quarta-feira, 9 de setembro de 2009

CORRIDA ARMAMENTISTA TUPINIQUIM?

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS

A Venezuela, às ocultas e às claras, passa armas para as FARC. Ao mesmo tempo compra grande quantidade de armamento da Rússia e do Irã. A Colômbia abre espaço para a presença militar dos Estados Unidos em seu território, com o pretexto de combater as FARC e o narcotráfico. E agora o Brasil faz acordo com a França para a compra de helicópteros, submarinos e caças, também sob o pretexto de defender as riquezas nacionais, particularmente a Amazônia e o Pré-Sal.

Como diz Eliane Catanhêde, Numa comparação doméstica, Colômbia e Peru aprofundam a sua dependência dos EUA, Venezuela arrasta Equador e Bolívia para os braços da Rússia e do Irã. Enquanto o Brasil escapa da polaridade e opta pela França (Folha de São Paulo, 08/09/09, pág. A2). Que se pode deduzir de tudo isso. É ainda a mesma jornalista que sugere: Há uma decisão geopolítica: a França e o Brasil se unem, não exatamente contra os EUA, mas por um melhor equilíbrio internacional.

O tempo da corrida armamentista e da guerra-fria é coisa do passado. Pertencia ao mundo bipolar, quando as duas grandes potências mundiais, EUA e União Soviética, mantinham uma paz baseada no equilíbrio das armas, especialmente nos arsenais atômicos. Paz de cemitério, se quisermos! Os demais países procuravam alinhar-se a um ou outro bloco, como satélites girando na órbita dos interesses centrais e poderosos. Não faltaram invasões, ocupações e intimidações, em que a guerra se tornava quente.

Atualmente e aos poucos, o mundo vai se tornando multipolar. A União Européia, os chamados tigres asiáticos, com destaque para a China e Japão, e os países emergentes ganham força e influência. A recente crise financeira e econômica veio descentralizar ainda mais esse jogo de xadrez geopolítico. Também contribuiu para isso a substituição de Bush por Obama. O Império revela seu telhado de vidro e seus pés de barro.

Mas restringindo nosso olhar à América do Sul, o que está acontecendo? É verdade que há um certo avanço das forças de esquerda, que acabaram elegendo uma série de presidentes mais independentes das tradicionais orientações do Consenso de Washington. Mas também é verdade que esses novos presidentes, em geral, tendem a ressuscitar dois vícios bem característicos da história deste continente: o caudilhismo e o populismo. Outros simplesmente abandonam os programas de suas bases para seguir as diretrizes do capitalismo financeiro e neoliberal. Parece que o projeto de poder toma o lugar de um verdadeiro projeto de nação: livre, autônomo e solidário.

Neste cenário, como interpretar essa corrida armamentista tupiniquim? Há uma disputa pela hegemonia do bloco sul-americano? Há necessidade de recorrer essa paz sustentada, não na justiça e no direito, mas sobre o medo do poder bélico dos vizinhos. Embora seja lícito proteger o patrimônio de um povo, onde vai parar esse investimento maciço em armas? A tendência natural é de que um visinho acabe incitando o outro à corrida, num círculo vicioso sem fim.

Diante disso, é legítimo perguntar como ficam as políticas públicas da saúde, da educação, da reforma agrária e agrícola, dos transportes públicos, da habitação, do meio ambiente, da proteção dos indígenas e quilombolas, e assim por diante. E as reformas política, tributária, urbana, urgentes e necessárias? Será salutar aumentar a esse ponto o poder bélico e, ao mesmo tempo, criar mais um imposto Contribuição Social para a Saúde (CSS) jogando sobre os ombros da população o ônus da saúde pública, por exemplo? Isso para não falar do ralo em que se tornaram os gastos dos parlamentares, onde a ética da política deu lugar a uma corrupção endêmica.

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