sexta-feira, 11 de setembro de 2009

A nova cara da imigração

A crise econômica internacional e o rigor na fiscalização nos EUA têm ajudado a conferir novos traços ao movimento de brasileiros que acreditam que a possibilidade de uma vida melhor está em terras estrangeiras.

Nesta reportagem, Zero Hora mostra a história de brasileiros que, dispostos a desafiar o rigor da lei, atravessaram ilegalmente a fronteira do México com os EUA. Um sonho alimentado pela ação de quadrilhas especializadas, os chamados coiotes, que cobram um alto preço para burlar a vigilância americana.

Em outra rota, há os brasileiros que apostam na Europa como a melhor alternativa para a imigração, muitas vezes estimulados pelo acesso mais fácil ao continente ou pela obtenção de uma segunda cidadania.

Acrise financeira que bateu com força à porta dos americanos no último ano provocou transformações, mas não foi capaz de barrar por completo o sonho de uma vida melhor nos Estados Unidos. Sobre o peso da turbulência global, diferentes opiniões. Vivendo na Pensilvânia, um mineiro de 35 anos que entrou ilegalmente nos EUA afirma que os brasileiros deixaram de ir para lá porque as vagas de trabalho diminuíram:
– Muita gente foi embora porque não conseguia nem dinheiro para sobreviver aqui.

Para Paulinho Costa, presidente da Associação dos Parentes e Amigos dos Emigrantes do Brasil (Aspaemig), a crise forçou o retorno de muitos brasileiros. A estimativa é de que, entre outubro de 2008 e junho de 2009, cerca de 2 mil pessoas tenham voltado a Governador Valadares (MG), cidade conhecida nacionalmente pelo grande volume de emigrantes que mandava aos EUA.

Para o jornalista gaúcho Luciano Sodré, 37 anos, que há sete vive nos EUA, a crise não influenciou na decisão dos brasileiros de emigrar. Como colunista do jornal Brazilian Times, conheceu de perto a realidade de mais de 80 brasileiros que entraram ilegalmente no país e, durante um ano e meio, publicou no jornal as histórias dessas pessoas. Para ele, uma outra questão pesou:
– Foi a fiscalização naquela região.
Ao mesmo tempo, isso criou novos caminhos.
– O Canadá está se tornando rota. Já ocorreram várias prisões de imigrantes tentando entrar por lá – afirma o jornalista.
Para quem cruza a fronteira dos EUA ilegalmente, há um alto preço a pagar – os valores cobrados pelos coiotes, os facilitadores e intermediários desse tipo de imigração, podem chegar a US$ 20 mil (R$ 38,12 mil).
– Às vezes, a família vende bens, na esperança de que a pessoa consiga reverter isso e ganhar muito dinheiro nos EUA – afirma o titular da Delegacia da Polícia Federal de Governador Valadares, William Nascimento Santos.

Segundo o delegado, escritórios de despachantes e casas de serviço de câmbio são locais em que essas redes costumam operar. Para ele, uma questão cultural, arraigada na sociedade, contribui para a manutenção do negócio. Há ainda as ameaças dos coiotes:
– Eles dizem: “Queremos mais tanto, senão vamos fazer alguma coisa com um parente seu no Brasil ou te entregar para a imigração”.

Como tem medo, o ilegal cede. A vulnerabilidade também transformou os brasileiros em alvo de outra ameaça: o sequestro na travessia. Enquanto aguardam a ordem para cruzar a fronteira, ilegais estão sendo sequestrados por coiotes mexicanos – a polícia ainda não sabe se com ou sem a parceria dos coiotes brasileiros. A liberação ou autorização para cruzar a fronteira só acontece mediante um depósito feito por familiares que estão no Brasil.

GISELE LOEBLEIN - ZERO HORA

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