quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Desemprego e redução de renda: para trabalhadores a crise ainda não terminou!

O número de trabalhadores demitidos com a crise econômica mundial no Brasil até abril desse ano já soma cerca de 650 mil, segundo o Dieese. O setor industrial foi aquele que mais cortou postos de trabalho. Até esse período, foram demitidos 166 mil, somente na região metropolitana de São Paulo. A pesquisa revela ainda que a taxa de desemprego total nas regiões metropolitanas de Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife, Salvador, São Paulo e no Distrito Federal está em torno de 14,8%.

A crise econômica não atingiu somente os trabalhadores que perderam seus empregos. Aqueles que continuam trabalhando também estão pagando a conta da crise com a diminuição da renda (através de acordos de redução salarial assinados por algumas centrais sindicais) e com o aumento da produtividade (ou seja, do nível de exploração), como forma de recuperação dos lucros das empresas.

Os que conseguiram trabalho durante esse período também estão sofrendo com os seus efeitos. O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) registrou uma queda de 3,9% na renda do trabalhador durante o período da crise. Segundo a pesquisa, essa perda é fruto da migração dos trabalhadores do setor industrial, que paga os melhores salários, para o setor de comércio e serviços. Além de pagar menores salários, esse setor é sabidamente um dos que mais extrapolam a jornada de trabalho vigente no país.

O exército de desempregados é inerente ao capitalismo
O quadro do desemprego assolou todas as economias do mundo. Nos EUA, já foram demitidos 6 milhões de trabalhadores desde dezembro de 2007 (somente em julho desse ano foram 247 mil) e aumentam a cada dia os pedidos de auxílio-desemprego. Diante desse quadro, o presidente Barack Obama já anunciou que espera que a taxa de desemprego aumente para 10% esse ano (está em torno de 9,4%).

Já na Europa, um dos continentes mais afetados pela crise, existem cerca de 21 milhões de desempregados somente nos países que compõem a União Europeia. O que levou às ruas milhões de trabalhadores na França, Grécia e Islândia em protestos contra a crise e as demissões em massa.

Em decorrência da crise, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) prevê que o número de desempregados no mundo poderá atingir 59 milhões em 2009. Isso aumentaria o contingente de desempregados para algo em torno de 239 milhões de pessoas! Entre esses, a juventude é um dos setores mais afetados. Estima-se que entre 11 e 17 milhões percam seus já escassos postos de trabalho.

Essa realidade, além dos números chocantes, comprova que o capitalismo não consegue existir sem desemprego. É a multidão de desempregados que pressiona os que mantêm seus empregos a aceitarem a redução de salário, por exemplo. E também é esse “exército industrial de reserva”, como falava Marx, que serve como mão de obra rotativa, substituindo salários altos por outros mais baixos. Para acabar com este flagelo do desemprego, a única solução definitiva é acabar com o próprio capitalismo.

Lula e centrais sindicais governistas defendem ataque aos trabalhadores
O que têm feito os governos para impedir que trabalhadores e suas famílias sejam levados à miséria pelo desemprego? É fácil responder: nada. Nesse cenário de crise mundial, os governos optaram por salvar o sistema financeiro e o capitalismo, injetando trilhões de dólares para recuperar bancos e empresas.

No Brasil, Lula, mais uma vez, demonstrou para quem governa: tem ignorado todas as demissões ocorridas e permanece financiando as empresas que demitem, através de empréstimos do BNDES e da redução de impostos. Não assinou a convenção 158 da OIT (dispositivo que impede a dispensa imotivada) e foi para a televisão estimular os brasileiros a se endividarem consumindo, como forma de superar a crise. Está mais preocupado, nesse momento, em apoiar Sarney a permanecer no Senado para garantir o apoio do PMDB nas eleições de 2010.

Por outro lado, as centrais sindicais têm feito muito pouco na defesa dos trabalhadores. Umas buscaram vergonhosamente o caminho da conciliação de classes com os patrões, fechando acordos de redução da jornada e de salários, defendendo banco de horas, e se somando ao empresariado nacional nas reivindicações de diminuição de impostos para o setor, como fazem a Força Sindical e a CUT, nos dois últimos casos.

Outras, como a Conlutas, têm ajudado, infelizmente, a alimentar as ilusões dos trabalhadores no governo, ao levarem adiante campanhas de abaixo-assinado com exigências a Lula para garantir a estabilidade no emprego, sem que esta atividade faça parte de um calendário de lutas nas ruas, paralisações e enfrentamento direto ao governo. Também condenamos o fato da direção da Conlutas alimentar confiança nas instituições burguesas, como no caso das mais de 4.000 demissões da Embraer, em que se buscou a reversão dessa medida principalmente através do TRT, o que se demonstrou uma capitulação muito grave, através da confirmação pelo TST, esse mês, de todas as demissões.

Somente através das mobilizações e da luta podemos impedir e reverter todas as demissões. É necessário lutar pelo emprego, pela diminuição da jornada para 36h semanais, e por condições dignas de trabalho, mas é preciso dizer aos trabalhadores que sem derrotar o capitalismo, estaremos sempre, de crise em crise, numa eterna luta por nossa sobrevivência. Por isso, junto das reivindicações econômicas, temos que avançar na luta por derrotar Lula e o Congresso, romper com o pagamento das dívidas públicas e estatizar sem indenização as empresas que demitem.

Este programa deve, para poder obter sucesso e mobilizar os trabalhadores, ser pautado em cada assembleia, greve e mobilização, como pontos de apoio para a luta pelo socialismo e o fim da exploração. Só assim, se combaterá seriamente o desemprego e se evitará efeitos ainda maiores da crise econômica sobre os trabalhadores.

Movimento Revolucionário

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