Karol Assunção *
Adital -
"Não se supera a miséria na individualidade". O comentário é de Joaquim de Melo, coordenador geral do Instituto Palmas, organização da sociedade civil que atua na gestão e difusão da prática da Economia Solidária (Ecosol). De acordo com ele, a principal contribuição da Ecosol no combate à pobreza e à miséria é no desenvolvimento de territórios e no incentivo da coletividade. Ontem (2), a presidenta Dilma Rousseff lançou o "Plano Brasil sem Miséria", que apresenta a economia solidária como uma das estratégias de combate à pobreza extrema.
O coordenador do Instituto Palmas revela que a economia solidária é uma importante ferramenta de combate à pobreza e à miséria porque contribui na organização e na participação social. De acordo com ele, a grande ideia da Ecosol é organizar as pessoas "socioprodutivamente", ou seja, incentivar a população a se articular não só voltada para a produção, mas também para a coletividade.
"A lógica da economia solidária é reforçar o coletivo e desenvolver territórios, é incentivar as pessoas a participar da comunidade e a ajudar no desenvolvimento local porque, quando o território se desenvolve, a pessoa cresce com mais facilidade. Diferente do capitalismo, que é a lógica da individualidade. E, sozinha, a pessoa não se desenvolve", explica.
E uma das estratégias de superação da pobreza extrema apresentadas ontem no Plano Brasil sem Miséria é justamente a economia solidária. Melo avalia a intenção do Plano como "louvável". Entretanto, ressalta que alguns pontos ainda precisam ser mais detalhados, como, no âmbito da Ecosol, quais as estratégias e as etapas que serão dadas para a realização do Plano. "Falta estratégia coletiva e organizada. Não se faz economia solidária de um dia para noite", comenta.
Na visão dele, ainda não se sabe de que "forma o programa vai organizar as pessoas para superar a pobreza". Para o coordenador do Instituto Palmas, é importante que se trabalhe com a organização social voltada para o coletivo, conforme a proposta da economia solidária.
Além disso, observa que "ainda não se sabe como será a estratégia da política de crédito [do Plano]". Para ele, é fundamental que os créditos cheguem às cooperativas de economia solidária, situação que poderá ser dificultada caso os recursos sejam enviados para os bancos. "Os bancos oficiais não sabem lidar com essa questão. O dinheiro ficaria perdido na burocracia e não chegaria aos mais pobres", revela.
Outro ponto do Plano destacado por Melo é o "Selo Verde", que consiste em pagar, trimestralmente, R$300 para famílias que promovam a conservação ambiental. O coordenador do Instituto Palmas considera a iniciativa "excelente", mas ressalta que as empresas também deveriam se comprometer "em pagar a conta da poluição".
Ele explica a consideração com base em uma iniciativa que acontece com dois bancos comunitários no Rio de Janeiro. De acordo com Joaquim de Melo, os bancos têm uma parceira com a empresa distribuidora de energia, a qual concede descontos nas contas de luz dos moradores que reduzirem o consumo. O benefício, segundo ele, é convertido em moeda social do bairro.
Plano Brasil sem Miséria
Lançado ontem pelo Governo Federal, o Plano Brasil sem Miséria atuará no combate à miséria a partir de três eixos: transferência de renda, inclusão produtiva e acesso a serviços públicos. Entre as estratégias de ação no eixo de inclusão produtiva para as áreas urbanas, estão: a geração de ocupação e renda através da economia solidária, do microcrédito, da qualificação profissional e do programa de microempreendedor individual.
De acordo com informações do Plano, Brasil ainda possui 16 milhões de pessoas vivendo na pobreza extrema, ou seja, pessoas cuja renda familiar, dividida entre os integrantes, é igual ou menor que R$70 mensais por pessoa. Desse total, a maioria, (53%) vive na área urbana.
Com informações de Agência Brasil
As matérias sobre Finanças Solidárias são produzidas com o apoio do Banco do Nordeste do Brasil (BNB).
* Jornalista da Adital
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