terça-feira, 17 de maio de 2011

As mídias sociais são nossas

As mídias sociais são nossas

Pedro Doria

RIO - No último dezembro, os servidores do Tumblr caíram pela primeira vez. É um processo comum em empresas que iniciam sua vida de internet. Em seus primeiros anos de vida, as quedas do Twitter viraram motivo de piada. Mas no caso do Tumblr foi duro. Vinte e quatro horas fora do ar. Milhões de usuários reclamando por toda a rede. E a culpa, mal sabiam eles, foi dos brasileiros.

Tumblr é, como o Twitter, conhecido como um sistema de microblogs. Mas funciona de forma completamente distinta. Sua marca não é o limite de caracteres. Na verdade, os posts podem ter qualquer tamanho, como num blog ordinário.

A primeira marca do Tumblr é a facilidade de uso. É coisa simples tirar uma foto com celular e transformá-la num post em alguns segundos. Criar posts e anexar multimídia é trivial em qualquer plataforma. Por isso mesmo, os tumblrs mais comuns são de fotos ou vídeos. Um bom tumblr se destaca pelo trabalho de edição. Uma série de fotografias sobre um mesmo tema, aspas, citações colhidas de uma mesma pessoa. Não é o post que vale, e sim o conjunto. Nos melhores, dá para passar horas rodando página a página.

Mas a facilidade de uso e sua vocação para multimídia não seriam suficientes para criar uma nova categoria já não coberta pelo termo blog. Tumblr é também uma rede social. Quem cria um tumblr próprio, assim como no Twitter, entra numa rede infinita de usuários. É possível seguir gente com tumblrs similares ou de interesse. É permitido republicar um post, como se fosse um retweet.

O resultado é um conjunto de blogs elegantes, singelos por simples, que conversam entre si. Um microblog diferente do Twitter, mas que também cria ao seu redor uma rede social. E os brasileiros já estão em segundo no ambiente.

Tumblr foi ao ar em 2007, um ano após o Twitter. Seu crescimento foi mais lento, concentrado nos EUA, no Reino Unido e no Japão. Hoje, há quase 19 milhões de tumblrs cadastrados, nos quais se publicam por volta de 30 milhões de posts diariamente.

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Em dezembro, de repente, o Brasil chegou a segundo na rede Tumblr. Aí, os servidores caíram
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Ponha-se a culpa da queda dos servidores no fuso horário. O pico de acesso ao Tumblr acontecia três vezes ao dia, alternadamente. Primeiro nos EUA, em sequência na Europa e por fim na Ásia. O acesso de brasileiros foi crescendo paulatinamente ao longo de 2010. Em dezembro, como que de um dia para o outro, virou febre. E o pico de acesso brasileiro culminou com o da Costa Leste americana. Os servidores não aguentaram o tranco, foram ao chão.

O Brasil é o número dois no Twitter desde 2008. Agora também no Tumblr. No Orkut, o crescimento brasileiro foi tão rápido e onipresente que os americanos abandonaram o sistema em meses. Brasileiros disputam com indianos quem cresce mais rapidamente no Facebook. Estamos em décimo primeiro, mas a demografia salta no ritmo de 250.000 a mais semanalmente.

Segundo o Ibope/Nielsen, 74 milhões de brasileiros tiveram acesso à internet no último trimestre de 2010. Quase 240 milhões de americanos estão online. Em março, segundo a revista "Forbes", havia 477 milhões de chineses na rede. São mais de 100 milhões de indianos. Os números relativos nas redes sociais e os absolutos que acessam a internet revelam algo sobre a alma brasileira. Somos nativos das mídias sociais. Nos sentimos imediatamente confortáveis nelas. São nossa aplicação favorita da web. Um percentual maior dos brasileiros conectados usam redes sociais mais do que qualquer outra nação.

John Perry Barlow, um dos fundadores da revista "Wired", letrista da banda de rock Grateful Dead e ideólogo da cultura livre digital, sugere que a sociabilidade é nosso traço cultural. Passeando pelas ruas do Rio acompanhado de cariocas, ele disse certa vez que o que mais o impressionava é como as pessoas se conheciam. Sempre encontramos gente. Talvez exista uma pista aí.

A perspectiva é que o Facebook seja a principal rede social brasileira ainda neste ano. E é bem possível que não demore muito para sermos a segunda população. Até lá, não custa anotar: a nova febre se chama Tumblr.

O GLOBO - Digital & Mídia

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