quarta-feira, 18 de maio de 2011

Padre mexicano é ameaçado de morte por defender imigrantes no México

De compleição pequena, magro, o Pe. Alejandro Solalinde me recebe em um hotel no centro da Cidade do México antes de participar de um encontro com defensores de direitos humanos de todo o país. Este sacerdote de 65 anos, que se define como “um homem de fé, apaixonado por Deus e pelo ser humano, e que vive tratando de seguir o que Jesus ensinou”, foi ameaçado de morte várias vezes nas últimas semanas por suas denúncias sobre o sequestro de centenas de migrantes centro-americanos por parte de delinquentes em conluio com autoridades.

Finalmente suas denúncias foram ouvidas: as Embaixadas dos países centro-americanos fizeram uma importante defesa de seus patriotas e os deputados assumiram o caso modificando a legislação.

A entrevista é de Pablo Romo e está publicada no sítio da revista espanhola Vida Nueva, 13-05-2011. A tradução é do Cepat.

Eis a entrevista.

Falou-se muito de você nas últimas semanas, de suas declarações sobre a defesa dos direitos humanos, mas como se você se autodefine?

Sou um rebelde. Me rebelo contra todas as injustiças, contra aqueles que destroem o ser humano. Jesus vive para isso. Ele é modelo para mim. Me identifico com Jesus, que foi um homem que se preparou ao longo de toda a sua vida para três anos de ministério público, e com isso bastou. Teve o momento culminante com seus discípulos, celebrando uma missa. Ele não viveu para o culto. Não exigiu a missa. Viveu do amor de Deus, do amor aos pecadores. Assim, desde a sua lógica, vejo que falta amor aos que sequestram os migrantes. Essas pessoas são mais vítimas que vitimadoras. Jesus preferiu os pecadores. Àqueles que sequestram, faltou ver... Não são maus, são cegos. Além disso, sou o homem mais rico do mundo: Deu me deu a fé, a graça e trabalho com os migrantes. E isso me faz muito feliz. Sou muito rico.

Como chegou a Oaxaca?

Fui ordenado sacerdote quase por milagre, pois minha formação era um pouco dissidente; apesar disso, me aceitaram. Dois anos depois de ordenado fui para Oaxaca, para participar de alguns dias de oração. No último dia, depois de algumas horas livres, fui ao mercado para comprar produtos de artesanato. Me comportei como um padre Amaro qualquer [refere-se ao filme mexicano que versa sobre um sacerdote distante da dor do povo]: folgado, burguês, acomodado... Gastei 6.000 pesos. Estava voltando com as bolsas carregadas e, de repente, vi uma mulher com seus filhos. Eu, bem perfumado, de cima, me detive a lhe perguntar pelo marido, pelas crianças e pela escola. A mulher indígena me observou de alto a baixo e, com isso, me respondeu. Fiquei envergonhado. “Alejandro, o que estás fazendo com a tua vida?!”, me perguntei.

Tentei chantagear a Deus oferecendo-lhe 30% do que obtinha com meu ministério, com 50%..., mas finalmente não pude mais. Deixei tudo o que tinha em Toluca, onde vivia do culto, bem, burguês, e fui para Oaxaca. Falei com o bispo D. Bartolomé Carrasco e pedi que me mandasse ao lugar mais pobre. Ele me respondeu: “Sim, como não, Alejandro: os pobres jamais deixarão um sacerdote morrer de fome”.

Agora querem matá-lo. Não é muito arriscado?

Sim, andam por aí os guarda-costas... Mas o importante é saber por que se vive. Somos feitos para o amor e, se não há amor, então para que se vive? Nunca fui tão feliz quanto agora.

Você se superexpôs na imprensa?

Creio que sim. Mas as pessoas têm que saber. Jesus disse: “A luz não foi feita para ficar escondida”. É preciso divulgar o que acontece com os migrantes: é um holocausto; são milhares de pessoas que sofrem, que são sequestradas, violadas, que sofrem extorsão. E graças a esta superexposição se está despertando a consciência.

O que significa para você o trabalho de defesa dos direitos dos migrantes?

Significa Páscoa. A morte está representada pelo sistema atual de justiça. A morte é a dor dos migrantes, uma cegueira, a corrupção, o holocausto dos migrantes assassinados... E vislumbro com muita esperança o passo seguinte, a Vida. A Vida vem depois: vivemos uma transição dolorosa, uma Páscoa. O país não pode continuar desse jeito, afundando-se. 2012 está aí e vamos começar a ver a luta pelo poder, que não é uma luta pelo serviço. Vão começar os choques e temos que desenvolver uma nova sensibilidade, onde o Espírito Santo atua com os pobres, com os que estão sofrendo. A história está sendo escrita aí, com eles.

Fonte: http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=43372

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