quarta-feira, 30 de março de 2011

O golpe de Estado, seus herdeiros e a criminalização do protesto social

Miriam Miranda
Coordenadora da Ofraneh
Adital
Tradução: ADITAL

Ontem (28), fui capturada de forma seletiva por agentes do Ministério de Segurança em meio a um protesto nas imediações das comunidades garífuna de Triunfo de La Cruz. No processo de ser presa, dispararam sobre mim várias bombas lacrimogêneas no abdome, causando-me queimaduras no estômago; posteriormente, fui arrastada pelo asfalto ao mesmo tempo em que era golpeada pelos policiais, que proferiam insultos raciais.

A operação, dirigida pelo Sub-Comissário Víctor Sánchez Bonilla, que, em meio à multidão, me assinalou para os seus subalternos para que eu fosse a única a ser capturada demonstra a estratégia por parte das forças repressoras de focalizar a dirigentes como objetivos militares.

Cabe mencionar que, após ser capturada, me levaram diretamente a uma cela da prisão de Tela, sem fazer requerimento, sem atenção médica às queimaduras e aos efeitos da intoxicação que sofri por inalar o gás das bombas lacrimogêneas. Somente duas horas e meia após ter sido presa leram meus direitos, sem que dissessem porque me acusavam. Posteriormente, a Juiz Executora do plantão me informou que eu era acusada de sedição.

Em Honduras, continua o caos no qual se sumiu o país após o golpe de Estado de 2009, perpetrado pelo poder judicial, pelo Legislativo e pelas Forças Armadas, sob as instruções da direita estadunidense e, lógico, pelo Pentágono.

Apesar dos sorrisos plásticos dos funcionários estatais e sua avidez em conseguir o reconhecimento internacional, a criminalização do protesto social tem se aguçado com o regime de Porfirio Lobo, o que, de forma sinistra, desata uma campanha de descrédito contra sua administração por parte das organizações de direitos humanos.

Graças à solidariedade e pressão internacional, da comunidade Garífuna e de hondurenhxs conscientes da crise existente, me foi concedida a liberdade "provisória”. Os agentes da justiça de Honduras, diante das pressões, viram-se obrigados a cumprir seu dever. No entanto, nas prisões isoladas do país estão confinados inúmeros presos políticos, como é o caso dos 18 professores que, nesse momento, guardam prisão na capital da República.

O recrudescimento da violência contra a resistência popular é parte da cátedra de segurança ditada pelo sátrapa colombiano Álvaro Uribe, assessor para a repressão, e que, há poucas semanas ditou uma conferência em El Salvador sobre a "segurança democrática”, da qual participaram o Sr. Porfirio Lobo e seu delfim Óscar Álvarez. A colombianização da América Central é reafirmada pela Iniciativa Mérida e a militarização que sofremos.

Ao som do ano internacional dos ‘afrodescendentes’, os garífunas de Honduras sofremos uma acelerada expulsão de nossos territórios que habitamos há 214 anos. Enquanto isso, algumas organizações de afrodireita se aliaram ao regime repressor e pretendem festejar os despojos territoriais que estão se dando tanto na África quanto na América Latina, através de uma suposta Cúpula Mundial de Afrodescendentes, que serve de instrumento e maquiagem à violência do atual governo e a suas políticas neoliberais.

A partir da Assembleia dos Povos da Terra e do Mar(*), realizada em fevereiro de 2011, na comunidade de Durugubuti Beibe, os povos indígenas e negros de Honduras reafirmamos a defesa de nossos territórios, o direito à autonomia, o respeito ao direito à consulta e suspender de imediato a construção das represas hidrelétricas no rio Patuca: sentença de morte pra o povo Tawahka e para o país.

Muitíssimas graças de novo à solidariedade nacional e internacional e ao movimento de todas e todos; o que aconteceu ontem demonstra que as ações a tempo alcançam resultados positivos.

Por uma Honduras Livre, pluricultural, democrática, participativa, antimilitarista, antirracista e antipatriarcal.

Assembleia Nacional Constituinte já!

La Ceiba, Março 29 de 2011.

(*) Leia em espanhol, a Declaração da Assembleia dos Povos da Terra e do Mar.

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