na empreitada. "Queremos mobilizar também a juventude, por meio da formação", afirma Lindomar.
A segunda etapa do projeto busca o fortalecimento das relações com entidades não-governamentais e instituições públicas que lutam contra o tráfico humano e a favor dos direitos de crianças e adolescentes.
Isso acontece desde já, pois há uma aproximação com a Comissão Brasileira de Justiça e Paz (CBJP), órgão da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), na realização do Seminário Regional de Combate ao Tráfico de Seres Humanos, a ocorrer entre os dias 23 e 25 de junho, com a cooperação da Cáritas.
Outra ideia é aproveitar momentos de festejos populares para realizar ações de conscientização, com panfletagens. Lindomar cita o Festival do Camarão e a Festa de Santana, em Igarapé-Miri, e também festas nas cidades vizinhas Cametá e Abaetuba, por onde o projeto deve se "espalhar" posteriormente, já que os municípios vivenciam realidades semelhantes.
Por fim, a fase da formação terá o Teatro do Oprimido, com base no teatrólogo Augusto Boal e no educador Paulo Freire, como parte da metodologia. "Com o Teatro do Oprimido, que dá voz aos explorados, nós queremos dar condições para que a comunidade reflita e seja o principal instrumento de mobilização", disse.
Além disso, haverá oficinas relacionadas com Economia Solidária, geração de renda e inclusão social. "É importante o incentivo à geração de renda, porque desenvolver somente a atividade extrativista relega as meninas ao segundo plano. Queremos desenvolver, então, práticas da Economia Solidária, para gerar renda e prevenir o tráfico", esclareceu Lindomar.
Ainda em dezembro deste ano, será lançada uma cartilha com os principais dados do tráfico de pessoas na região e uma cartografia com os pontos de aliciamento. A pesquisa está em desenvolvimento há cinco meses, em uma parceria entre a Cáritas e estudantes e pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA).
* Jornalista da ADITAL
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