quarta-feira, 23 de março de 2011

A escola e os desafios da hora presente

J. B. Libanio
Padre jesuíta, escritor e teólogo. Ensina na Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), em Belo Horizonte, e é vice-pároco em Vespasiano
Adital
Atravessa a existência e a história humana tensão constante e difícil de encontrar equilíbrio. O ser humano estrutura-se a partir de duas dimensões fundamentais. O processo evolutivo atingiu no ser humano patamar irreversível com a consciência, razão e liberdade. Nunca mais o primata homem regredirá à inconsciência simiesca. Todo o processo humano doravante caminhará na direção de criar-lhe condições para desenvolver a autoconsciência, a inteligência, a afetividade, as relações pessoais. Essa dimensão permanece definitiva.

Nessa perspectiva, a escola possui finalidade incontornável de educar as crianças, independentemente de tempo e geografia. Enquanto houver criança, a escola conservará a mesma finalidade. Não entra em questão aboli-la. Tarefa de sempre.

No entanto, os tempos se modificam. E a maneira de realizar a mesma missão assume configurações diferentes. No permanente da educação e da formação necessárias para as crianças, existem as contingências de cada época. O difícil consiste em não abrir mão do fundamental da educação, sendo flexível quanto às circunstâncias transitórias.

Tomemos os quatro pontos básicos: despertar a autoconsciência, desenvolver a inteligência, trabalhar a afetividade e promover a capacidade de relação.

A autoconsciência implica a presença a si mesmo provocada pela interferência de outro. Essa relação permanente constitutiva assume matizes novos na atual cultura. Requer-se do outro; postura de compreensão e empatia, em lugar do peso autoritativo de ontem. Nisso consiste a mudança. O professor não se comporta como alguém de fora que se impõe, mas como quem se aproxima do aluno, acorda-lhe as potencialidades, lapida-lhe a rusticidade, situa-o em face dos limites necessários da vida social e incentiva-o a superar-se a cada momento em direção a ideal proposto.

A inteligência cresce à medida que amplia a posse de conhecimentos, a capacidade de assumi-los criticamente e de organizá-los num interior de um arcabouço bem estruturado. Este se constroi, ao traçar o percurso histórico do que se aprende e ao perceber a lógica entre os elementos conhecidos. O papel do professor consiste em acompanhar o aluno nessa tarefa constante com presença inteligente e compreensiva.

A afetividade se educa no confronto com os gostos e desejos. A cultura pós-moderna equivoca-se quando segue o princípio dominante de deixar a criança fazer o de que gosta. Ouve-se por todas as partes essa afirmação. Ledo equívoco. A afetividade que segue sempre o próprio gosto se torna animal indômito. O princípio do fazer se encontra no bem, na verdade, na beleza objetivas. Fazemos o que se nos impõe pelo valor. Motivados pela ética, então vem o trabalho de despertar o desejo e o prazer dessa realidade. Aí sim, vale gostar do que se faz, mas não fazer só porque se gosta.

Última palavra: somos as nossas relações. A escola existe para fomentar relações sadias dos jovens entre si, com adultos, com a natureza e com a Transcendência.

[De J.B.Libanio, leiam também "AS LÓGICAS DAS CIDADES”, e visitem o site www.jblibanio.com.br].

Nenhum comentário:

Postar um comentário