Indecisão sobre testes de reatores atômicos expõe desilusão de países da União Europeia com o [br]futuro do bloco europeu
14 de maio de 2011 | 0h 00
O Estado de S.Paulo
BERLIM
Como vários outros assuntos nas últimas semanas, os testes de segurança dos 143 reatores nucleares em funcionamento na Europa têm provocado atrito em Bruxelas. A reunião entre Günther Oettinger, comissário de Energia da União Europeia (UE), e representantes dos 27 Estados-membros do bloco europeu terminou esta semana sem resultados concretos.
O debate sobre segurança nuclear, porém, é apenas um exemplo da atmosfera que reina dentro da UE, que tem visto o sentimento comunitário se desfazer rapidamente. A crise financeira dividiu o continente e o princípio do "eu primeiro" tornou-se o novo credo em Bruxelas.
Esta semana a Dinamarca fechou inesperadamente as suas fronteiras - aberta com a vigência do Acordo de Schengen, que permite viagens sem visto por todos os países da UE -, por causa de uma repentina onda de imigrantes fugindo do caos provocado pelas rebeliões árabes.
Daniel Cohn-Bendit, deputado no Parlamento Europeu, sugeriu que Copenhague sofra de imediato as consequências: "Os dinamarqueses têm de decidir: se querem seriamente fechar suas fronteiras, têm de renunciar ao Acordo de Schengen", afirmou. "Eles então terão de receber vistos quando viajar pela região - um para cada país".
Os eleitores finlandeses, por seu lado, apoiaram um partido populista de direita - os Verdadeiros Finlandeses -, numa recente eleição nacional, permitindo que ele entrasse no governo e torpedeasse o pacote de apoio financeiro da UE a Portugal. Até esta semana, tudo levava a crer que o partido nacionalista finlandês conseguiria colocar em dúvida o plano de socorro. Mas ele foi vencido, deixado de lado, não se juntando à votação pelo governo sobre o assunto.
Os europeus que adotaram o princípio do "eu primeiro" também ganharam espaço na Alemanha pelas mesmas razões. Depois de três pacotes de ajuda financeira desde que o euro cambaleou pela primeira vez - e centenas de bilhões de euros em empréstimos e ajudas à Grécia, Irlanda e Portugal - os oponentes da chanceler Angela Merkel temem que Berlim possa se transformar na fonte pagadora de uma zona do euro cada vez mais sem esperança.
Risco em Berlim. A ameaça é real no caso de Merkel. Um total de 19 deputados da coalizão da chanceler - formada pelo partido União Democrática do Centro (CDU), a União Social Cristã (CSU) e o Partido Liberal (FDP) - já teriam afirmado que não estão mais disposto a apoiar os planos para salvar o euro.
Mas a coalizão de governo tem apenas uma vantagem de 20 cadeiras sobre o grupo formado pelos social-democratas, verdes e Partido de Esquerda.
Se mais políticos da CDU, CSU e FDP decidirem desertar, a maioria de Merkel para salvar o euro vai se esfacelar e ela vai depender dos votos da oposição para aprovar suas medidas.
O que, naturalmente, seria arriscado. "A Alemanha é a mais importante âncora da Europa", diz Friedrich Heinemann, do Centro de Pesquisa Econômica Europeia. "O mecanismo de crise (para o euro) inteiro vai se manter ou desaparecer dependendo de a Alemanha apoiar as políticas de socorro da UE". As complicações envolvendo esse mecanismo de crise provocariam ondas de choque nos mercados financeiros.
O experimento europeu vem mostrando graves sinais de tensão, não só entre os políticos. Os eurocéticos em Berlim e Bruxelas estão apenas reagindo ao sentimento das ruas.
Uma pesquisa do Forsa Institute, da Alemanha, concluiu que os alemães aprovam determinadas posições avançadas pelos populistas de direita. Na pesquisa, 30% dos entrevistados disseram desejar uma "Alemanha independente, sem o euro, onde a UE não terá nenhum domínio legal". / DER SPIEGEL, TRADUÇÃO DE TEREZINHA MARTINO
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