D. Demétrio Valentini
Neste ano o mês de junho se apresenta particularmente carregado de celebrações importantes. A começar pela sequência de domingos especiais, da Ascensão, em seguida Pentecostes, e depois o domingo da Santíssima Trindade. Tudo dentro de junho, que por conta própria apresenta as festas tradicionais de Santo Antonio, São João Batista e São Pedro.
Assim, ao lado dos domingos que já merecem o seu destaque, temos a proximidade de festas populares, recordando santos que continuam tendo uma incidência muito forte na religiosidade popular.
Acontece que neste ano a Páscoa veio bem mais tarde do costume. E assim a série de festas conclusivas do tempo pascal coincidiu com as festas tradicionais do mês de junho. E resultou nesta fartura de celebrações que nutrem bem nossa fé, e expressam bem nossos sentimentos.
Para entendermos a coerência dos calendários, de novo nos damos conta, a propósito deste festivo junho de 2011, como somos herdeiros de dois calendários, o judaico e o romano. Um tendo a semana como referência, e outro tendo como referência o mês.
Se aguçamos nossa curiosidade, podemos nos dar conta que as festas ligadas à semana, cadenciadas pelos domingos, são as mais antigas, e do ponto de vista da fé cristã, aquelas que nos apresentam o núcleo fundamental do mistério de Cristo, que a liturgia celebra em cada ano. Esta dinâmica semanal se expressa com evidência pelo tempo da quaresma, que inicia numa quarta-feira, pela semana santa que culmina com o domingo de páscoa, e que a partir daí se desdobra pelo ano inteiro.
Ao passo que as festas marcadas por dias dos meses, fazem parte de outra sequência, expressam celebrações posteriores, e denotam uma tradição surgida quando a civilização ocidental já tinha passado a adotar o calendário romano.
As primeiras, ligadas à semana, vêm carregadas de densidade teológica. As segundas, ligadas aos meses, vem caracterizadas de festejos populares, que também eles não deixam de expressar a forte incidência das verdades cristãs na vida religiosa do povo.
Em todo o caso, deixemos que o calendário nos prepare, cada no, um farto cardápio de celebrações, destinadas a motivar nova vida, e dar-lhe consistência cristã.
Mas esta vibração religiosa não deixa de inquietar. Seja pela exigência de autenticidade e pelo cuidado com o indispensável equilíbrio na maneira de expressar nossa alegria e nossa convivência fraterna.
Mas muito mais por um questionamento especial, que convém fazer. Somos um povo que sabe vibrar com intensidade nas festas religiosas, e isto é bom. Porém não somos capazes da mesma vibração quando se trata de participar de iniciativas destinadas a buscar soluções para problemas vitais, de ordem social, política, econômica, ambiental.
Teríamos fartos motivos para desencadearmos um mutirão irresistível para erradicar a miséria de nosso país, como agora nos propõe o governo. Mas infelizmente nossa participação política é de baixa intensidade.
Podemos comprovar esta constatação na maneira como tramitou a votação sobre o novo Código Florestal. Um tema de vital interesse nacional como este, ficou restrito a debates que infelizmente foram demasiado condicionados a posições ideológicas, que distorcem a realidade e toldam o horizonte do equilíbrio e do bom senso.
Como este, outros temas serão em breve colocados na ordem do dia, como a reforma política e a reforma tributária.
Que as festas juninas não nos alienem destes desafios que precisam ser assumidos com responsabilidade. Até porque as próprias festas populares perdem sua sustentabilidade, se perdermos o horizonte de um país justo para todos.
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