domingo, 5 de junho de 2011

Jejum para a reconciliação de Sucumbíos

López Marañón completa 11 dias em greve de fome. Carmelitas e Arautos foram expulsos do vicariato.

A reportagem é da agência Efe, 04-06-2011. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Dom Gonzalo López Marañón, que foi bispo por 40 anos de Sucumbíos, uma província na amazônica equatoriana na fronteira com a Colômbia, está há 11 dias sem comer nada para reivindicar a "reconciliação" na região, onde dois modelos de Igreja Católica e seus seguidores se enfrentam.

María Ángeles Vaca , porta-voz oficial da jornada de jejum e de oração por Dom López Marañón, já que o prelado não concede entrevistas, explicou à agência Efe que o bispo não voltará a comer até que haja "sinais visíveis de reconciliação" em Sucumbíos.

Durante 40 anos, os carmelitas dos pés descalços, ordem de López Marañón, construíram um modelo de Igreja social e comunitário, em que participavam todos os moradores de Sucumbíos por meio de uma Assembleia Diocesana, formada também por grupos leigos, explicou Vaca.

No entanto, quando López Marañón, de origem espanhola, se aposentou, o Vaticano designou como seu substituto para ocupar o vicariato Rafael Ibarguren, dos Arautos do Evangelho, que chegaram a Sucumbíos em outubro de 2010, "desconhecendo" a Assembleia Diocesana e implantando um modelo em que essa ordem "se assume como única instância de tomada de decisões", argumentou Vaca.

Desde então, os seguidores de ambas as ordens vivem em confronto em Sucumbíos, e suas diferenças chegaram até mesmo às vias de fato, razão pela qual, no final, a Conferência Episcopal Equatoriana expulsou ambas as ordens da região, e o vicariato passou para as mãos do bispo equatoriano Ángel Polivio Sánchez, que não pertence a nenhuma ordem.

Mesmo assim, as disputas entre os seguidores de ambos os modelos ainda continuam, razão pela qual López Marañón, com essa ação, pede, entre outras coisas, que se respeite a Assembleia Diocesana e que acabem as disputas entre os habitantes da província.

Vaca assinalou que, durante esses 11 dias, o bispo, de 77 anos, só se alimentou com água, mel puro e, há quatro dias, consome também um "hidratante" que o médico lhe receitou e que serve "para compensar seu corpo".

Nesse dia a dia em que López Marañón dorme em uma barraca em La Alameda, um parque central de Quito, ele intercala seus momentos de oração com a atenção a seus fiéis.

Pela manhã, ele se levanta, vai até a Capela de Belém, em frente ao parque, onde toma banho, bebe seu primeiro copo de água do dia e reza um pouco.

Depois, dá uma volta no parque rezando o terço, explicou Vaca, e esse é o único momento do dia em que o bispo está sozinho por pedido próprio.

A partir de então, começa a atender seus fiéis, que chegam diariamente de diferentes partes do país para ouvir seus conselhos e as orações emitidas em uma voz pausada e tranquila.

Índios, afro-descendentes, mulheres, organizações de direitos humanos e até o próprio presidente do Equador, Rafael Correa, se aproximaram para saudar o prelado.

Correa também interveio nesse conflito opondo-se ao fato de Ibarguren ocupar o vicariato de Sucumbíos e qualificou os arautos de "seita", algo que a Conferência Episcopal Equatoriana desmentiu.

À tarde, às 17h, López Marañón, de rosto simpático, protegendo as orelhas com um gorro marrom, reza a missa no estilo típico das igrejas comunitárias.

No início, suas orações se misturam com suas experiências, e ele lembra que "em Sucumbíos, éramos sacerdotes e companheiros", enquanto os participantes ouvem com olhar atento.

Vaca disse na missa de hoje só participaram 70 pessoas, mas a média diária é de 120 e, no final de semana passado, chegaram a 200.

Depois, os presentes, pessoas de todas as idades, principalmente humildes, expõem seus pensamentos, temores, pedidos, refletindo o modelo típico de igreja comunitária, onde todos participam da oração.

O jejum começa a fazer seus primeiros estragos no bispo. Vaca contou que ele perdeu quatro quilos, baixou a sua pressão arterial e lhe provocou muito cansaço, pois, de manhã, quando ele caminha, "começa a se sentir tonto".

López Marañón chegou há 40 anos à comunidade carmelita de Quito, e, segundo Vaca, o bispo sempre diz: "Nunca imaginei que, depois de 40 anos vivendo na Amazônia, voltaria para a mesma onde cheguei como sacerdote cheio de ilusões e agora chego como meio refugiado", depois de ser expulso de Sucumbíos.

http://www.ihu.unisinos.br/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=43976

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