segunda-feira, 2 de maio de 2011

Projeto Joana combate o tráfico e a violência doméstica contra brasileiras na Holanda

Camila Queiroz *

Adital -
Era 2006. A jovem brasileira Joana havia sido traficada para a Holanda e trabalhava como dançarina numa boate. Trancafiada no local, Joana morreu num incêndio. Em homenagem a ela e para enfrentar o tráfico e a violência doméstica contra brasileiras na Holanda, a ONG Casa Brasil Holanda desenvolve o projeto Joana há três anos, com o patrocínio da agência holandesa de cooperação internacional, Cordaid.
No Brasil, o projeto está sendo apresentado em várias cidades pela presidente da Casa Brasil Holanda, Mara Parrela, numa jornada que começou ontem (26) e vai até o dia cinco de maio. Ela promove rodas de conversa sobre o tema e exibe o vídeo da campanha Brasileira não é souvenir exótico, lançado em 2009, com depoimentos de brasileiras que vivem na Holanda.


Mara explica que o objetivo do projeto é auxiliar as minorias exploradas. Ela alerta que não apenas brasileiras, mas também homens são explorados na Holanda. "Em relação à América Latina, o Brasil está sempre no topo dos que mandam imigrantes para a Holanda", informa.

Dentre os motivos para a imigração, ela apontou, em primeiro lugar, o "romantismo". "Eu recebi uma informação do consulado brasileiro de que a média de casamentos de brasileiras com holandeses é de sete por mês. É muita coisa", comenta. Em segundo lugar vem o sonho de uma vida melhor no exterior, com um emprego supostamente mais rentável.

Com isso, a violência doméstica seria o maior risco atualmente, apresentando um número crescente de casos nos últimos três anos. "Hoje, muitas brasileiras estão casadas, têm filhos. A mulher fica vulnerável: está num país onde não conhece ninguém, tem um filho com o marido. Quando sofre a violência, passa por humilhações para não se separar da criança", conta. Devido ao entendimento diferente da lei holandesa e da brasileira sobre a guarda dos filhos, muitas mães são forçadas a permanecer no país.

No tocante ao tráfico de brasileiros, Mara afirma que houve uma intensificação do na década de 1990, a partir da globalização, da internet e dos os vôos charters. Entretanto, houve uma diminuição do crime, recentemente. Ela citou os dados da organização holandesa CoMensha, que registrou duas ocorrências neste ano. "Mas a gente acha que pode haver mais casos", advertiu, explicando que, por vezes, as denúncias de tráfico não são feitas.

Caso a mulher deseje, uma das maneiras de retornar ao Brasil é participar do programa Retorno sob medida. Promovido pelo parlamento europeu, concede microcrédito às mulheres que queiram voltar ao país, porém, elas devem ter um projeto para empreender na terra natal.

Mara aproveita a vinda ao Brasil para visitar mulheres que conseguiram retornar ao país com a ajuda da ONG e também recolhe depoimentos para o vídeo da próxima campanha do projeto, Caminho de volta, sobre o retorno (voluntário ou não) após uma experiência no exterior diferente da esperada.

Para assistir ao vídeo da campanha Brasileira não é souvenir exótico, acesse: http://www.casabrasilholanda.nl/


Casa Brasil Holanda


Criada por brasileiros em 1997, com sede na cidade de Dordrecht, a Casa Brasil Holanda seria um espaço de integração entre brasileiros que moram nos Países Baixos. Porém, em pouco tempo transformou-se num espaço que, além da integração, propicia apoio psicológico e jurídico aos brasileiros, por meio do trabalho de voluntários.

A ONG também trabalha em parceria com a Organização Internacional das Migrações (OIM), que financia a volta de repatriados - dentre os quais muitos brasileiros - e mantém parceria com o Consulado Brasileiro.

Mara Parrela, membro-fundadora, está há 15 anos na Holanda e lançou o livro Aqui e lá (Sá Editora, 2008) sobre sua vivência como imigrante.


* Jornalista da ADITAL

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