quarta-feira, 23 de março de 2011

Planeta Terra: consensos

Dom Demétrio Valentini
Bispo de Jales (SP) e Presidente da Cáritas Brasileira
Adital
A Campanha da Fraternidade deste ano está nos motivando para conferir a vida no planeta terra, e auscultar os sinais de alerta que está emitindo.

Como já pudemos constatar, o enfoque central da campanha deste ano está na constatação da imprescindível função do planeta terra para a existência da vida. A vida depende do planeta. As condições de vida do planeta ditam as possibilidades e as condições de vida dos seres vivos que habitam o planeta.

A Campanha aborda o tema pelo caminho dos sintomas, apontando com clareza dois: o aquecimento global e as mudanças climáticas. É compreensível que assim proceda, pois a vida é tão complexa que fica difícil sua abordagem direta. Os sintomas têm a vantagem de captar o que merece mais atenção. Como o médico que se debruça com carinho para auscultar os sinais vitais do paciente, assim somos chamados a fazer diante dos sinais de alerta emitidos pelo planeta.

Ambos suscitam apreensões, e levantam legítimas interrogações, cujas respostas devemos procurar, na medida de nosso alcance.

Mesmo que interrogações continuem, existe um leque de constatações e de indicações, em torno das quais dá para tecer um amplo consenso, muito importante para uma ação articulada e eficaz.

O despertar da consciência ecológica está nos levando a perceber a validade e a sabedoria da primeira recomendação feita à humanidade, de acordo com a linguagem figurativa da Bíblia. Segundo ela, Deus confiou a criação à humanidade, para que a cuidasse e cultivasse.

É muito importante captar bem o significado real desta linguagem figurada. Pois da correta compreensão desta passagem bíblica vai depender a atitude adequada que devemos ter com a natureza.

Pode ser que tenhamos assimilado esta linguagem de maneira equivocada, como se Deus tivesse entregue a criação ao homem para "dominar e explorar a terra”, sem critério, e sem respeito por suas condições de vida.

Em vista desta interpretação equivocada, alguns chegam até a acusar a fé cristã de ter sido a patrocinadora da mentalidade predatória que caracterizou a revolução industrial. Urge explicitar a interpretação verdadeira desta importante passagem bíblica.

Diante da atitude predatória do modelo de desenvolvimento decorrente da revolução industrial, vai se firmando a convicção de que os recursos do planeta são limitados, e precisam ser usados com cuidado e parcimônia, para não desperdiçá-los.

Assim, será preciso cada vez mais superar a cultura do consumismo e do desperdício, pela sobriedade e consciência da preciosidade dos recursos vitais que o planeta nos oferece.

Desta atitude, impregnada de fé e de responsabilidade humana, decorrem muitas posturas concretas, que esta campanha pode incentivar, se estamos dispostos a acolher seus apelos e a nos organizar pessoal e comunitariamente.

São diversas as frentes de ação ecológica que podem nos levar a uma cultura de preservação das condições de vida do planeta. Os cuidados com a água, por sua escassez e preciosidade, a pureza do ar, o cultivo adequado do solo, as medidas de preservação do meio ambiente, tudo isto pode se constituir em motivações consistentes a sustentar uma nova mentalidade.

Sejam como forem as condições do planeta, cuidaremos dele, e saberemos sintonizar nossas atitudes com a dinâmica de vida que rege sua natureza.

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